*por Raphael Vidigal Aroeira
“Nada fica
a não ser o que for bonito
A ideia fixa
é meu esporte favorito” Paulo Leminski
Desde a demissão de Mano Menezes em agosto de 2019, após uma péssima sequência de apenas uma vitória em 18 jogos, o Cruzeiro iniciou uma verdadeira montanha-russa de treinadores, com perfis variados e muitas vezes opostos entre um e outro.
Aposta. O primeiro chamado para tentar reerguer o time foi Rogério Ceni, tido como aposta em razão do bom trabalhado realizado no Fortaleza. Ele permaneceu apenas oito jogos no comando da equipe, com duas vitórias e um aproveitamento de 33%.
Tentando implantar um estilo de jogo diferente de seu antecessor, Ceni enfrentou problemas no vestiário com medalhões como Thiago Neves e Dedé e não suportou a pressão do elenco, apesar do apoio de boa parte da torcida que ele ainda mantinha. Quando Ceni foi demitido, a Raposa estava em 16º lugar, uma posição acima da zona de rebaixamento.
Medalhão. Atendendo a um pedido dos jogadores, o medalhão Abel Braga, que já havia trabalhado com Fred e Thiago Neves no Fluminense, foi anunciado como substituto. Abel obteve 40% de aproveitamento em 14 jogos, com três vitórias, oito empates e três derrotas.
Mas, ao sair, faltando apenas três jogos para o fim do Campeonato, a situação era ainda mais periclitante, com o time na 17ª colocação, já na zona de rebaixamento, com perda de pontos para concorrentes diretos como CSA e Avaí.
Incêndio. Adilson Batista chegou para apagar o incêndio nessa condição. Experiente, identificado com a torcida, também não deu conta do recado. Perdeu as três últimas partidas e o Cruzeiro teve o seu inédito rebaixamento decretado. No ano seguinte, Adilson saiu disparando contra a falta de planejamento da diretoria, após sua demissão ainda durante a disputa do Campeonato Mineiro.
Para o início da série B, o perfil buscado foi parecido: Enderson Moreira, mineiro de Belo Horizonte, com experiência em equipes de porte médio e um bom trabalho no rival América. A esperança durou apenas doze partidas, com uma sequência de seis sem vitórias, que culminou em sua demissão, com pedido público do principal patrocinador da equipe, Pedrinho dos Supermercados BH.
Experiente. Enderson teve o ônus de receber a equipe com uma punição de menos seis pontos na Série B, o que impediu que ele se aproximasse do G-4, mesmo com as vitórias iniciais na disputa. Contra a vontade da maior parte da torcida, Ney Franco chegou para assumir o desafio de levar o Cruzeiro de volta à Série A. O perfil era parecido com o de Enderson.
Ney havia trabalhado nas categorias de base do Cruzeiro e assumido interinamente o comando da equipe principal entre 2002 e 2004. A seu favor, contou o trabalho recente de arrancada com o Goiás na Série B passada, além de experiência em diversos times do primeiro escalão e da prateleira do meio do futebol, como Flamengo, São Paulo, Botafogo, Coritiba, Sport e Vitória.
Retorno. Nada disso foi suficiente para evitar o novo fracasso. Na penúltima colocação da Série B, Ney foi demitido com 33% de aproveitamento em sete jogos. Para seu lugar, o Cruzeiro anunciou o retorno do pentacampeão mundial Luiz Felipe Scolari, quase vinte anos depois da primeira passagem pelo clube.
Felipão deixou claro que a realidade era escapar da terceira divisão, e nunca falou em acesso, o sonho dos cruzeirenses. Concluída a missão de garantir a permanência da Raposa na segunda divisão, Felipão pediu o boné alegando que não cumpriram com ele o que havia sido combinado, como, por exemplo, salários em dia. O medalhão deixou o time estrelado com nove vitórias, oito empates e quatro derrotas em 21 jogos.
Centenário. Nova encruzilhada para o clube, que, no ano de seu centenário, resolveu colocar as fichas novamente em uma aposta: Felipe Conceição, com bons trabalhos no América e no Guarani. O maior feito do treinador à frente da Raposa foi derrotar o rival Atlético, futuro campeão brasileiro e da Copa do Brasil, no único clássico do ano, por 1 a 0, com uma estratégia inteligente que funcionou ali.
Porém, a eliminação na Copa do Brasil para o Juazeirense azedou a relação de vez e Conceição saiu do clube após 19 partidas, somando oito vitórias, três empates e oito derrotas, sendo duas delas nas duas primeiras rodadas da Série B, com 47% de aproveitamento. Para seu lugar, nova aposta.
Z-4. A torcida chiou desde o princípio, mas Mozart acabou sendo bancado e contratado pela diretoria. O novato treinador vinha de experiências à frente de CSA e Chapecoense. Em 13 jogos, ele ficou nove seguidos sem vencer, obtendo apenas dois triunfos, quatro derrotas e sete empates. Um aproveitamento de 33% que carregou a equipe novamente para a zona de rebaixamento da Série B.
Com situação similar a do ano anterior, a solução foi idêntica. Convocar um medalhão. No caso, Vanderlei Luxemburgo, de saudosa memória da tríplice coroa, porém com uma última passagem apagada pelo clube, em 2015, quando também foi demitido pelo risco de rebaixamento. O Professor chegou com discurso oposto ao de Felipão, falando em acesso o tempo todo e evitando pensar em terceira divisão.
Vai e volta. A chegada surtiu efeito inicial, mas não foi suficiente para manter o fôlego até a arrancada de volta à elite. Sob o seu comando, foram 23 jogos, com oito vitórias, onze empates e quatro derrotas, um aproveitamento de 51%. O Avaí, que subiu na quarta colocação, teve aproveitamento total de 56%. Luxemburgo renovou contrato para a temporada seguinte, mas a compra do clube por Ronaldo culminou em sua demissão e na de Alexandre Mattos.
Agora, o Cruzeiro volta a ter um técnico que é uma aposta. O uruguaio Paulo Pezzolano, de 38 anos, chega com o aval do ex-zagueiro Paulo André, responsável direto pela contratação. Adequado à realidade orçamentária do clube, o treinador é uma incógnita. Se a experiência for parecida com as de Rogério Ceni, Felipe Conceição e Mozart, a torcida tem motivos para ficar preocupada.
Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2022.