Pepeu Gomes: dos Novos Baianos aos sucessos em trilhas de novelas

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino
Sou Masculino e Feminino” Baby do Brasil & Pepeu Gomes

Pedro Aníbal de Oliveira Gomes, esse é o nome de batismo de Pepeu Gomes, baiano de Salvador, nascido no dia 7 de fevereiro de 1952, o mês do Carnaval. Músico, cantor, compositor, arranjador, multi-instrumentista, Pepeu Gomes é admirado como um dos maiores guitarristas do Brasil, com uma mistura única de música tipicamente brasileira, baiana e tropicalista com influência de ritmos norte-americanos que estão na base da sua formação. Pepeu toca de chorinho a rock’n’roll com a mesma habilidade. Integrante original dos Novos Baianos, ele tem, como maior hit de sua carreira-solo, “Masculino e Feminino”, de 1983.

“O Mal É O Que Sai da Boca do Homem” (MPB, 1980) – Pepeu Gomes, Baby do Brasil e Galvão
Os Novos Baianos provocaram uma verdadeira revolução de costumes na cultura brasileira – ou, antes, fizeram parte dela e ajudaram a empurrá-la pra frente –, com seu estilo hippie de ser e estar que transparecia nas letras. A trupe passou a morar em comunidade, em um sítio, onde tudo era de todos. Já em suas respectivas carreiras-solo, os ex-integrantes Baby do Brasil, Pepeu Gomes e Galvão voltaram a se encontrar para compor “O Mal É O Que Sai da Boca do Homem”, mais um hino contra a caretice que questionava a proibição da maconha. A música foi regravada pelos compositores em vários momentos.

“Eu Também Quero Beijar” (axé, 1981) – Pepeu Gomes, Moraes Moreira e Fausto Nilo
Com a dissolução dos Novos Baianos, Pepeu partiu para a carreira-solo, mas reencontrou antigos companheiros, como Moraes Moreira e o compositor Fausto Nilo, que o auxiliaram a compor o primeiro grande sucesso dessa nova fase. “Eu Também Quero Beijar” lança mão de todos os elementos dançantes e rítmicos do axé para criar uma canção que gruda facilmente na cabeça e incita os quadris a se mexerem. Aliado a isso, a famosa guitarra baiana de Pepeu, inconfundível, ditando ritmos. A música fez barulho ao ganhar o povo em 1981.

“Um Raio-Laser” (pop, 1982) – Pepeu Gomes e Baby do Brasil
Unindo a estética futurista a saudações tanto de origem afro quanto indígena, Pepeu Gomes e Baby do Brasil introduzem as matrizes fundadoras da música que produziram. “Um Raio-Laser” dá título ao disco lançado por Pepeu em 1982, onde ele aparece com cabelos tingidos de verde e vestes similares a de um cavaleiro do zodíaco. O misticismo permanece em alta ao longo do trabalho, assim como a inclinação para canções de temática amorosa e pacifista. A música obteve regravações do grupo Jota Quest em duas ocasiões.

“Planeta Vênus” (balada, 1982) – Pepeu Gomes, Baby do Brasil e Riroca
A deusa do amor é a grande homenageada da música “Planeta Vênus”, em que Afrodite é mencionada com sua nomeação romana. A música de Pepeu Gomes e Baby do Brasil também inclui na parceria a filha do casal, Riroca, então uma criança de nove anos que, mais tarde, trocou seu nome para Sarah Sheeva e hoje atua como pastora. A música “Planeta Vênus” foi lançada por Pepeu Gomes em 1982, no clima de paz & amor que promete. Posteriormente, recebeu regravações de Baby do Brasil, que a gravou por último no ano 2015.

“Masculino e Feminino” (MPB, 1983) – Pepeu Gomes e Baby do Brasil
Em 1983, o casal Pepeu Gomes e Baby Consuelo, que depois se tornaria Baby do Brasil, compôs um dos hinos da diversidade no Brasil. Já devidamente embalados pela aura mística que sempre os acompanhou, os compositores iniciam uma reflexão sobre o sexo do Criador para, em seguida, afirmar: “Se Deus é menina e menino, sou masculino e feminino”. A música foi lançada por Pepeu, em álbum com o mesmo nome, e, depois, regravada mais de uma vez por Baby. E o casal voltou a interpretá-la em parceria, no Rock in Rio de 2015.

“Mil e Uma Noites de Amor” (balada, 1985) – Pepeu Gomes, Baby do Brasil e Fausto Nilo
Baby do Brasil conta uma história famosa. Ela estava com Pepeu Gomes, à época seu marido, e os filhos, na Disney, onde foram proibidos de entrar porque suas roupas poderiam chamar mais atenção do que os personagens do parque. A capa do álbum lançado por Pepeu Gomes em 1985 não deixa dúvidas quanto à veracidade da história. Em “Energia Positiva” ele aparece abraçado a um boneco que é a sua cópia fiel, cheio de estilo. E o grande hit do LP foi “Mil e Uma Noites de Amor”, parceria com Baby do Brasil e Fausto Nilo.

“Sem Pecado e Sem Juízo” (MPB, 1985) – Pepeu Gomes e Baby do Brasil
Desde que o mundo é mundo Baby já foi Consuelo, do Brasil e até de Jesus, mas o que nunca mudou foi a sua postura livre e ousada frente às expectativas. Além da irreverência gestual e de figurino, tanto no palco quanto por outras plagas – desde os tempos hippies dos Novos Baianos –, a cantora manteve a voz límpida e de largo alcance a serviço de músicas que contemplam a liberdade e o amor. E para isso não há limites. O que importa é se libertar, e para isto a música e Baby, com o deslumbre de seu canto, cumprem à risca o papel: com tinta roxa, cósmica e até evanescente. Em 1985, ela lançou “Sem Pecado e Sem Juízo”, outro hit, e parceria com Pepeu Gomes.

“A Lua e o Mar” (lambada, 1989) – Pepeu Gomes, Moraes Moreira e Fausto Nilo
Inspirados pelos ritmos caribenhos, especialmente a lambada, o trio de amigos formado por Pepeu Gomes, Moraes Moreira e Fausto Nilo compôs, sob uma encomenda, “A Lua e o Mar”. A música foi feita especialmente para integrar a trilha sonora da novela “Tieta”, protagonizada por Betty Faria, que estreou em 1989 na Rede Globo. De clima descontraído, alegre, solar, a canção invadiu o lar dos brasileiros e não saiu de suas cabeças durante muito tempo. Pepeu e Moraes voltaram à canção nos anos seguintes, regravando-a inúmeras vezes.

“Sexy Iemanjá” (pop, 1993) – Pepeu Gomes e Tavinho Paes
Inspirados pelo ritmo do axé e a atmosfera do pop, Pepeu Gomes e Tavinho Paes criaram uma mistura igualmente exótica: “Sexy Iemanjá”, como solicita o nome, transforma a divindade das águas em uma espécie de sereia plena de sensualidade. A música foi lançada em 1993, entrou para a trilha da novela “Mulheres de Areia”, da TV Globo, e mereceu regravações dos grupos Samba Livre e Os Originais do Samba, se consagrando como um dos grandes sucessos autorais de Pepeu, que até hoje a mantém em seu repertório de hits.

“Alma” (MPB, 2001) – Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes
Em 2001, Arnaldo Antunes teve a sua música “Alma”, parceria com Pepeu Gomes, colocada em rotação na novela global “O Clone”, na voz de Zélia Duncan. O sucesso foi imediato. No mesmo ano, Zélia divulgou a canção, que se transformou em um dos maiores hits da sua carreira, no álbum “Sortimento”. Já em 2004, ela a cantou em dueto com Pepeu Gomes e, em 2008, no disco “Amigo É Casa”, dividiu seus vocais com Simone. Arnaldo Antunes também gravou a música, em seu “Acústico MTV”, de 2012. A letra procura dar corporeidade à alma, sem perder de vista o seu aspecto etéreo e até intocável.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2022.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]