Relembre sucessos de Tim Maia: da música soul às baladas românticas

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Vou pedir pra você voltar
Vou pedir pra você ficar
Eu te amo, eu te quero bem!” Tim Maia

Sebastião Rodrigues Maia, conhecido em todo o Brasil como Tim Maia, nasceu no dia 28 de setembro de 1942, e morreu no dia 15 de março de 1998, aos 55 anos, após sofrer um mal-estar durante uma apresentação no Teatro Municipal de Niterói, fruto de décadas de maus-hábitos alimentares e do uso de drogas que o levaram a óbito após uma infecção generalizada, quando estava pesando 140 quilos, fato que também influenciou em sua morte. Carioca, Tim Maia entregava as marmitas que sua mãe preparava para as famílias de Roberto e Erasmo Carlos no bairro da Tijuca, o que o levou a conhecê-los ainda na infância, assim como Jorge Ben Jor, de quem permaneceria próximo.

Tim chegou a fundar uma banda com Roberto Carlos, com quem manteve uma relação tumultuada. Em 1959, emigrou para os Estados Unidos, onde acabou preso por roubo e porte de drogas. Foi lá também que conviveu com Tony Tornado e teve contato com a música soul, tornando-se o principal representante dessa vertente no Brasil, alcançando sucesso com clássicos como “Azul da Cor do Mar”, “Não Quero Dinheiro”, “Do Leme ao Pontal”, “O Descobridor dos Sete Mares”, “Chocolate”, “Primavera”, “Acenda o Farol”, “Sossego”, “Réu Confesso” e muitos outros. Tim Maia também gravou duetos antológicos com Gal Costa, Elis Regina, Sandra de Sá e até Nelson Gonçalves.

Polêmicas. Levando o hedonismo às últimas consequências, Tim Maia tornou-se uma figura lendária da música brasileira, a quem foram atribuídas frases repetidas até hoje. Um exemplo, ele se dizia adepto de um tipo de triátlon nada esportivo: bebia, cheirava e fumava. O comportamento excessivo era apontado como um dos motivos para que o Síndico simplesmente não conseguisse aparecer em muitas das entrevistas e até dos shows que agendava. Ao longo da carreira, as inúmeras polêmicas o levaram, inclusive, para a delegacia, acusado por porte de drogas e por agressões contra mulheres. Reza a lenda que, numa das detenções, Tim cantou para os presos e acabou sendo liberado.

Tim Maia x Roberto Carlos
Tim Maia e Roberto Carlos eram vizinhos na Barra da Tijuca e cantavam juntos no grupo Sputniks. Depois de voltar de uma viagem fracassada aos Estados Unidos, Tim encontrou Roberto em carreira-solo de sucesso e foi pedir ajuda ao amigo, mas acabou esnobado e tentou agredir o Rei. A cena aparece na cinebiografia de Tim.

“Preciso Aprender a Ser Só” (canção, 1965) – Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle
Irmão de Marcos Valle, um dos mais proeminentes músicos da chamada segunda fase da bossa nova, o letrista e compositor Paulo Sérgio Valle soube preencher com discursos simples e filosóficos as melodias de “Samba de Verão”, “Viola Enluarada” e “Preciso Aprender a Ser Só”, que inspirou Gilberto Gil a compor a existencialista “Preciso Aprender a Só Ser”. A dupla em família ainda rendeu a politizada “Black Is Beautiful”, interpretada de maneira arrebatadora por Elis Regina, e que se transformou em espécie de hino contra o racismo no Brasil. Tony Tornado, ao assistir à apresentação de Elis, subiu ao palco com os punhos cerrados, repetindo o forte gesto dos “Panteras Negras”, movimento antirracista norte-americano, e acabou preso pela ditadura militar.

“Aquele Abraço” (MPB, 1969) – Gilberto Gil
Useiro e vezeiro em misturar as influências, ritmos e estilos, tropicalista por vocação e origem, baiano de nascimento e brasileiro até a espinha, Gilberto Gil é dos compositores mais ouvidos e repetidos por bocas e becos e lonas. Após a promulgação do AI-5 e em meio a um dos momentos mais tensos da ditadura militar, o compositor resolveu criar uma ode ao que havia de bom no país, homenageando, entre outros, o comunicador Chacrinha, chamado por Gil de “velho palhaço”, como, aliás, o próprio apresentador se reconhecia. Regravada por Tim Maia, a música se tornou um dos maiores sucessos da carreira de Gil.

“Primavera” (música soul, 1970) – Cassiano e Sílvio Rochael
Tim Maia é daqueles intérpretes tão expressivos que, ao cantar uma música, tornava-a a sua, talvez só comparável a Elis Regina. Por isso não é estranho notar que “Primavera”, um soul de 1970 escrito pelo paraibano Cassiano e Sílvio Rochael, esteja indiscutivelmente ligado à sua imagem, ou melhor, à sua voz. Mas é preciso fazer justiça aos compositores, principalmente a Cassiano, autor de pérolas desse gênero restrito no país, que encontrou em Tim Maia a sua expressão maior, mas que também contava com Hyldon, outro frequentemente relegado, autor do megassucesso “Na Rua, na Chuva, na Fazenda”. A música, romântica, encontra seu ápice quando o vozeirão de Tim anuncia: “É primavera…/ Te amo!”. E o coro interpreta sutil a glória da chuva.

“Coroné Antônio Bento” (baião, 1970) – João do Vale e Luiz Wanderley
A áspera música “Carcará”, do maranhense João do Vale, se transformou, em 1965, num grito de rebeldia e luta no histórico espetáculo “Opinião”, dirigido por Augusto Boal e produzido pelo Teatro de Arena e pelos integrantes do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, com dramaturgia de Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes. Protagonizado por João do Vale, Zé Kéti e Nara Leão, o elenco ganhou a gana da estreante Maria Bethânia quando Nara decidiu deixar o espetáculo. Em 1970, João do Vale lançou outra pedrada, mas de intenção diferente. O baião “Coroné Antônio Bento”, feita com Luiz Wanderley, ganhou as vozes de Tim Maia e Cássia Eller.

“A Festa de Santo Reis” (MPB, 1971) – Márcio Leonardo
Tradicionalmente, é no dia 6 de janeiro que se desmontam os principais artigos da decoração natalina, como a árvore e o presépio. A data simboliza o dia em que os Três Reis Magos teriam visitado o menino Cristo e oferecido a ele ouro, incenso e mirra. No Brasil, essas ofertas ganharam os tons de fitas coloridas, tambores e muita musicalidade, e se tornou a Folia de Reis, cantada por vários compositores. Composta por Márcio Leonardo quando ele tinha apenas 15 anos de idade, “A Festa de Santo Reis” tornou-se uma das maiores referências à celebração na música brasileira, ganhando regravações de Marisa Monte, Lobão, Margareth Menezes, Criolo e Ivete Sangalo. Todo esse sucesso só foi possível, no entanto, graças à gravação original, feita por Tim Maia em seu segundo álbum de carreira.

“Não Quero Dinheiro [Só Quero Amar]” (música soul, 1971) – Tim Maia
Seguindo a mesma linha e ideologia de Martinho da Vila, o eterno síndico da música brasileira, Tim Maia, despreza em seu poderoso soul “Não Quero Dinheiro [Só Quero Amar]” o valor do primeiro em relação ao segundo. Nessa ode ao amor e ao desapego, Tim demonstra, mais uma vez, o poder de sua voz e dá mostras do porquê de a sua figura ser, até hoje, uma das mais reverenciadas na música brasileira. Por que sempre colocou a paixão em primeiro lugar, nunca a mesquinharia. A música foi regravada, em ritmo de axé, por Ivete Sangalo e uma pegada mais roqueira por Roberto Frejat. O refrão alegre e descontraído segue como um dos preferidos para embalar festas e comemorações de todo tipo.

“Chocolate” (música soul, 1971) – Tim Maia
Desde que se tem notícia do seu aparecimento ainda na era pré-colombiana dos países da América Central, o chocolate não serve apenas como alimento. Claro, a sua função principal é essa, até por ser difícil negar suas qualidades tão atrativas ao paladar. Mas é, sobretudo, por outros sentidos como visão, tato e olfato, que o chocolate atende a diversas intenções. Não por acaso está associado a celebrações como a Páscoa e o Dia dos Namorados. No universo da cultura popular é difícil uma arte que tenha escapado ao seu charme. Na música, o jingle criado por Tim Maia cujas alusões ao uso de entorpecentes são frequentemente comentadas é, sem dúvida nenhuma, a de maior impacto. Até mesmo pelo peso que o “Síndico” imprimia às suas canções. O maior cantor de soul do Brasil era seco e claro ao dizer que nada mais servia além de “Chocolate”, na música de mesmo título, regravada pela cantora Marisa Monte.

“Sossego” (música soul, 1978) – Tim Maia
Tim Maia viveu ilegalmente nos Estados Unidos no início da década de 1960. Lá, travou contato com Tony Tornado, que atuava como cafetão, e foi preso por roubo de carro e posse de maconha. Para além das confusões com a Justiça, a temporada rendeu a Tim Maia o conhecimento de várias informações musicais que o ajudariam a formatar seu estilo ao aportar no Brasil, em especial a chamada música soul norte-americana, a “música da alma” produzida pelos negros, com influências do jazz e do blues. A batida era o que mais interessava a Tim Maia tanto que, no livro “Vale Tudo”, escrito por Nelson Motta, ele relata um episódio hilário. Após criar a batida de “Do Leme ao Pontal”, Tim foi colocando o que lhe vinha à cabeça na letra, o que resultou em versos como “tomo guaraná/ suco de caju/ goiabada para sobremesa”. Já em “Sossego”, de 1978, Tim criou uma versão, sem dar os créditos, sobre “Boot-Leg”, música do conjunto norte-americano Booker T. & the M.G.’s, sucesso da década de 1960.

“Pais e Filhos” (música soul, 1978) – Renato Piau e Arnaud Rodrigues
Tudo começou com uma briga homérica. Tim Maia (1942-1998) se desentendeu com o maestro Miguel Cidras (1938-2008) por conta do arranjo de cordas para a música “Pais e Filhos” (de Renato Piau e Arnaud Rodrigues) e, como não era de se deixar contrariar, despediu o músico com seus modos bem particulares. Para o lugar de Cidras, foi chamado o jovem Lincoln Olivetti (1954-2015), que teve no álbum “Tim Maia Disco Club” (1978) o seu primeiro grande desafio. Estava dado o pontapé inicial na carreira do arranjador, tecladista, compositor e produtor musical que, em 1982, foi o responsável por nada menos que 360 arranjos, embora a crítica torcesse o nariz pra seu estilo.

“With No One Else Around” (balada, 1976) – Tim Maia
A adoração pelo álbum totalmente em inglês gravado por Tim Maia em 1976 é um dos pontos de afinidade entre a cantora Silvia Machete e o contrabaixista Alberto Continentino, arranjador do disco “Rhonda”, lançado por ela em 2020. Dali, eles pinçaram “With No One Else Around” para Silvia regravar. “Acho Tim Maia um cara muito importante, ele era um revolucionário do amor, meio badass, sem dedos, como a Rhonda também é, e foi ele quem trouxe a sonoridade setentista dos Estados Unidos para o Brasil”, aponta Silvia Machete. O nome do álbum é uma referência à personagem que Silvia criou.

“A Bela e a Fera” (MPB, 1983) – Chico Buarque e Edu Lobo
Em 1982, Chico Buarque e Edu Lobo receberam a incumbência de criar a trilha sonora para o balé “O Grande Circo Místico”, que Naum Alves de Souza criou em cima do poema homônimo do alagoano Jorge de Lima. O espetáculo deu vazão a um álbum lançado em 1983, com a nata da MPB: Milton Nascimento, Gal Costa, Gilberto Gil, Simone, Zizi Possi e outros. Ficou a cargo de Tim Maia dar voz à poderosa “A Bela e a Fera”, que recuperava a fábula para renová-la: “Mais que na lua ou no cometa/ ou na constelação/ o sangue impresso na gazela/ tem mais inspiração…”. A música possibilitou ao público uma nova oportunidade de conhecer a obra poética de Jorge de Lima, primoroso escritor.

“Me Dê Motivo” (música soul, 1983) – Michael Sullivan e Paulo Massadas
Incorrigível, Tim Maia interpretava a música “Me Dê Motivo”, um dos maiores sucessos da sua carreira, fazendo com as mãos o símbolo do chifre. Na sua visão, a música era uma espécie de “melô do corno”, tanto que, na introdução, se valia de um texto que explicava a intenção da letra. “É engraçado, ás vezes a gente fica pensando que está sendo amado”, resumia, antes de soltar o vozeirão rouco. A composição é mais uma da dupla de hitmakers Michael Sullivan e Paulo Massadas, que também rendeu a Tim outro sucesso: “Um Dia de Domingo”, que ele interpretou com Gal Costa, em mais um dueto polêmico.

“Vale Tudo” (música soul, 1983) – Tim Maia
Sandra Cristina Frederico de Sá, a Sandra de Sá, nasceu no dia 27 de agosto de 1955, no Rio de Janeiro, e começou a carreira artística assinando apenas como Sandra Sá. Na década de 1990, por uma questão de numerologia, ela alterou o nome para Sandra de Sá. O primeiro álbum foi lançado em 1980. No álbum seguinte, ela estourou nas paradas com “Olhos Coloridos”, de Macau, lançado em 1982. Em 1983, Sandra gravou “Vale Tudo”, do grande padrinho musical Tim Maia. Ainda nos anos 1980, fez sucesso com músicas de Carlos Colla, como “Solidão” e “Bye Bye Tristeza”. Sandra de Sá é considerada por muitos, ao lado de Tim Maia, a grande representante da música soul brasileira.

“Um Dia de Domingo” (balada, 1985) – Michael Sullivan e Paulo Massadas
Mesmo tendo gravado em dias diferentes no estúdio, o primeiro e único encontro de Gal e Tim Maia em disco rendeu um grande hit e uma boa vendagem para Gal, com mais de 600 mil cópias vendidas do álbum “Bem Bom” (1985), que continha a gravação para “Um Dia de Domingo”. A canção leva a assinatura dos hitmakers dos anos 1980, Michael Sullivan e Paulo Massadas, em arranjo de outro nome onipresente em sucessos daqueles anos, o músico Lincoln Olivetti. A música deveria ser lançada com clipe, mas a produção teve que adiar o registro porque o vestido de Gal não estava pronto. Dois dias depois, ao ligarem para Tim, ele devolveu: “Meu vestido não ficou pronto”. E não compareceu à gravação. Não houve clipe no Fantástico e o encontro só se deu no programa de Chacrinha. Nelson Motta relata o episódio.

“Pede a Ela” (balada, 1985) – Carlos Colla e Ed Wilson
Carlos Colla ficou conhecido como um dos compositores preferidos do Rei Roberto Carlos, além de compor versões para músicas estrangeiras que alcançaram enorme sucesso. Compositores relacionados com a Jovem Guarda, Carlos Colla e Ed Wilson, um dos fundadores do grupo Renato e Seus Blue Caps, se uniram para compor um grande sucesso de Tim Maia: “Pede a Ela”, lançada em 1985. No mesmo ano, Tim interpretou a música em um dueto raro com Roberto Carlos, com quem tinha uma relação turbulenta, de amor e ódio, durante o famoso especial de fim de ano do Rei exibido pela Rede Globo.

“A Grande Família Brasileira da Comunicação” (soul, 1985) – Tim Maia
Tim Maia compôs uma música sobre família bem ao seu estilo. E, como é sabido, tudo que vinha do rei do soul brasileiro ultrapassava os paradigmas e parâmetros utilizados. Caretice não era com o Síndico. Em “A Grande Família Brasileira da Comunicação”, lançada em 1985, Tim exalta nomes que fizeram história na televisão brasileira e que, de uma maneira ou de outra, o ajudaram a alcançar o estrelato. Assim, percebe-se outra característica desse compositor polêmico e controverso, que fugia do bom-mocismo como o diabo da cruz: a gratidão. Chacrinha, Faustão, Raul Gil e Ari Camargo são exaltados na música.

“Sozinho” (balada, 1997) – Peninha
Caetano Veloso escutou “Sozinho” pelo rádio, na voz de Sandra de Sá, e decidiu colocar a música em seu próximo show, especialmente depois de descobrir que o compositor era Peninha, de quem ele já havia gravado “Sonhos”, com enorme sucesso, em 1982. Por pouco Caetano não desistiu de gravar “Sozinho” depois de ouvir a versão de Tim Maia, que ele definiu como “arrasadora”. Por sorte do público, Caetano gravou a música em 1999, no álbum “Prenda Minha”, e ela entrou para a novela “Suave Veneno”. Antes, já havia rendido a Peninha o Prêmio Sharp de melhor canção do ano de 1997.

*Bônus
“Hino do América-RJ” (marcha, 1943) – Lamartine Babo

Os quatro grandes clubes da cidade do Rio de Janeiro, além do à época popular, América, tiveram seus hinos compostos pelo não menos popular Lamartine Babo. Famoso pelas composições carnavalescas, mas também por peças românticas e valsas, sendo a mais conhecida uma parceria com Ary Barroso (“No Rancho Fundo”), não chega a ser espantoso o êxito de Lamartine nas duas frentes. Se formos prestar atenção existe um quê de glória, de exaltação, de alegria tanto no gênero da marchinha quanto no hino.

Pelo talento de Lamartine Babo, os torcedores de Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco entoam a plenos pulmões os versos de exaltação e glória, além dos resistentes e bravos apaixonados pelo América, clube de coração de Lamartine. Tim Maia emprestou como ninguém a potência da voz para celebrar essas músicas, com exceção do Botafogo, e legou registros impressionantes para os clubes cariocas. Ele, outro apaixonado e torcedor convicto do América-RJ nos faz crer ser este o mais bonito dos hinos. Prova do poder da palavra e da intenção dos sentimentos.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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