“Mas sem provocar ninguém, aceito apenas as rimas
De minha natureza estranha, sensível e sensual” Arrigo Barnabé
Após a barba feita, um banho de água fria. Sento-me desconfortado nas cadeiras acolchoadas do pequeno teatro intitulado consciência. Nela submerjo até os meus antepassados, “Pterodátilos”, neles descubro a face oculta, cabra sacrificada do banquete servido com requinte e crueldade.
Sóbrio, sombrio, solvente, despeço-me da paz enganosa, ao sucumbir diante do vestido de Marco Nanini, uma garotinha de 15 anos, penas e planos, as primeiras de galinha, as segundas intenções de voos aterrorizantes e devastadores. É no sorriso banguela o oco do mundo casto.
Ainda tem a esparrela de me apresentar Mariana Lima, o descontrole, descontentamento abrigado em histeria, egoísmo, abandono. Pobre mãe pariste os desejos do hospício, e eles tem a repugnância de engoli-la, sendo tu a gerir e abocanhar medo imune. Consomem-se.
Sacode no esquecimento e desterro, casulo rompido, retorna a borboleta ainda coberta de cinzas que o gás lacrimogênio spray de pimenta bomba de Hiroshima AIDS acidente nuclear de Chernobyl o enfeitou. Álamo Facó, o irmão ignorado, a doença ignorada, a homossexualidade gay, o non-sense, a ignorância brilhantina.
Ah, e serve-nos bandeja de prata, a cabeça de João, profeta. Cai chão nosso de cada dia, pão amassado pelas patas do diabo, antenas captam as irreverências de cima, a gargalhada é protetora hiena a rugir de dor enquanto lhe arrancam orelha, focinho, sangue, semeia a discórdia e a loucura ingrata. Michel Blois é alvo mestre de parcimônia e reverência. Felipe Hirsch o guardião da espada. Daniela Thomas a teia bem costurada da viúva-aranha.
Súbito, Nanini Marco é o pai revertido pelos sonhos de infância interrompida, a revolta, a ofensa, o pervertido a soluçar os dedos aflitos do filho passando a mão em pente fino de pentelho e apatia débil, aturdida para elucidar transfiguração do gesto: a fuga já não é possível.
A fuga não é mais possível. Repetem os sinos e ratos, igrejas e pragas, tento segurar com o braço o peso dos erros horripilantes, mas a força da grandeza humana é menor que a tua condição de praticar o abominável. Que a nossa consciência inchasse, a moral chupava o azulejo em sublime impacto.
Raphael Vidigal
9 Comentários
“o pervertido a soluçar os dedos aflitos do filho passando a mão em pente fino de pentelho e apatia débil, aturdida para elucidar transfiguração do gesto: a fuga já não é possível.
A fuga não é mais possível. Repetem os sinos e ratos, igrejas e pragas, tento segurar com o braço o peso dos erros horripilantes, mas a força da grandeza humana é menor que a tua condição de praticar o abominável. Que a nossa consciência inchasse, a moral chupava o azulejo em sublime impacto”
Perfeita descrição!!!!
Mais objetiva, sensível, articulada e sonhadora, não há!
Posso comentar de novo???
BRILHANTEEEEEEEEEE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Adorável, respeitável público! adorável, respeitáveis artistas, amável respeitável escritor!
“Cabra sacrificada”…quase um texto maçon
O grisalho da foto…quase um Lineu
“Homossexualidade gay”…quase um cruzeirense
Você tem uma sensibilidade musical admirável, meu caro e estimado amigo Raphael. Parabéns e grande abraço!
Boa inspiração, Raphael. A peça deve ser magnífica, e você sempre contribuindo, dando um pouco mais de brilho, realçando o belo. Abraço e obrigado pela lembrança!
Isso é bom demais…rsrs
Agradeço a todos que comentaram! Abraços
Que texto do caralho, alguem tem ele?
Só agora que vi esse recado.
Que loucura!
Obrigado Raphael!!!
abraço
Michel