3 músicas políticas de Martinho da Vila

Martinho da Vila interpreta sucessos em show

*por Raphael Vidigal

“Dinheiro, pra quê dinheiro?
Se ela, não me dá bola,
Em casa de batuqueiro,
Só quem fala alto é viola…” Martinho da Vila

Martinho da Vila exibe trajetória singular na música brasileira por ter, no meio do samba – a mais tradicional manifestação popular brasileira – costurado estilo facilmente identificado à sua pessoa, tanto na maneira de viver como na de pronunciar-se. Alterando o andamento do ritmo, puxando-o “para trás”, em suas próprias palavras, concedeu ao gênero toda a malemolência e ginga características do povo, trazidas de Angola por seus ancestrais. Com esta mesma calma, Martinho jamais deixou de posicionar-se em relação à suas crenças musicais, religiosas e, consequentemente, políticas. É sem dúvida um dos artistas que mais contribuiu para a questão, seja para falar de dinheiro, racismo e os mais diversos preconceitos de gênero e sexualidade. Apreciar a música de Martinho da Vila, além de divertimento, também é aula de história.

Pra quê dinheiro? (samba, 1969) – Martinho da Vila
Martinho da Vila provava, em 1969, que o assunto dinheiro não é unânime. Desmentindo a tese de que com dinheiro a vida é mais fácil e as conquistas vêm a reboque, o sambista relata o caso da mulher que se apaixonou pelos encantos de um bom tocador de viola e desprezou aquele que tinha dinheiro. Afinal de contas “em casa de batuqueiro/só quem fala alto é viola” deixa claro em certa altura da letra. A música foi regravada pela dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó e pelo cantor Jair Rodrigues, comprovando o poder de identificação com várias camadas da nossa sociedade. Ou seja, a dimensão econômica da existência não necessariamente amplia ou anula as demais, como pensam alguns.

Meu Homem [Carta a Nelson Mandela] (samba, 1988) – Martinho da Vila
Com o acompanhamento de Raphael Rabello no violão de sete cordas, Martinho da Vila registrou em 1990, no álbum “Martinho da Vida”, a composição de sua autoria que já havia sido lançada dois anos antes, em 1988, por Beth Carvalho, esta no LP “Alma do Brasil”. Na canção o sambista descreve um sonho em que desfeito de preconceitos os ensinamentos do líder sul-africano, Nelson Mandela, são seguidos, até que no final lembra-se dos tristes tempos do período Apartheid e roga para que um dia os sonhos sejam somente doces. “Meu Homem [Carta a Nelson Mandela]” combina em seu percurso melancolia e sensualidade, tanto na interpretação de Martinho da Vila quanto na de Beth Carvalho.

Festa de Caboclo (samba, 2001) – Martinho da Vila
Martinho da Vila foi buscar em suas raízes angolanas a inspiração para trabalhos mais recentes. Observador arguto do cotidiano, cronista dos nossos costumes em músicas, o segundo compositor mais famoso de Vila Isabel sempre aliou o humor às suas críticas sociais, como no exemplo de “Pequeno Burguês” que, sem se dirigir diretamente ao negro, mostra a triste situação do pobre no país, que invariavelmente possui a cor dos escravos que, segundo Joaquim Nabuco, ainda determina nossa característica nacional. “Festa de Caboclo” é celebrada no terreiro de Martinho da Vila, que estende a todos o convite, sem distinção de gênero, cor, ou classe. A união que a música aspira.

O cantor Martinho da Vila em mais uma apresentação de samba

Fotos: Edu Defferrari; e Divulgação, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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