50 anos de River Phoenix: ator prodígio morreu jovem e encantou Milton

*por Mariana Rodrigues (Publicitária, roteirista e fã de “Studio Ghibli” com ascendente em Al Pacino)

“Como o teu nome, diferente
Uma paisagem nos induz
Uma paisagem de inocência
Mas que se sabe e que conduz” Canção de Milton Nascimento, “River Phoenix (Carta a Um Jovem Ator)”

Não importa se as pessoas o conhecem como “o irmão do Coringa” ou como “uma das crianças de ‘Conta Comigo’” e até mesmo “a paixão de Milton Nascimento”. Uma coisa é certa: River Phoenix é uma figura marcante e jamais apagada da memória das pessoas e estaria comemorando, se vivo, no dia 23 de agosto, seus 50 anos.

Mesmo com uma curta trajetória, River foi considerado um dos maiores atores de sua época e uma estrela em ascensão. Era ativista pelos direitos dos animais, teve uma amizade inusitada com Bituca e morreu tragicamente, aos 23 anos, no Halloween de 1993.

Trajetória. Nascido em 23 de agosto de 1970, no sul dos Estados Unidos, River Jude Bottom foi o primeiro filho de John Lee e Sharon. Batizado em homenagem ao “Rio da Vida” do livro “Sidarta”, que conta a história de Buda, e à música “Hey Jude” dos Beatles, River era filho de um casal que participava de uma polêmica seita religiosa, chamada “Meninos de Deus” (“Children of God”).

Ainda novo, sua família se mudou para Porto Rico e, mais tarde, para a Venezuela, onde viviam em condições de pobreza e atuavam a favor do culto como missionários e colhendo frutas. Nessa mesma época, River desenvolveu seu talento e a paixão pela música. Ele tocava violão enquanto sua irmã cantava para complementarem a renda da família.

Família Phoenix (1985): River, Arlyn, Rain, Joaquin, Summer, John e Liberty. Crédito: Dianna Whitley

Recomeço. Logo, a família percebeu algumas atrocidades defendidas pela seita, como a ideia de sexo livre e de que as mulheres deveriam usar o sexo para conseguir novos membros para o grupo. Assim, preocupados com o rumo dessa seita, os pais de River fugiram, com toda a família, em um navio cargueiro. De Bottom para Phoenix, a criatura mitológica que renasce após a morte, em uma clara referência ao recomeço, a família decidiu mudar seu sobrenome.

De volta aos Estados Unidos, sua mãe começou a trabalhar como secretária da emissora NBC e conseguiu que seus filhos, considerados carismáticos por um caça-talentos, fizessem testes para participar de comerciais. Não demorou muito para que River se destacasse dos demais e começasse a fazer pequenos papeis em séries de TV e filmes.

Seu primeiro papel de destaque foi em “Viagem ao Mundo dos Sonhos” (1985), ao lado de Ethan Hawke, que em uma entrevista após a sua morte para a W Magazine em 2016, disse: “River era um artista muito sério, mesmo com 14 anos. Ele sabia muito mais do que eu… Estávamos fazendo um filme sobre crianças construindo um foguete e ele queria falar sobre o que seu personagem guardava dentro do bolso e ali eu soube que ele era especial”.

Prodígio. A carreira de River decolou como a de uma criança prodígio. No ano seguinte, fez seu próximo sucesso, no clássico filme cult “Conta Comigo” (1986), no qual ele chamou a atenção da crítica ao fazer cenas emocionantes e divertidas, mostrando sua versatilidade como ator desde novo. Há rumores que foi nessa época que ele começou a beber e se envolver com drogas leves.

Em seguida, fez “A Costa do Mosquito” (1986), ao lado de Hellen Mirren e Harrison Ford, ator com quem River iria trabalhar novamente no sucesso de bilheteria “Indiana Jones”, representando a versão jovem do famoso explorador. Nessa mesma época, seu amor pela música continuava a crescer e ele formou, junto de seus amigos e sua irmã Rain, uma banda chamada Aleka’s Attic.

Phoenix continuou levando sua carreira de ator e era presente na cena musical de Los Angeles, amigo de grandes figuras do rock alternativo dos anos 1980. Fez mais 3 filmes em 1988, sendo o mais famoso deles “O Peso do Passado” (1988). Nele, conheceu sua primeira namorada, Martha Plimpton, começou a ter grande interesse pelo método de atuação de Stanislavski, conhecido popularmente como “O Método”, e foi indicado ao Globo de Ouro e ao Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante.

Milton. River trilhava seu sucesso internacional como um jovem brilhante e chamou a atenção de várias pessoas no mundo todo, incluindo a de um cantor brasileiro, fundador do movimento mineiro Clube da Esquina. Milton Nascimento conheceu River Phoenix ao assistir aos filmes “A Costa do Mosquito” e “Conta Comigo”, ficando fascinado com a beleza e a atuação do jovem: “Fiquei tão impressionado que decidi escrever uma carta para ele. Foi quando surgiu uma música pronta na minha cabeça. Coloquei o nome: ‘River Phoenix (Carta a Um Jovem Ator)’”.

Para que a música fosse gravada, Bituca precisava de uma autorização. Depois de alguns telefonemas, conseguiu o contato da mãe do ator, que negou o pedido: “Como assim? Colocar o nome do menino na música de alguém que eu nem conheço?”. Mas foi sua irmã, Rain, que interveio e disse, para a surpresa de todos, que ela e River gostavam muito “daquele cantor brasileiro”. Segundo River, ele havia escutado uma música de Milton no rádio e gostou tanto que comprou o disco.

Tudo pareceu dar certo. River e Milton se encontraram pela primeira vez em 1990, em Atlanta, quando o cantor convidou River para assistir a seu show. Depois disso, os dois desenvolveram uma amizade e se encontraram diversas vezes, sendo uma delas no Brasil, quando Bituca levou o ator para conhecer a casa onde foi criado em Três Pontas, no interior de Minas Gerais.

Ativista. River Phoenix sempre esteve na mídia, não só por sua paixão por música e cinema, mas também por seu amor pelo meio ambiente. Ele foi uma das primeiras celebridades a se assumir vegana na grande mídia e fazia palestras e declarações em defesa dos direitos dos animais. Assim, sua fama nunca foi ligada a nenhum tipo de mau comportamento e uso de drogas.

Em 1991, River estrelou “Garotos de Programa”, de Gus Van Sant, filme em que interpretava um homem que se envolve com prostituição. Com isso, o ator começou a fazer entrevistas com garotos de programa reais, o que o levou a conhecer ainda mais o submundo das drogas. Cada vez mais envolvido com o mundo das estrelas do rock e do cinema, River começou a usar drogas mais pesadas, como cocaína, longe dos holofotes.

Tragédia. Foi na noite de Halloween de 1993 que River Phoenix teve sua trágica morte, um verdadeiro choque para o mundo todo, que nunca soube de seu envolvimento com drogas. River estava hospedado em um quarto de hotel em Los Angeles, em meio às gravações de seu último filme, “Dark Blood”. A versão mais divulgada sobre aquela noite conta que ele dava uma festa em seu quarto, onde teria usado cocaína na presença de sua namorada, Samantha Mathis, e de seus irmãos, Rain e Joaquin.

Os 4 decidiram estender a noite em uma famosa balada, “The Viper Room”, onde seus amigos fariam um show, e que tinha como um dos sócios o ator Johnny Depp. Na festa, River ainda teria se encontrado com outras pessoas, se frustrado por não poder tocar no palco com os amigos e feito o uso de uma droga conhecida como SpeedBall, uma mistura entre cocaína e heroína.

Depois de apenas 25 minutos dentro da boate, River começou a passar mal e a tremer muito, precisando sair para tomar um ar e tentar se recompor. Foi na calçada, na frente da boate, que ele piorou e teve uma convulsão longa. Seu irmão Joaquin ligou para a emergência e o jovem ator tentou ser reanimado por 17 minutos, sem sucesso.

Legado. Apesar de sua trágica morte, o legado de River Phoenix continua vivo entre seus amigos, familiares e fãs. Atores como Leonardo Di Caprio e James Franco se espelham em seu tipo de atuação, bandas como Red Hot Chilli Peppers, R.E.M e The Cult o citam em suas músicas e os fãs ainda prestam suas homenagens no local de sua morte.

Além disso, somos brindados pelo talento de sua família, tão cheia de valores artísticos e éticos, na consciência de um trabalho social mesmo dentro da indústria Hollywoodiana. Seu irmão mais novo, recém ganhador do Oscar de 2020, Joaquin Phoenix, dá continuidade ao talento daquele que foi seu grande incentivador.

River Phoenix, um jovem promissor que, com seus filmes, seu talento, sua personalidade cativante e sua beleza, inspira os amantes da sétima arte, que ficam impressionados, até hoje, com sua atuação poderosa e suas ideias fascinantes para um mundo melhor, mais consciente e menos cruel.

Fotos: Nancy R. Schiff/Getty Images

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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