“A borboleta desfruta/De bem pouca simpatia,
Embora com louvor citada/Na entomologia.
Por viajar livremente/E vestir uma bata apropriada,
Os circunspectos têm certeza/De que é uma devassa.” Emily Dickinson
Na paleta meridional
De Van Gogh
Cabe o faminto
E o rocambole
Afinal era um holandês
Que bebeu
A luz o absinto e a prostituta
De um só gole.
Pecado
Deixe-me voltar a ser criança
Que a converta intimamente numa rosa
Eximida dos pecados de outra musa
Pois que a dele é do passado
E a minha é pura
Pois que delas pus-me outro
E agora volto
A ser criança
Deixe-me voltar a ser tua rosa
Que a convença externamente numa dança
entre a anáfora e a anágua
o sibilo de um lábio
escapa
Flauta de pan
Faunos e fadas
música
Depois comer umas
uvas
Nêspera
Não é que eu
Não queira o feijão
Na mesa
O frango com quiabo
E a rapadura.
É que a essa altura
A vida pede um pouco mais de viço
Sushi, yoga
E aquela fruta.
Até se mostram os dentes
A gengiva
E a garganta.
Na cadeira de balanço
ou na cadeira de dentista
A boca está aberta.
E ecoam gritos
Poemas de Raphael Vidigal.
Ilustrações, feitas especialmente para essa coluna, por Cristiano Bistene.