“quando as serpentes paguem para ser serpentes
e o sol para ganhar seu pão recorra à greve–
quando o espinho olhe a rosa com suspeita
e o arco-íris faça seguro contra a neve” e. e. cummings
O zumbido em redor da colmeia mesclava-se ao canto agudo dos filhotes de João de Barro à espera de alguns insetos. A arquitetura atingia o ápice na destruição dos dentes do castor. Das patas eram prisioneiros gravetos, mel e terra. Elementos líquidos, sólidos e poeirentos que agravavam a existência. As espécies não se cumprimentavam e nem havia tempo para a cortesia, afinal se é preciso alimentar os rebentos, construir casa, família, se proteger.
O sol indiferente tinha por princípio não discriminar nenhum deles. Pingos espessos como o resultado do néctar das flores abaixavam as asas dos bichos em amarelo e preto. Uma irritação nos olhos atingia o glóbulo e queimava as têmporas do animal dentuço. Fora o mormaço que tornava lento o voo do pardo progenitor: os filhos no isolamento barroco esperavam impunes. A chuva, igualmente justa, molhava todos.
No frio, então, se recolhem, de barriga cheia, à espera. A espera lenta, a espera calma, a gratuita e instintiva espera do tempo passar. Ao estourar da pinha o aviso é dado. Fujam daí, meus amigos. Fujam pelo clima. Aí vem vindo o fogo. Aí vem vindo: a vida. Preto e amarelo e patas e dentes e voo então se reduzem à luta pela sobrevivência, a impor-se sobre os vencidos, a constituir-se, a preencher: o vazio nítido: o sabor da água: o bolor do milho.
Enquanto de fora reflete o solene observador: será que elas têm consciência de que irão morrer? E uma mulher corteja um homem, planeja um filho: diz que é preciso trabalho, comida e estudo.
Aí vem vindo o fogo.
Raphael Vidigal
Pinturas: “trio nu: duas pulando, uma reclinada”; e “Fantástico Pôr do Sol”, respectivamente, de e. e. cummings.
17 Comentários
O sol …. !
PARABÉNS, RAPHAEL!
muito massa Raphael….parabens mais uma vez
EU ADOREI E AMEI SUA MENSAGEM
Já amei!
Sucesso! Raphael Vidigal! Abraços!!!
Parabéns, Vidi!! Orgulho!
massa…
Bacana!
Valeu rapha !!!!!
Muito bom, Raphael!
mUITO BOM!
Raphael,adorei,muito bom !!! o seu artigo,unido á música,que é poesia pura,mais Jards interpretando,só aplausos,meu querido.
Magnifico!
MARAVILHA!!!
Caro amigo Raphael,parabéns pelos maravilhosos artigos.Saúde e paz. Fraterno abraço.Manassés
Caramba,vc percorre um curto caminho e conta tudo o que quer contar.Me vem o cheiro das veredas de Guimarães e a secura transbordante de Graciliano mesclado tudo isso com a genialidade da música de Jards Macalé num universo de palavras e de cores.Adorei.