3 músicas brasileiras para o Dia do Trabalho

“O caminho do sábio é trabalho sem esforço.” Tao-Te-Ching

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Cantado em prosa em verso o trabalho que “dignifica o homem”, nas palavras do sociólogo Max Weber, recebeu de nossos compositores tratamento exemplar e como sempre bastante inventivo. Valendo-se da observação dos costumes, como autênticos cronistas, e conferindo a eles pitadas de ironia, irreverência e até romantismo, o tema foi tratado desde os tempos de Wilson Batista e Herivelto Martins até Chico Buarque de Hollanda, em sua exaltação ao malandro. Seja como for, as 3 músicas brasileiras listadas abaixo em homenagem ao Dia do Trabalho não deixam de revelar certa característica do nosso povo, que leva e trata o ofício como der e vier, das mais diversas formas.

O Bonde de São Januário (samba de carnaval, 1941) – Wilson Batista e Ataulfo Alves
“O Bonde de São Januário” guarda uma das mais saborosas histórias da nossa MPB, pois, inicialmente feito para exaltar a preguiça, e não a labuta teve de ser modificado a mando do DIP, departamento de censura durante a ditadura de Getúlio Vargas, afinal os seus integrantes consideravam que já passava dos limites a ode ao “malandro”. Wilson Batista e Ataulfo Alves, dupla de peso do nosso samba e completamente diferentes entre si na maneira de se portar, inclusive em relação ao trabalho, tiveram de substituir os versos e ao invés de dizer que não iriam trabalhar mudarem tal direção. Assim o bonde passava a contar com mais dois dignos operários. Foi lançada em 1941 por Ciro Monteiro. Posteriormente regravada por Gilberto Gil, Elza Soares e o próprio Ataulfo.

Izaura (samba, 1945) – Herivelto Martins e Roberto Roberti
“Izaura” capta um indivíduo em momento parecido com o do protagonista de “Trem das Onze”, samba de Adoniran Barbosa lançado 20 anos depois. Desta feita, porém, não é a mãe que espera o apaixonado namorado, mas sim o trabalho. Ele tenta de todas as maneiras convencer a amante de que, mesmo contra a vontade, terá de deixá-la afinal de contas “se eu cair em seus braços/não há despertador que me faça acordar”, argumenta. O episódio, ao mesmo tempo insólito e cômico revela uma típica cena de costumes, no que Herivelto Martins e Roberto Roberti colocam-se como autênticos cronistas. Daí, por certo, sua imensa identificação junto ao público, assimilada também pelo ritmo. Foi lançada por Francisco Alves em 1945 e regravada por João Gilberto.

Vai Trabalhar, Vagabundo! (samba, 1973) – Chico Buarque
“Vai Trabalhar, Vagabundo!” foi composta por Chico Buarque a pedido de Hugo Carvana para o primeiro filme do ator como diretor, de título homônimo. A música trata o tema de forma irônica, em consonância com a película, que exalta o malandro, mote sempre repetido por Carvana, que inclusive produziu em 1991 a continuação do longa-metragem. Com versos sempre perspicazes e burilados o autor da letra chega a comparar a labuta a “uma loucura”, e faz referência à gravata, símbolo da dedicação e da seriedade, a um nó prestes a enforcar o protagonista. Lançada em 1973 a música só foi gravada em disco por Chico Buarque três anos mais tarde, pois, perseguido pela ditadura militar, através da censura, via-se impossibilitado de registrar as próprias canções.

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Raphael Vidigal

Fotos: Charlie Chaplin no filme “Tempos Modernos”; e montagem com Chico Buarque e Wilson Batista, respectivamente.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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