*por Raphael Vidigal
“(…) cujos terraços têm cor de
estrelas.
Os suaves olhos, caimos, não desdenhosos,
a chuva também dentro do processo.
Aquilo donde partes não é o caminho
e oliveira no vento embranquecida (…)
que brancura somada a essa brancura,
que candor?” Ezra Pound
Dez álbuns da discografia de Nara Leão (1942 – 1989) foram disponibilizados nas plataformas digitais pela Universal Music. Os títulos abrangem a fase final de atividade da cantora, que morreu precocemente vítima de um câncer no cérebro. Intérprete associada à Bossa Nova por sua voz de extensão pequena e seu estilo intimista de cantar, o período captado pela compilação demonstra as habilidades de Nara, capaz de transitar com desenvoltura tanto pelo repertório romântico de Roberto Carlos quanto as inovações estilísticas de Caetano Veloso, Gilberto Gil e a trupe da Tropicália, além de ser a primeira a dar voz ao samba do morro carioca.
… E Que Tudo Mais Vá pro Inferno(1978)
Nara foi a segunda cantora a dedicar um álbum inteiro ao repertório de Roberto Carlos, natural do Espírito Santo assim como ela. Precedida apenas por Sonia Melo, seu trabalho teve repercussões bem maiores. Além de já estar consagrada junto a crítica e público, o álbum gerou controvérsia. Tudo porquê Roberto exigiu a retirada da música que dava título ao trabalho, que teve de mudar de nome. Passou de “… E Que Tudo Mais Vá Pro Inferno” para “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, sem a anuência da cantora, que já havia falecido.
Nara Canta en Castellano (1979)
Versão feita para o mercado exterior do disco lançado um ano antes, com versões das músicas de Roberto e Erasmo Carlos cantadas por Nara em espanhol. Apesar de conter as mesmas faixas, as músicas foram trocadas de ordem. Assim como o anterior, teve direção e arranjos a cargo de Roberto Menescal.
Com Açúcar, com Afeto (1980)
Em 1972, Nara atuou no filme “Quando o Carnaval chegar”, de Cacá Diegues, ao lado de Maria Bethânia e Chico Buarque. Em 1980 ela dedicou um disco inteiro ao repertório de Chico, que também canta no disco. Nara, que já havia dado voz a canções do compositor anteriormente, escolheu para esse trabalho apenas aquelas que nunca havia cantado.
Romance Popular (1981)
Com direção dos cearenses Fagner e Fausto Nilo, o disco traz em seu repertório apenas canções de compositores nordestinos. Dentre eles, além dos citados, comparecem Geraldo Azevedo, Capinam, Moraes Moreira, Robertinho do Recife, e até um poema do maranhense Ferreira Gullar musicado por Fagner. Como curiosidade, uma composição autoral de Nara, em parceria com Fagner e Nilo.
Nasci para Bailar (1982)
Arranjado por Antônio Adolfo e João Donato, o disco feito aos 40 anos por Nara apresenta temática menos clara de ser identificada do que os anteriores. Prevalece o tom alegre, solar, em repertório que abarca canções de Sivuca, Martinho da Vila, Sidney Miller e Caetano Veloso.
Meu Samba Encabulado (1983)
Nara volta para o samba ao qual ajudou a dar visibilidade na década de 1960, quando participou do espetáculo “Opinião”. Aqui, ela vai da Velha Guarda de Pixinguinha, Nelson Sargento e Noca da Portela, à geração que renovava o estilo, casos de Paulinho da Viola, Johnny Alf e Ivone Lara, mulher que desbravava os preconceitos do samba. E não há nada de encabulado nesse trabalho.
Abraços e Beijinhos e Carinhos sem ter Fim… (1984)
Outro retorno da cantora, desta vez ao estilo que a consagrou. Em disco que apresenta clássicos da Bossa Nova, Nara presenteia o ouvinte com boas surpresas, casos de “Sublime tortura”, de Bororó, e “Por Causa de Você”, resgate da obra de Dolores Duran em parceria com Tom Jobim. Além da já habitual elegância que pauta interpretações para músicas de Vinicius de Moraes, Carlos Lyra e Roberto Menescal.
Um Cantinho, um Violão (1985)
Feito em parceria com Roberto Menescal, no formato intimista descrito no título, é mais um álbum revestido pelo estilo da Bossa Nova. No repertório há espaço para a dor de cotovelo de Antônio Maria, o samba sincopado de Geraldo Pereira e a originalidade dos irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle.
Meus Sonhos Dourados (1987)
Nara canta em português versões para standarts da música norte-americana que serviram para trilhas de filmes clássicos, como “O Mágico de Oz” e “Casablanca”. As versões foram escritas por nomes como Ronaldo Bôscoli, Fátima Guedes, a própria Nara e o mineiro Pacífico Mascarenhas, autor da faixa que abre o disco, “Eu gosto mais do Rio”, apadtação para “How About You”.
Raridades II
A coletânea, originalmente lançada em 2002 e organizada por Marcelo Fróes, compila gravações feitas pela cantora entre os anos de 1973 e 1988, que ficaram fora de sua discografia oficial. São músicas que apresentam a participação da cantora em projetos especiais, casos da “Ópera do Malandro” e de álbum em homenagem a Ary Barroso.
Foto: Museu da Imagem e do Som/Divulgação.