*por Raphael Vidigal Aroeira
“manchados por esses brilhos úmidos, mudavam de cor com a alacridade de camaleões:” Truman Capote
Originalidade e proposição são paradigmas fundamentais para a arte, desde o princípio. David Bowie os cumpriu com rigor e teve todo mérito nessa honra. Andrógino, criou personagens para a música, o mais emblemático de todos eles Ziggy Stardust, com o qual abordava a vida interplanetária, e atuou como protagonista e com destaque também no cinema, nos filmes “Fome de Viver”, “Furyo, em nome da Honra”, “Labirinto”, em peça teatral da Broadway, “O Homem Elefante”, e mais uma infinidade. De fato, ficar parado não era para Bowie. Daí a dificuldade em sublinhá-lo, traçar um limite para o artista. Logo, é padrão associá-lo genericamente ao pop, gênero que, por método e na definição, apreende a vários. Ou como bem dito por um dos vértices do nosso Tropicalismo, o bom baiano Gilberto Gil: “Ser pop é querer gostar de tudo”.
Bowie não caiu nessa armadilha porque sabia o que estava fazendo, mas preparou várias delas para seus aliados e opositores. Bissexual assumido, ou por performance, misturou, à primeira camada do olhar, vida e obra, sempre mantendo a distância necessária para não perder nem a crítica nem a elegância. Representou de maneira brechtiana para os holofotes, e o esmero com figurinos e cenários que objetivava sua ligação com as artes plásticas o prova. Ninguém mais apropriado a interpretar o ídolo Andy Warhol na tela grande, o que aconteceu de fato. Combatente de qualquer dogmatismo e a favor da expressividade humana em toda sua liberdade, David foi um ícone da arte que não se ateve a tempo ou espaço. Trouxe a ética do futuro, cuja principal marca foi a de recriá-las dia e noite. Qual um camaleão incapturável.
Fotos: Arquivo e Divulgação.