Um menino de pés descalços, cabelos penteados na brisa do pasto, revigora o som do piano, da aurora, dos animais, ao juntá-los em uma roda de choro, localizada próxima à sua residência.
Aventuras na selva amazônica ganham ruídos de lendas. Mas qual a real diferença entre lenda e folclore, senão a música a erguê-las em mil alto-falantes, cantos imitando pássaros, crianças ensinado adultos em solidária demonstração de amor à arte no Maracanã, o maior estádio de futebol do Brasil.
De mania de grandeza podiam acusá-lo. Heitor Villa-Lobos, o maestro número 1, brasileiro, mais que isso, chorão, clássico, mais que isso: músico. Bastava-lhe a alcunha do exercício prático que desenvolveu através dos sinais e sentidos do ouvido instintivo, da natureza, hercúlea e bachiana como as suas maravilhas favoritas, entre tantas!
O Trenzinho do Caipira, a Cantilena, o Canto do Sertão foram todos apreendidos em lugar algum de reformatório, conservatório, casa de ensino específica, mas todos recolhidos à deriva, ao mastro, à revelia, ignorando as cercanias extensas, fossem ou não hereditárias, apregoando somente seu grito: liberdade.
Heitor Villa-Lobos tinha paixão por levar às crianças o silvo, o som, o sibilo de passarinho ao cair da tarde ajeitando o ninho, cortejando a namoradinha. Predileção por uma vida legada ao que lhe criava asas. E ele tinha bico, penas e patas quando se arvorava a reger uma orquestra, coro infantil ou escrever partituras sentado no chão.
Sopra o charuto a nuvem que serve de esteio para a enxurrada. O maestro, o exímio músico, refinado no trato com as notas musicais que se combinavam numa seqüência suntuosa e maciça, era mais um menino a sondar pequenos sonhos distribuídos em caixinhas de lembrança. No seu caso, musicais.
Raphael Vidigal
3 Comentários
Comemoração do aniversário dele né?
?:D:D!!
Sim! Grande Heitor Villa-Lobos.