*por Raphael Vidigal
“Pintor, se queres assegurar
um lugar predominante
na Sociedade, é preciso que,
desde tua primeira juventude,
dês um terrível pontapé
na perna direita dela.” Salvador Dalí
Do porte de seus 80 anos, o cartunista, chargista, escritor, jornalista Ziraldo, para ficar no básico, é um moleque atrevido, maluquinho, menino. Obediente à sua própria escrita, afirma: “Tudo na vida tem limite, isso de ‘perder o amigo mas não a piada é, em si, uma piada. Ninguém é sozinho na vida. É preciso ter coragem para dizer as verdades e aguentar as consequências.”
E dá um pitaco a respeito do humor vigiado, politicamente correto, que nos espreita à vontade: “Na época do Pasquim criamos várias charges sobre a tragédia que se transformou no filme, aliás, belíssimo, ‘Os Sobreviventes dos Andes’, e o Quino, muito meu amigo, inventor da Mafalda, disse que era um absurdo fazer graça com aquilo, ao que eu retruquei que cada um tem o seu próprio absurdo, o humor tem um limite peculiar”, reflete.
ARTE
Nesses 80 anos de vida, dos quais mais da sétima parte foram dedicados às sete artes (7 cores as de Flicts, a cor sem o valor devido, primeiro livro infantil do mestre de sucesso infindo), ele pôde tirar conclusões propícias a respeito do tema: “Arte é a atividade da qual o homem prescinde para sobreviver, no entanto para se viver dotado de alma e espírito a arte é imprescindível”, e insatisfeito consigo, recorre ao auxílio do saber dicionaresco: “capacidade que tem o ser humano de pôr em prática uma ideia, valendo-se da faculdade de dominar a matéria”, conclui.
Para Ziraldo, “Picasso é o maior inventor da arte de pintar, pois ele dominava todas as possibilidades do pincel”, o que, de acordo com o mesmo, não é mais determinante na arte contemporânea: “Todos que expõe no Inhotim são gênios, muito criativos, mas não precisam saber pintar, não é necessário, pois eles se valem duma chamada arte conceitual, explicativa, que dispensa a definição do Aurélio. Mas tudo isso é discutível” alicerça.
CINEMA
Transportando-separa o mundo cinematográfico, o inquieto Ziraldo dá o seu palpite sobre a convivência plena entre arte e entretenimento: “Se é possível? Claro! Basta ver um filme de Charlie Chaplin, assistir uma boa peça de teatro”, confirma. A comprovar a regra também o colega “Jaguar, grande cartunista.”
Em relação aos nomes que o influenciaram Ziraldo é direto e afiado: “Sem dúvidas o cartunista romeno Saul Steinberg e o franco-húngaro André François, não só a mim, mas toda uma geração”, assume e começa a se lembrar das perdas sentidas neste ano, não só de festa, mas também de partidas: “O Millôr foi o sujeito mais inteligente que conheci, pena que não soube usá-la pras questões afetivas, mas como pensador, pode escrever, foi o homem mais importante da minha vida!” e esbalda-se em calorosas risadas que se estendem até Ivan Lessa, outra ausência sofrida.
CHICO ANYSIO
Grande pilar do humor, homenageado pelo desenhista em livro que compila ilustrações de todos os personagens, o criador do Professor Raimundo (entre tantos milhares) é referendado com as honrarias devidas: “Só existiram dois fenômenos no Brasil, o Chico Anysio, maior ator do mundo, e Pelé! Os dois são irrepetíveis. Esse Messi até tenta chegar perto, mas não tem carisma. E esse menino Neymar, cuidando-se, pode ser o segundo melhor da história, porque o primeiro, não tem jeito, já tá definido”, afirma Ziraldo ao cair com malemolência no campo esportivo.
Defensor da importância da literatura, Ziraldo mostra-se infeliz com os rumos que o planeta toma em certos sentidos: “A televisão não perpetua ninguém, tanto é que já estão esquecendo o Chico, algo inacreditável pela carreira daquele homem. O mundo só evoluiu por causa do livro, ele mantém as ideias acesas, ao alcance de todos. Depois dele, houve uma mudança na humanidade da água para o vinho. Gutenberg introduziu a Revolução da Imprensa e em 500 anos chegamos na lua, um salto incrível”, empolga-se.
“NÃO QUERIA COMEMORAR”, DIZ
Sobre as comemorações da efeméride, as oito décadas de Ziraldo, finaliza: “O negócio é o seguinte, eu falei que não queria festa para não incomodar as pessoas, mas como elas já estão se incomodando, estou achando ótimo!” sorri com inegável flexibilidade nos dentes, duros demais para o tempo, como um aforismo de Nietzsche.
Publicado no jornal “Hoje em Dia” em 22/10/2012.
9 Comentários
“É preciso ter coragem para dizer as verdades e aguentar as consequências”. Li e adorei 😉
eai Raphael… boa sorte na tua nova empreitada… espero q vc tenha muito sucesso.. tenho certeza que essa é realmente a tua area! e se um dia pintar o livro dos Stakeholders, quero uma copia autografada…quem sabe um dia vc ficarà famoso e essa copia valera uma fortuna!! hehehe abraços
Ziraldo e seus meninos. Confira
Olá Raphael,
Sou estagiário na PUC TV. Li sua matéria, na edição de hoje do HD, sobre os 80 anos do Ziraldo. Também estou produzindo uma matéria sobre o autor de Menino Maluquinho e gostaria que você, se possível, me passasse o contato dele para agendamento de uma entrevista. Desde já agradeço.
A Turma do Pererê do Ziraldo
Para Raphael Vidigal, com
abraço do
Tatu Pedro Vieira
O primeiro livro que vc leu: “O Menino Maluquinho”, logo que aprendeu a ler. A leitura e a escrita passaram a ser parte essencial na sua vida, não é mesmo, Raphael? Parabéns mais uma vez! Vc está no caminho certo! Mil beijos…
Parabéns, grande mestre…
Obrigado a todos que comentaram! Ziraldo tem o nome marcado na história do humor, das artes e da literatura. Abraços
Ziraldo, dê uma olhada no meu Facebook e veja o desenho que eu fiz de você. Você é uma pessoa muito inteligente, ókei, tchau.