“Noite ao luar, todos se encontrarão
Minas, a bela dama, abre-se ao violão
Entre homens e mulheres, seresta e comunhão
Tudo é sorrir” Raphael Vidigal & André Figueiredo
Meus encontros com o mestre Mozart foram sempre breves, suaves, porém marcantes. No seu caso, era impossível dissociar a música do homem, o instrumento do coração. Mozart tocava a vida com gentileza, como tocava seu violão. Não é por acaso que nas rodas de choro era conhecida sua predileção pela música “Simplicidade”, de Jacob do Bandolim; esta palavra muitas vezes esvaziada de seu sentido, nele encontrava a tradução perfeita. O legado maior de mestre Mozart Secundino, por mais que possa parecer o contrário, não foram as músicas que tocou, a maneira como as interpretou, mas os amigos que tantas e tantas vezes ao seu redor e por sua conta se reuniram.
Nosso convívio se tornou mais constante nos últimos meses, quando produzi e assinei as letras, em parcerias com André Figueiredo; do projeto “Waldir Silva em Letra & Música”. Mestre Mozart nos brindou com a participação, a bordo de seu inseparável violão de 6 cordas, na música “Minas ao Luar”, que Waldir sonhava em ver como prefixo musical da atração, e foi lindamente interpretada por Carla Villar, na companhia luxuosa dos músicos da banda “Toca de Tatu” e do baixista convidado Bruno Vellozo. Geraldo Vianna dirigiu, com a habitual serenidade e competência, todo esse processo. Graças a esse projeto também foi possível registrar uma foto histórica no coreto da Praça da Liberdade que reuniu três gerações de artistas empenhados em homenagear Waldir Silva.
Mozart Secundino era um deles, o mais antigo, mais experiente e mais simples, que nos ensinava, a cada dia, que a sabedoria nem depende tanto do tempo de vida, mas da maneira de se relacionar com ela. Embora nenhuma palavra expresse menos seu comportamento do que “soberania” é assim que vejo mestre Mozart nesse último registro, pleno de vida.
Raphael Vidigal
Fotos: Vander Madeira e Álex Prado, respectivamente.