“o céu era açúc ar lu minoso
comestível vivos cravos tímidos
limões verdes frio s choc olate
s. so b, uma lo co mo tiva c uspi
ndo vi o letas” e. e. cummings
Pecado e virtude são os dois lados da mesma moeda, diria o outro. Esse pecado do teatro é o de não deixar registros, senão na memória e no coração dos que o viram naquele instante, donde reside também sua mágica. Bel Garcia, uma das fundadoras da “Cia dos Atores”, tida e havida por sua predileção pelo experimental, mas que nem por isso deixou de cativar e comover plateias; foi uma atriz que se entregou com força e gana ao teatro. Atuou em papéis que destacavam um lado cáustico e foi, principalmente, a Ofélia de “Ensaio.Hamlet”.
Como diretora alternou bons e maus momentos. Nessa seara, dedicou-se a espetáculos que se valiam dos textos de autores consagrados como a poetisa Hilda Hilst e o dramaturgo Oscar Wilde, com abordagens diametralmente opostas. A presença de Bel Garcia, em seu rosto que guarda a profundidade do gesto de Modigliani, despertou, quase sempre, sentimentos fortes, fossem de acolhimento ou de rejeição, aos quais soube conferir, sobretudo, identificação e até certo poder de intimidade, inclusive junto à loucura e sordidez humana.
Para quem não a assistiu nos palcos de teatro da vida os filmes trazem o registro de uma atriz pungente, que se mesclava à personagem, em especial no extraordinário “Filme de Amor”, de Júlio Bressane, lançado e premiado em 2003.
Raphael Vidigal
Fotos: Divulgação e arquivo pessoal, respectivamente.