“o universo é pouca coisa comparado à vastidão de uma fronte pintada por Rafael.” Salvador Dalí
Estou procurando uma inspiração com a foice. Estou no deserto, onde caminho rente ao chão, procurando uma inspiração com a foice. Mas com a foice não se consegue inspiração, nem se captura inseto, relva, ou a flor da mais doce. O instrumento incorreto, vezes outras, pode ser a arma da glória. A bajulação precede mesmo os minutos afoitos de sua entrada triunfal.
Vem o cônego, apoiando nos próprios ombros o peso daquele homem a quem todos conclamam, o peso daquela voz insustentável. A cadeira lhe foi construída especialmente, está certo que a memória falha, mas a voz, suprema, se mantém, rente ao chão do deserto estou procurando uma inspiração com a foice. Ela chega. Cauby ergue o cetro: começa a cantar.
Algo, porém, dá errado, o som abafado do violão de Ronaldo Rayol, permite que os mais exaltados protestem contra o músico, solicitando que a voz se esbalde mesmo desacompanhada. O músico, indignado, aguarda em sua própria pose que os erros se retraiam, e quando tudo encontra o encaixe, demonstra a virilidade do instrumento tocado.
O coro da plateia, possa soar desafinado, o gozo das histéricas, é um tempero nos shows deste mágico, o sorriso à esgueira, apontando para os aplausos quando estes invadem as catedrais indevassáveis onde a voz imperiosa e o violão acústico detonam graves e agudos, são apenas ritos, dum momento que se aguarda há 12 anos, quando puderam ver pela última vez Cauby.
Cauby não parece despedir-se, não quer se despedir. Atende aos pedidos de autógrafos em capas de discos, manga de camisa, retratos, tão comuns em carreira gentil e áurea. Repete os números mais pedidos desde sempre (“Conceição”, “New York, New York”, “Bastidores”) e a insistência para que volte a canta-los, atesta, é consequência do sucesso de uma causa nobre: ser ouvida a voz do homem.
A voz do homem (em todas as línguas ainda encanta). Levanta-se. Observa a plateia que tanto e sempre se ajoelhou. Não por uma submissão nem para confessar pecados. Ajoelha-se porque a voz é por demais imensa, segue imensa, eterna, irreparável, como os montes, os mares, as formações rochosas, antigas e lânguidas. E é diante do imenso que prostramo-nos pequenos para captar o detalhe.
Estou procurando uma inspiração no deserto com a foice. Encontrei Cauby Peixoto. Ele cantou e eis o texto. Pronto.
Raphael Vidigal
9 Comentários
Viva Cauby! Cauby!
Cauby vc é maravilhoso!!!! te admiro muito!!! bjs bom dia!
Showwwwwwwwwwww!
amo!!!sua voz é única!!!sou fã assumidíssima!!!!
Raphael Vidigal, como é bom ler você. Uma canção de silêncio… Obrigada!
Lindo! Lindo! Lindíssimo!!! Voz excepcional, inesquecível, maravilhosa.Talento e carisma, juntos.
Belo texto, Raphael! Gostei muito. Beijos…
conceição..!!!!!!!!!!!
Bravíssimo!!! Apenas Granada já foi o suficiente para eu me dobrar aos pés do “divo”. Cauby é, sem dúvida, nossa relíquia. Uma prova de que esse não é o país apenas das cantoras. E ele que veio trilhando os caminhos de Celestino, Galhardo, Caldas, Alves, Silva e Petra de Brarros, preserva as suas pompas no poder de um canto encorpado, brilhante e aveludado. Salve Cauby Peixoto!!! E obrigado por mais essa, Raphael!
Obrigado a todos que comentaram! Viva Cauby! Cauby!