“Alma é o nome do lugar onde se encontram esses pedaços perdidos de nós mesmos. São partes do nosso corpo como as pernas, os braços, o coração. Circulam em nosso sangue, estão misturadas com os nossos músculos. Quando elas aparecem o corpo se comove, ri, chora…” Rubem Alves
Foi na ausência de Fernando Faro que Antônio Abujamra ganhou a incumbência de entrevistar Maysa para o programa “Estudos”, da TV Cultura, fortemente influenciado pelo mais que clássico “Ensaio”. “Baixo”, como era conhecido o sergipano de Aracaju criado em Salvador, na Bahia, teve uma reunião de última hora e passou o bastão para o âncora do também marcante “Provocações”. O resultado foi uma das mais fortes entrevistas já concedidas por uma artista, muito pelo temperamento de Maysa e o despojamento oferecido pela atração. Esse episódio, no entanto, em que a participação de Faro se deu em forma de ausência é fundamental na compreensão da ética e dos valores do jornalista que visava alcançar, sobretudo, a essência, o sentido.
Minimalista, de modos orientais, concebeu um programa de entrevistas em que não aparecia o interlocutor, com a finalidade de dispensar qualquer redundância. O foco, expresso em forma de close sobre os convidados, estava no conteúdo, qual seja, o que dizem os olhos, a boca, a respiração e principalmente a música, palavras em forma de som, daquelas pessoas que, através da arte procuravam comunicar algo, transmitir sentimentos e sensações advindos das experiências e dos contatos que estabeleceram em sua curta ou longa existência. Por lá passaram Elis Regina, Céu, Nelson Cavaquinho, Milton Nascimento, Elza Soares, Racionais MC´s, o panteão da música popular brasileira que só se distinguiam, para Faro, pela diversidade, e nunca pelo estilo; tendo assim costurado um mosaico essencial sobre sentidos.
Raphael Vidigal
Imagens: Arquivo e Divulgação. Na segunda foto, Faro em companhia de João do Vale, Fagner e Chico Buarque.