“cada um de nós, de repente, vai morrer em algum momento terrível e aterrorizar todos os nossos amantes e apodrecer o mundo – e estragar o mundo” Jack Kerouac
A infernal Bárbara Paz está de volta em “Hell”, que me desdiga seu sobrenome. A atriz divide com a iluminação o posto de principal atração do espetáculo, dirigido por Hector Babenco e adaptado de livro da escritora francesa Lolita Pille.
Pílulas e pílulas são engolidas por Bárbara na mesma proporção e medida em que esta fuma seu cigarro indevassável, cheira o pó branco da mortífera cocaína e se deleita entre cortes e costuras das roupas e marcas que se insinuam tão descartáveis quanto ela mesma.
Bárbara é o retrato absoluto e chamuscado de um líquido inflamável que desce pela garganta em doses cavalares. A atriz toma de tal posse a referida menina da cena (ora em pose de boneca, outrora ilícita e cavernosa) que se torna impossível resguardar diferença entre desejo e consumação.
No transcorrer dos monólogos de dois personagens inseparáveis e ao mesmo tempo fechados no próprio mundo, dá-se a nítida impressão de estarem morrendo aos poucos. O que de fato acontece com Andrea, vivido pelo vistoso Paulo Azevedo, é, no entanto, niilismo em Bárbara.
A trilha sonora redunda num perfeito acoplamento entre sons estéreis e a morosidade dos clássicos operísticos duma França moderna e entregue às cegueiras de sua classe dominadora. Como acoplados estão os corpos dos dois personagens numa cena de sexo filmada como se fosse em filme de Truffaut.
Os abajures rubros, a luz itinerante, dividindo seu tempo entre iluminar os rostos dos que olham e os corpos dos olhados, entremeando o silêncio pacífico à barulheira infernal, resolvem com ambigüidade e amplitude de movimentos os questionamentos de duas pessoas absolutamente desnecessárias.
Raphael Vidigal
8 Comentários
?Raphael Vidigal, foi “arrebatado”” com razão né?? bj Rapha
Assisti a peça em ótima companhia. Texto denso, Bárbara sensacional, Paulo não conhecia, muito bom tbém. Melhor ainda seu texto, Raphael!
Parabéns! Beijos…
Essa pode ser uma boa pedida!!!
gostei ein
Bela homenagem p comemorar o dia do Teatro. Bárbara Paz, Hell.
nem acredito q perdi!
Agradeço a todos que comentaram! Realmente uma peça impactante. Abraços
Muito bacana!
Obrigado pela gentileza e carinho com o trabalho!