Premiação suscita volta ao passado ao consagrar “O Artista”
O Oscar 2012 parece ter elegido um grande vencedor. A produção belga-francesa “O Artista”, faturou o prêmio mais almejado da noite: melhor filme. Um filme mudo e em preto e branco que alude ao tipo de cinema consagrado pelo genial Charles Chaplin.
Há considerações sensíveis e formais a serem feitas a respeito. É de se assinalar que o seu grande concorrente, “A Invenção de Hugo Cabret”, dirigido por Martin Scorsese, faturou todos os mais importantes prêmios técnicos.
Ou seja, em mundo cada vez mais inchado por superáveis e cíclicas novidades da hora, olhar para o passado pode ser um grande trunfo. Isso porque não apenas “O Artista” foi premiado como melhor filme, mas levou também para casa (no caso, a França) as estatuetas de melhor diretor, para Michel Hazanavicius, e ator, com Jean Dujardin, que comemorou com inflamado discurso.
É subliminar o fato de que enquanto “A Invenção de Hugo Cabret” arrebata as mais diversas emoções com seus recursos tecnológicos em 3D a serviço da trama, e não apenas de acrobacias gratuitas, “O Artista” use de outro recurso técnico, mas antigo, o preto e branco sem fala, grifado pela envolvente melodia e olhares meigos de atores e o deslumbrante cachorrinho companheiro do protagonista.
Numa e noutra situação, o recurso formal ganhou as rodas de discussão sobre os filmes. É mérito no caso, pois ambos estimularam o conteúdo impregnado na tela de cinema, resgatando certa magia que se perde corriqueiramente em produções descuidosas e mercantilistas demais.
Há de se perceber, então, que nesse caso, o recurso mais surpreendente foi justamente a volta ao passado. O único prêmio mais importante que a produção inovadora por seu estilo clássico e encantador não abocanhou foi o de melhor atriz. Este prêmio ficou com Meryl Streep, por seu papel interpretando a Dama de Ferro Margareth Tatcher, que comandou a ascendência do neoliberalismo na Inglaterra.
Já o Brasil acabou perdendo a única disputa na qual foi indicado. O prêmio de “melhor canção” acabou indo para o filme “Os Muppets”, em detrimento da música composta por Sérgio Mendes e Carlinhos Brown para a animação “Rio”. No entanto, há que afirme que a canção brasileira terá vida mais longa que a americana, fadada a poucos minutos de fama. Como o que é bom permanece (nem sempre), resta esperar pra ver.
Quanto à pomposa cerimônia (festa seria algo menos quadrado), apenas gracinhas ensaiadas, anarquia zero (com exceção de Sacha Baron Cohen, o Borat que, fantasiado de ditador coreano foi expulso ainda no tapete vermelho). Nada mais a dizer. Apenas uma citação a Machado de Assis: “Ao vencedor, as batatas!”
Raphael Vidigal
Lido na Rádio Itatiaia por Acir Antão dia 27/02/2012.
11 Comentários
Eu gostei muito, acho que havia dois grandes filmes na disputa e o justo seria um dos dois vencer, que bom que isso aconteceu. É claro que sempre há algumas injustiças, prêmios pra lá de estranhos, mas no final das contas o Oscar me surpreendeu positivamente
É sempre bom lembra que o Oscar é um concurso onde, na sua maioria, americanos brancos entre 60 e 80 anos definem por meio de uma votação o que para eles foi e deve ser nomeado como o melhor. O ideal seria sempre a vitória do trabalho mais marcante, porém isso ocorre poucas vezes.
E sobre a música da dupla brasileira, com todo respeito, não consigo imaginar essa canção sendo lembrada por ninguém e nem tocando em rádio alguma.
Você falou tudo vidi, fiquei ainda mais curiosa pra assstir os filmes. O único que assisti, e por sinal amei, foi o “meia noite em Paris”. Grande beijo e mais uma vez, meus parabéns por ter esse dom tão raro de saber escrever e colocar as palavras no seu devido lugar.
Muito bom bicho
Muito obrigado pelos elogios, Luisa. Também assisti ao “Meia Noite em Paris” e fiquei encantando. Justíssimo o prêmio de roteiro original. Woody Allen já escreveu melhores, mas ainda sobressai aos seus concorrentes mesmo em tempo de “suas vacas menos rechonchudinhas”.
“É sempre bom lembra que o Oscar é um concurso onde, na sua maioria, americanos brancos entre 60 e 80 anos definem por meio de uma votação o que para eles foi e deve ser nomeado como o melhor. O ideal seria sempre a vitória do trabalho mais marcante, porém isso ocorre poucas vezes.”
Assino embaixo das suas palavras, Diego Scorvo!
Obrigado, Bruno.
Com certeza!
Oscar só serve mesmo para promover os filmes e não reconhecer o méritos daqueles que foram os melhores.
Obrigado pela opinião, Natália Prado.
Discordo de alguns comentários, acho que eles desviaram o foco do texto. Sobre o seu trabalho, sublime como sempre.
Obrigado pelo elogio, Diego. Abraços