Show: O Terço

Banda alavanca viagens psicodélicas no Palácio das Artes 

Show rock

Retomamos a nave de 1974, o disco voador cibernético dispara guitarras e teclados, fuzis anunciam canhões de bateria, bombas disparam o baixo. Tudo sem parcimônia, com paz, amor e cerimonial digno de batas linhadas e limadas na transição do espacial para o espaço.

Círculos contínuos transcendem para uma mulher com rosto de gato, cauda de sapatilha e adereços mais de estranha bailarina. Rodopia na pia no ralo da cozinha intacto, recheado por rodelas de limão e laranja. Cítrica caipirinha a circular (de novo) pela cidade grande, na orla, no berço, no braço do grande irmão a lhe puxar pelo imã do chamado: um triângulo na testa.

Cubo mágico translúcido lúdico laço. Intermitentemente Luz e Escuro, Criaturas da Noite, eu escuto druidas roçando foices em caules de plantas, cogumelos intactos, com a cabeça e a cebola coloridas por pintas redondas e crepusculares. Mel e chá e chã e chão, ergo-me convicto de alcançar o entorno, mas somente teto tateio crédulo o tatu na toca do diabo.

Casa Encantada: de duende e fadas, cães e gnomos, leões e cobras. Mitologias ardem. Na porta um esperto atento senhor solfejo anuncia a entrada de pardais, casais de vozes que ao sinal assoviam em diletante harmonia. Música melodiosa minas gerais.

Cerveja cigarro cama. Missão científica. Catapultar as bruxas e suas risadas fúnebres, funéreas, divertidas. Mercúrio para curar machucado. Poças e poços. Alças e alçapões. Sob a maré extrema, malina, poema: são ‘Sentinelas do abismo’, a refratar nossos gostos. Passarinhos viram estrelas na Via Láctea pirada, no Universo ocidental maleado, no Oriente brasileiro minerado.

Rompe a casca do ovo pintado por Salvador Dalí, mãos de alicate esmalte adestram contrastes, lupas, pulgas e sol e dão. Ruminam no pasto passatempos enovelados em paralelepípedo ágil. Rituais cabais e cabalísticos canibalizando espécimes logros. Uivos maléficos de Fênix. Fênix ri? Sorri. Apito, pruridos, afronta. Anjos e demônios.

William Blake desce do céu, desencapa fios larga a capa negra sobre o rosto branco dos quatro rapazes: Flávio Venturini, Sérgio Hinds, Sérgio Magrão e o convidado especial Sérgio Mello. Com menção honrosa a Moreno. Ponto final. Plástico cartolina gongo bolha. Tremeluzindo ao sino capitólio. Capta asa bruscas. Rezemos todos ‘O Terço’, entre o religioso e o profano.

banda progressiva

Raphael Vidigal

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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