“De uma crítica do teatro nasce um novo teatro.” Brecht
Com um currículo invejável, recheado de premiações e papéis marcantes, o elenco de “Quando tudo desaparecer”, formado por Gláucia Vandeveld, Adyr Assumpção, Cláudio Dias e Camila Felix tenta, desde 2020, estrear a peça nos palcos mineiros. Aprovado na Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais e na Lei Rouanet, o projeto emperrou na dificuldade em conseguir captar os recursos para colocar a caravana no mundo. Tal obstáculo revela um cenário complexo, que se estende a outras produções cênicas, afetando toda uma cadeia produtiva relacionada ao meio teatral do Estado.
Com trajetórias que contemplam cinema e teatro, Gláucia, Adyr, Cláudio e Camila viram na dramaturgia do jornalista Raphael Vidigal Aroeira a possibilidade de acessarem um tema sensível por meio de uma escrita poética e de trabalharem juntos pela primeira vez. É de se supor, com certa dose de certeza, que uma reunião desse quilate seja inédita nos palcos do teatro mineiro, tão afeito a coletivos.
“Quando tudo desaparecer” versa sobre a dor da perda. Na trama, uma mãe precisa lidar com a ausência da filha, enquanto um amor que nunca se deu por inteiro debate-se com os fantasmas de tudo que poderia ter sido mas não foi. Gláucia Vandeveld, Camila Felix, Cláudio Dias e Adyr Assumpção encarnam as personagens, que caminham entre a angústia e o lirismo, sempre com uma linguagem poética. Os ensaios, que começaram em 2020, primeiro de forma remota, em razão da pandemia de Covid-19, se concluíram em 2024 na sede do Galpão Cine Horto.
Nesse longo processo, os próprios atores trouxeram contribuições para a montagem em que exercem a direção coletiva, com leituras de textos e práticas de exercícios específicos, relacionados ao conhecimento cênico. O contato com artes da mímica, da dança, da poesia, da escultura e das artes visuais contribuíram para esse enredamento de um texto que prima pela concepção abstrata, num diálogo sensível e perene com a poesia, matéria-prima do texto dramatúrgico, nascido de uma vivência real do jornalista-poeta. Pronta, a peça aguarda apenas o financiamento para acontecer.
Elenco
Atriz, diretora e professora de teatro, Gláucia Vandeveld integra a Zula Cia de Teatro e tem entre seus trabalhos os espetáculos “Banho de Sol” e “CASA”. É a diretora do espetáculo “Às que aqui ficaram” da Tríade Cia. De Teatro. No cinema participa, entre outros trabalhos, do elenco dos filmes “Levante” de Lillah Halla; “No Coração do Mundo“ de Gabriel Martins e Maurílio Martins; e “Arábia” de Affonso Uchôa e João Dumans. Também atua como professora nos Cursos Livres de Teatro do Galpão Cine Horto e atuou em peças do grupo Espanca!.
Ator, diretor e membro-fundador da Cia. de Teatro Luna Lunera, Cláudio Dias é formado em História pela UFMG, com formação em Artes Cênicas pelo Palácio das Artes/Cefart, e construiu uma sólida carreira no teatro, marcada por atuações em peças como “Fazer festa com o perigo: Cintura Fina” (2024), “Auto da Compadecida: A Ópera” (2022), “E ainda assim se levantar” (2019), “Perdoa-me por me traíres” (2000) e “Antígona” (1995). Além disso, co-dirigiu e atuou nos aclamados espetáculos “Aqueles Dois” (2007) e “Prazer” (2013).
Ator, diretor, dramaturgo e produtor, Adyr Assumpção adaptou e dirigiu recentemente o “Sortilégio”, de Abdias Nascimento, e está em turnê nacional com o espetáculo “Leão Rosário”, uma adaptação sua do “Rei Lear”, de Shakespeare. No cinema, pode ser visto atualmente nos filmes “O Silêncio das Ostras”, de Marcos Pimentel, e em “O Coro do Te-ato” de Stella Penido, que remonta aos primeiros anos da trupe do Teatro Oficina de Zé Celso Martinez Corrêa. É graduado em Teatro pela UFMG e Mestre em Artes pela Unicamp.
Atriz, bailarina e coreógrafa, Camila Felix, formada em Teatro pela UFMG, foi dançarina do Grupo Primeiro Ato e integrou, em 2023, o elenco da premiada versão do Grupo Oficcina Multimédia para “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues. Também atuou nos espetáculos “Colóquio Sentimental”, “EuLírico: Mulher”, “A Contribuição Milionário de Todos os Erros”, “Estrela ou Escombros da Babilônia”, dentre outros. No cinema, protagonizou “Anita Garibaldi: Visões e fragmentos de Vida”, de Gianluca Barbadori.
Ainda estão no projeto a iluminadora Marina Arthuzzi, o cenografista e figurinista Alê Tavera, o diretor de projeções Felipe Canêdo, o produtor executivo Alexandre Toledo e a criadora de trilha sonora Patrícia Bizzotto, que trabalhou timbres e plasticidades sonoras a partir do dramatismo lírico da cantora Maria Callas, uma das referências poéticas e extratextuais que pontuam a concepção dramatúrgica de “Quando tudo desaparecer”, um acontecimento do teatro mineiro que aguarda a oportunidade em que o instante precioso do teatro transforma a ideia em ato.