“É preciso aprender a se movimentar dentro do silêncio e do tempo” Caio Fernando Abreu
Formado em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo pela PUC Minas, Raphael Vidigal Aroeira tem passagens pelos veículos Jornal O Tempo, Hoje em Dia e Rádio Itatiaia, sempre na área de Cultura. Publicou o livro de poemas “Amor de Morte Entre Duas Vidas”, o romance experimental “O Sol Áspero” e colocou letra em 12 chorinhos de Waldir Silva para o álbum em homenagem ao cavaquinista, lançado em 2016. Também é parceiro musical de Marcos Frederico, Ed Nasque, André Figueiredo, Ronaldo Ferreira e Zé Ramalho. Escreveu a peça de teatro “Quando Tudo Desaparecer”, aprovada na Lei Rouanet e à espera da patrocínio para estrear. No elenco estão Gláucia Vandeveld, Adyr Assumpção, Cláudio Dias e Camila Felix. Em 2025, participou da antologia “Palavra Mineral” com 4 poemas inéditos.
“Paraibeiro” (choro-baião, 2016) – Zé Ramalho, Waldir Silva e Raphael Vidigal
Mineiro de Bom Despacho, o cavaquinhista Waldir Silva gravou, em 1981, o disco “Cavaquinho Camarada Nº 3”, que trouxe uma participação mais do que especial. Além de interpretar “Pelo Vinho e Pelo Pão”, Waldir registrou uma versão para “Pai e Mãe”, de Gilberto Gil, declamada por Zé Ramalho. Os dois se conheceram nos estúdios da CBS, no Rio, onde ambos eram contratados. A amizade resultou em “Paraibeiro”, parceria instrumental cujo título brincava com o fato de um ser paraibano e o outro mineiro. Com letra de Raphael Vidigal, a música foi gravada no disco “Waldir Silva em Letra & Música”, de 2016, pela cantora mineira Luana Aires.
“Santo Profano, Deusa Mulher” (marchinha, 2018) – Raphael Vidigal e Marcos Frederico
Nos últimos anos, além dos bares, BH tornou-se também a capital do Carnaval. Com uma programação ampla e diversificada, a cidade passou a receber os tão tradicionais e antigos blocos carnavalescos que, ao remeter à memória, trouxeram suas próprias inovações com misturas inusitadas e, acima de tudo, festeiras. Vale fantasia, vale confete e serpentina, principalmente, vale alegria! O ressurgimento do Carnaval de BH está intrinsicamente ligado à questão política, pois partiu da ocupação do espação da chamada “Praia da Estação”, com trajes de banho pelos militantes, depois de uma proibição por parte da prefeitura. “Santo Profano, Deusa Mulher”, de Raphael Vidigal, com harmonia de Marcos Frederico, retoma signos dessa festa cheia de rebeldia. A música foi finalista do Concurso Mestre Jonas.
“Tempo da Estiagem” (samba, 2020) – Raphael Vidigal e Ronaldo Ferreira
O samba “Tempo da Estiagem” foi composto por Raphael Vidigal e Ronaldo Ferreira no início de 2020. É a estreia da dupla no gênero. Juntos, o mineiro Vidigal e o paulista Ferreira já haviam criado duas marchinhas de Carnaval: “Cuidado Com o Pescoço” e “Retiro do Vampiro”, em 2017 e 2018, respectivamente. Para interpretar a mais nova composição, eles convidaram a cantora Deh Mussulini e o violonista Lucas Telles, que também cuidou dos arranjos e da produção da faixa. “Tempo da Estiagem” é um samba lírico, na tradição da música popular brasileira afeita à dor de cotovelo, e que bebe nas influências tanto de Batatinha quanto de Paulinho da Viola, com doce melancolia.
“Arco-Íris” (MPB, 2021) – Ed Nasque e Raphael Vidigal
A delicadeza permeia todo o repertório de “Interior”, álbum de estreia de Ed Nasque, mineiro de Belo Horizonte que se mudou para Ouro Preto para cursar Música e realizar um sonho. A atmosfera de sonho, embora com pés fincados na realidade, aqui se concentra na transição entre mar e montanha, imagens recorrentes nas letras do trabalho. Agora chega a parte que me cabe. Antes da pandemia, Ed me convidou para escrever a letra de uma melodia que ele compôs. Mas o letrista não é dono das palavras, ele só as escava de dentro das notas. Portanto, tudo que digo em “Arco-Íris” já estava lá, escondido nesse interior sonoro que Ed revela a todos e a todas nós. A esperança está de volta.
“Porto-poema” (samba, 2023) – Raphael Vidigal Aroeira e Marcos Frederico
O inesperado acendeu a canção “Porto-poema”, que nasceu com outro nome, e andamento diferente. O mundo estava sob uma pandemia quando o jornalista e poeta Raphael Vidigal recebeu do músico e habilidoso instrumentista Marcos Frederico uma melodia para colocar letra. O verso que a intitulou foi um dos últimos a vir à tona. A melodia também se modificou plenamente, agora impulsionada por um esperançar dos novos tempos, de uma nova estrela a brilhar no horizonte, com um sentimento de gratidão ao mundo e de perdão pelas dificuldades atravessadas neste caminho. “Hoje a vida me dá bem mais…”, diz o bonito verso que encerra o poema, em forma de canção.
“Ouvi Dolores” (samba-canção, 2024) – Raphael Vidigal Aroeira e André Figueiredo
Ao final da página, o poeta anotou os seguintes versos, que serviriam de indicações para o músico: “Samba-canção. Dor de cotovelo. Cartola. Fossa”. O samba “Ouvi Dolores” demorou cerca de 15 anos para ficar pronto. Em 2009, quando o jornalista Raphael Vidigal Aroeira entregou a letra para André Figueiredo, a melodia rapidamente foi criada ao violão. Apesar disso, o tempo para maturação se prolongou além das expectativas. Em 2024, a versão definitiva da canção ganhou o mundo. Compositor da melodia, André Figueiredo estreia soltando a voz, além de empunhar o violão, e realiza um delicado dueto com a cantora Luisa Doné, em interpretação sublime. O título de “Ouvi Dolores” alude a Dolores Duran, pioneira compositora e ícone do samba-canção.
“Lupicínio” (samba-canção, 2025) – Raphael Vidigal Aroeira e André Figueiredo
O clima noturno e invernal que atravessa a canção não é por acaso. Ao final dos versos, o poeta anota o horário da inspiração: “às 4h30 da manhã”. Com letra de Raphael Vidigal Aroeira e melodia de André Figueiredo, o samba “Lupicínio”, nascido, inclusive, na mesma época, é uma espécie de irmão gêmeo de “Ouvi Dolores”, lançado em 2024, após 15 anos de sua composição. Os próprios nomes indicam semelhanças. Dessa vez, o personagem da música brasileira que batiza o samba-canção é, justamente, Lupicínio Rodrigues, conhecido tanto pela boemia quanto por ter criado a “dor de cotovelo”, devido a seu hábito de apoiar-se nos balcões dos bares de Porto Alegre para lamuriar suas desilusões amorosas.
*Bônus
“Blues Despedida” (rock-blues, 2008) – Raphael Vidigal e Rodrigo Aroeira
Precisamos redimir a música de fossa! Esse é o intuito (no sentido de intuição) da nossa banda. A exemplo do que escreveu Paulo Scarpa em “A nova geração perdida e o cinema”, resta-nos voltar ao hedonismo (clichê barato do Axé sem congado e do Reggae sem gingado), à depressão (aquela auto-piedade brega de sertanejos e emos) ou uma melancólica aceitação cínica. A opção que fazemos é pela terceira. O cinismo ainda é um tipo de humor um tanto mais inteligente que o otimismo e o pessimismo juntos. E daí vem a palavra redenção. Queremos dor de cotovelo pra valer! Chega daqueles amores que não deram certo e são cantados com toda pompa e cabeça erguida do mundo (que só quer te ver sorrir) por aqueles que não percebem o tanto que o orgulho é brega!