Musa da ‘Turma da Pilantragem’, Regininha lançou o hit ‘Teletema’

*por Raphael Vidigal Aroeira

“O meu amor sozinho
É assim como um jardim sem flor
Só queria poder ir dizer a ela
Como é triste se sentir saudade” Vinicius de Moraes & Carlos Lyra

“Oi, gente, eu sou aquela menina ‘bicona’ do disco ‘O Som da Pilantragem’… vocês se lembram? Pois é, agora que todo mundo ‘tá na minha’… uma amostrinha do ‘Pila n.º 2’… uma faixa ‘da pesada’: ‘Tem Dó’…”. É a própria Regininha quem se apresenta, com essas palavras descoladas, na capa do compacto simples “Apresentando Regininha”, lançado pela Polydor em 1968, uma espécie de single da época. Então com 22 aninhos, ela aparece com o braço espreguiçado, blusa amarrada em laço com a barriga de fora, e um sorriso meio desconfiado de quem foi pega no flagra.

“Claro que a ‘Turma da Pila’ tá toda aí, bem como o nosso ‘chefe’ supremo, Nonato Buzar, amém! Ah, outra coisa: o meu LP já vem por aí. O título?… ‘Me Ajuda Que a Voz Não Dá’… Tá? ‘Bye’!…”, continua ela no encarte. O título é uma referência bem-humorada a uma frase que Regininha soltou durante a gravação de “Primavera”, música de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes.

O pedido desesperado feito com a voz delicada de Regininha aparece na gravação que também congrega “Dó Ré Mim” (de Fernando César, lançada por Dóris Monteiro) e “Gosto Que Me Enrosco”, de Sinhô, em uma interpretação impagável do conjunto, cheia de “pilantragens”, que chegou à praça em 1968. A guria arremata com um P.S. pra lá de provocativo. “Esta capa é ‘colher de chá’; só vai sair nos primeiros três mil discos”.

Teletema. Carioca, Regininha veio ao mundo no dia 1º de outubro de 1945 como Regina Amália Serra de Souza, um nome comprido para uma voz tão pequena. Garota de classe-média como Nara Leão, ela estudou nos melhores colégios do Rio, onde foi colega de classe dos irmãos Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, futuros ícones da música popular brasileira, e do cantor Eduardo Conde. A vida artística transcorreu paralelamente à de colegial. Em 1971, Regininha se formou em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio.

A primeira aparição musical de Regininha foi em 1966, no Teatro Santa Rosa, quando apresentou sua composição “Ipanema”, feita com Durval Ferreira. Todos os elementos de uma bossa nova juvenil estavam lá, tanto na garota quanto em “Ipanema”. O convite para participar da “Turma da Pilantragem” veio em 1968. O movimento inventado por Carlos Imperial, o mais controverso produtor musical que o Brasil já teve, era uma espécie de Jovem Guarda menos comportada, que reunia o balanço da bossa nova com uma estratégia mercadológica voltada para a imagem descolada de seus integrantes. Falava de carros, praia, sol e mar. O alto-astral contagiava e tomava conta.

Mas, como todo produto midiático, durou pouco. Foram dois discos e Regininha já estava em carreira-solo. Em 1970, ela emplacou o seu maior hit, quando a música “Teletema”, de Tibério Gaspar e Antônio Adolfo, entrou para a trilha-sonora da novela “Véu de Noiva”, da Rede Globo. Posteriormente, a música recebeu regravações de Evinha, Erasmo Carlos e do Kid Abelha, na voz de Paula Toller. “Rumo/ Estrada turva/ Sou despedida/ Por entre/ Lenços brancos/ De partida/ Em cada curva/ Sem ter você/ Vou mais só”. Um clássico absoluto.

E foi só. Depois de se unir a Dorinha Tapajós e Malu Balona no trio vocal Umas e Outras, Regininha contraiu matrimônio e passou a atuar como vocalista de estrelas da MPB, como Gil, Gal, Ivan Lins, João Bosco, Cauby Peixoto, Angela Maria, Roberto Carlos, Chico Buarque, Edu Lobo, Alceu Valença, Elba Ramalho e até Reginaldo Rossi. Ela ainda lançou um compacto duplo que continha “Simples Mágica”, música de sua autoria regravada por Roberto Carlos em 1982. Por fim, atuou como locutora e se dedicou a jingles.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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