Cinema: Marginal

Rogério Sganzerla e Júlio Bressane deram irreverência ao cinema nacional

Cinema Marginal

O Cinema Marginal era o noviço irreverente do Cinema Novo. Desobrigado de engajamentos, se dava ao direito de fazer gracinhas, e com direito adquirido pela inventiva criatividade de seus diretores. Muito mais ligados ao cinema na essência do que os primos políticos, o cinema que construíram surgiu justamente dessa dissidência provocada por rivalidades conceituais e estéticas. Não sendo de todo discordante nem pretendendo tal mérito, buscou referências nas assumidas influências estrangeiras e se esgueirou de qualquer tentativa pretensiosa de produzir uma arte pura, nova.

Então foram marginalizados e dispararam críticas ferozes para todos os lados, com um toque irônico de cinismo que é sempre a melhor maneira de ofender a realidade: mostrá-la em sua mediocridade crua com graça. Júlio Bressane, Rogério Sganzerla, Silvério Trevisan e Ozualdo Candeias exibiram a desesperança de personagens complexos, inseridos em contextos confusos e disformes, com doses acachapantes de paródias aglutinadoras. Ficaram na margem do chamado “circuito do cinema brasileiro”. Ainda assim, viram de perto o mar. Melhor do que muitos outros que se afundaram em suas ondas.

O Filme: O Bandido da Luz Vermelha

O banditismo do Luz Vermelha era romântico e sedutor. E principalmente, romantizado. Essa estratégia de se glamourizar o vilão no cinema nacional já havia sido testada com sucesso muitas outras vezes, mas não com a ousadia estética que propunha Sganzerla. O filme começa em ritmo de alucinante perseguição policial típica dos filmes americanos e do estilo noir de se fazer cinema. Com um toque na dose certa de cinismo enfático. Logo na primeira cena os personagens são apresentados sem que se tenha tempo hábil para conhecê-los ou identificá-los numa próxima cena. Tudo através do rádio. Tudo faz parte do clima em que é ambientada a tela de cinema; transformada em abrigo fúnebre das loucuras do Luz Vermelha, que toma conta do espetáculo coadjuvado por políticos corruptos, vítimas apaixonadas e policiais bonachões. O fim do bandido é o mesmo de quem o procura. A gargalhada é o episódio final do filme que acusa quem pretende policiar.

O Ícone: Júlio Bressane

Júlio Bressane fundou com Rogério Sganzerla a Belair Filmes, em 1970, com a qual conseguiram rodar seis filmes no espaço de seis meses. O cineasta carioca buscou desde cedo um contraponto em suas obras e passou a praticar o cinema marginal como forma de advertência à sensibilidade, a observação, o silêncio, a sombra, a percepção. “Matou a família e foi ao cinema” em 1969 e consagrou-se como instrumentista do gênero. Em suas correlações de peculiar sintonia com um universo incompreensível e diverso, expande-se sua capacidade de produzir relatos artísticos entremeados por considerações conceituais. É a força da sensação que busca Júlio Bressane. A vaia para a Cleópatra Alessandra Negrini é sua intervenção definitiva no ramo da história cinematográfica brasileira.

diretor brasileiro

Raphael Vidigal

Produzido para o blog Brasil na Cena, matéria de Cinema ministrada na PUC Minas por Robertson Mayrink.

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4 Comentários

  • Amado,vc quando criança ,já era um ponto de luz,hoje irradia além da luz, o calor, a força e a energia. Muito obrigada,também aprendi muito com vc.Bjos!

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  • Seu site é pura cultura, e tão agradável a leitura…
    Também estou aprendendo muito com vc.
    Parabéns, Raphael! Beijos…

    Resposta
  • Agradeço de coração a Maria José, Luísa e Fátima pelas palavras de carinho e retribuo com iguais sentimentos. Beijos!

    Resposta

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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