Gosto muito da canção mais batida do The Strokes, “Last Nite”. A julgar pela divulgação da primeira música do próximo álbum, intitulado “Comedown Machine” (lançamento previsto para 26 de março), ao menos para mim, a banda inglesa perdeu o encanto. Não falo aqui como especialista, mas sim um admirador distante. É que o que me detinha a soluçar ao som sujo dos garotos era justamente o desespero das letras e dos vocais.
Há, agora, ao sabor de “One Way Trigger”, algo que, se não soa incômodo, também não tolera calor. A frieza e a retidão de caráter podem combinar e até dar certo para alguns artistas, o que não é o caso dessa meninada esperta que me fazia adorá-los ao som de “Reptilia”. Cito um exemplo grotesco para explicar o que quero dizer: gosto do distanciamento em Marina Lima.
Mas os The Strokes sempre foram uma banda, na minha intuição, associada ao universo vexatório protagonizado por nomes como Jim Morrison e The Libertines. Refiro-me a essa vulgaridade elegante, que é capaz de cair no chão e levantar-se com a boca sangrando, desprovida de um único dente. Ainda assim sorrimos para Cazuza, os poetas beats, Baudelaire, William Blake, toda essa geração insana de poetas do apocalipse, poetas do escândalo.
Para os The Strokes, a sonoridade eletrônica apaziguou os ânimos de um cão em fúria, solto da coleira, da corrente, e da mão, ele agora volta por conta própria ao colo do dono. Reconheço a beleza do gesto, delicado, singelo e tolerante. Mas tem horas que a vida pede um pouco mais de trânsito, e derrocadas em meio aos cactos.
Raphael Vidigal
1 Comentário
Ae sm. Show de bola!!!!