Fernando Brant criou parcerias históricas com Milton e foi gravado por Elis

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Solto a voz nas estradas
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra
Como posso sonhar?” Fernando Brant & Milton Nascimento

Fernando Brant nasceu em Caldas, interior de Minas Gerais, no dia 9 de outubro de 1946, e morreu em Belo Horizonte, no dia 12 de junho de 2015, aos 68 anos, vítima das complicações de um transplante de fígado. Aos cinco anos, mudou-se para Diamantina, antes de rumar para a capital mineira, onde cursou Direito e trabalhou como jornalista, escrevendo para as revistas “O Cruzeiro”, “A Cigarra” e outras publicações dos Diários Associados.

Em 1966, estreou como letrista, a convite do amigo Milton Nascimento, para quem escreveu os versos de “Travessia”, música que conquistou o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, em 1967. Daí pra frente, a carreira de Brant decolou. Membro do Clube da Esquina, ele se tornou o principal parceiro de Milton, e assinou sucessos como “Canção da América”, “Ponta de Areia”, “Maria, Maria”, “Nos Bailes da Vida”, “Paisagem da Janela” (com Lô Borges), e outras, sendo gravado pelas maiores cantoras do país, entre elas Elis Regina, Nana Caymmi e Maria Bethânia.

“Travessia” (clube da esquina, 1967) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Quem hoje canta a plenos pulmões “solto a voz nas estradas/ já não quero parar/ meu caminho é de pedra/ como posso sonhar/sonho feito de brisa /vento vem terminar” mal imagina que o autor dos versos recusou-os num primeiro momento. Foi preciso a insistência do amigo Milton Nascimento para Fernando Brant (1946- 2015) topar escrever e depois mostrar a letra de “Travessia”, inscrita sem o consentimento dos compositores pelo cantor Agostinho dos Santos no 2º Festival Internacional da Canção, em 1967, quando a música tirou o segundo lugar e Milton foi premiado como melhor intérprete.

“Outubro” (clube da esquina, 1967) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Leitor de Guimarães Rosa, fã de Fernando Pessoa e García Lorca, o letrista Fernando Brant traçou caminho singular na música brasileira. Cursou Direito, como o pai, provavelmente para garantir uma segurança financeira, mas teve sucesso como “amador” do jornalismo e das canções. Ele mesmo se recusara no primeiro momento a colocar letra em música de Milton, mas, uma vez convencido, não parou mais. Aplaudido indiretamente, pacato e discreto como bom mineiro de Caldas, teve a tal música, “Travessia”, defendida no Festival Internacional da Canção de 1967, e tirou o segundo lugar. No mesmo ano, eles compuseram “Outubro”, regravada por Vanusa, Simone, Alaíde Costa e outros.

“Beco do Mota” (clube da esquina, 1969) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Lançada por Milton Nascimento, parceiro de Fernando Brant na canção, o registro original de “Beco do Mota” remete à 1969, quando esse encontro histórico para a música brasileira ainda dava seus primeiros passos. Nascido em Itaobim, no Vale do Jequitinhonha, o músico Tadeu Franco admite que sentiu uma identificação imediata com o trecho “Diamantina é o Beco do Mota/ Minas é o Beco do Mota/ Brasil é o Beco do Mota”, e revela a participação de Fernando na melodia da faixa original. “Tem uma introdução que lembra um canto gregoriano, que o Fernando me contou que ele criou”, destaca o mineiro.

“Para Lennon e McCartney” (clube da esquina, 1970) – Márcio Borges, Lô Borges e Fernando Brant
“Márcio (Borges), Lô (Borges) e Fernando (Brant)… Posso definir os três numa só palavra: coração. E o que eles trouxeram de único para mim e para minha vida é uma coisa chamada amizade. Isso sim é uma das coisas mais importantes na minha vida. Sem amizade não consigo fazer nada, nem atravessar a rua”. A afirmação é de Milton Nascimento que, entre os amigos, sempre foi intimamente chamado de Bituca, e, em 1970, lançou uma parceria do trio que se tornou um de seus grandes sucessos. “Para Lennon e McCartney” explicitava no título a influência dos Beatles sobre o Clube da Esquina, mas deixava claro em seu verso final: “Sou do mundo/ Sou Minas Gerais”. E a música ganhou uma regravação da cantora Célia, no ano de 1971.

“Durango Kid” (clube da esquina, 1970) – Toninho Horta e Fernando Brant
“A música tem um poder de transformação que começa a se dar dentro dos autores. O meu dia fica muito melhor quando eu faço uma música. E eu gosto de ter bons dias na minha vida. Como diz o Ronaldo Bastos, quero manter a fé cega e a faca amolada”, afirma Lô Borges. Recentemente, Lô participou, ao lado de Ronaldo Bastos e de outros convidados, do programa “Milton e o Clube da Esquina”, exibido no Canal Brasil. “A produção me perguntou se eu queria cantar o ‘Clube da Esquina II’ com o Bituca. Nem titubeei. Ele é meu irmão”, diz. Em outro projeto revisionista, Lô deu voz a “Durango Kid”, de Toninho Horta e Fernando Brant, no álbum em homenagem ao letrista. “Tive a honra de prestar meu tributo ao grande Fernando Brant”, conclui. A música é de 1970.

“Feira Moderna” (clube da esquina, 1970) – Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant
Desde cedo, a música esteve presente na vida de Beto Guedes, que cresceu influenciado pelas serestas e choros de seu pai e o som único e pop que os Beatles traziam de fora do país. Na adolescência, ele integrou grupos ao lado de Lô Borges. Foi quando eles começaram a compor “Feira Moderna”, que contou ainda com o letrista Fernando Brant. A música foi levada ao palco pelo grupo Som Imaginário – do qual faziam parte Wagner Tiso e Tavito – no V Festival Internacional da Canção, em 1970, e marcou a estreia do jovem trio de compositores mineiros no ofício. Estavam ali as bases do movimento que ficaria conhecida como Clube da Esquina. Beto Guedes a regravou em 1978.

“Aqui É o País do Futebol” (samba, 1970) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Convidados pelos diretores Paulo Laender e Ricardo Gomes Leite para compor a trilha sonora do filme “Tostão, a Fera de Ouro”, Milton Nascimento e Fernando Brant escreveram canções que ultrapassaram aquele período específico. “Aqui É o País do Futebol”, samba moderníssimo em sua estrutura e com letra que exalta o poder de atenção do esporte sobre os brasileiros, embalou não só a Seleção Brasileira em 1970, quando ela conquistou o Tricampeonato Mundial no México, com uma equipe considera das melhores de todos os tempos, como seguiu emocionando e contagiando plateias mesmo após o encerramento da competição. Lançada por Milton, a música foi regravada por Elis Regina e Simonal.

“Paisagem da Janela” (clube da esquina, 1972) – Lô Borges e Fernando Brant
“Quando escutei o disco ‘Clube da Esquina’ pela primeira vez, eu estava na casa de um primo que era um ano mais velho e tinha uma loja de discos. Eu tinha 12 anos, e o álbum tinha acabado de sair, ainda nem tocava nas rádios. Ouvimos os dois lados de uma só tacada”, recorda. “Foi uma experiência que abriu a minha cabeça, não só musicalmente, mas em termos de atitude. O som era muito original e trazia algo do interior de um Brasil que estava muito acostumado ao eixo Rio-São Paulo e Bahia. E aí, Minas Gerais chegou com essa força”. O depoimento é do escritor Paulo Thiago de Mello, que lançou um livro inspirado nesse álbum que trazia, entre outras, “Paisagem da Janela”, música de Lô Borges e Fernando Brant, que se tornou um grande hit da MPB.

“San Vicente” (clube da esquina, 1972) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Lançada em 1972, no disco “Clube da Esquina”, a música “San Vicente”, parceria de Milton Nascimento e Fernando Brant, mereceu quase 60 regravações ao longo do tempo, entre elas de nomes como Ney Matogrosso, Mercedes Sosa, MPB-4, Vânia Bastos, Chico César, Beto Guedes, dentre outros. Em “Invento +”, homenagem de Zélia Duncan e Jaques Morelenbaum à obra de Milton lançada no ano de 2017, a angústia já famosa de “San Vicente” é ressaltada, desta vez, mais pela presença do violoncelo de Morelenbaum, capaz de uma experiência próxima à sinestesia ao impor sobre os outros versos a força das metáforas: “um sabor de vida e morte/ coração americano/ um sabor de vidro e corte”. Uma leitura nova para uma música conhecidíssima.

“Ponta de Areia” (clube da esquina, 1975) – Milton Nascimento e Fernando Brant
A reação de Leopoldina ao receber o convite para cantar com a Orquestra Ouro Preto o repertório de Milton Nascimento e Fernando Brant foi a mesma do filho da cantora ao ouvir a história da música “Ponta de Areia”: chorar. “Quando contei para meu filho que a música fala do fim da estrada de ferro que ligava Minas Gerais ao sul da Bahia, ele ficou sem entender e perguntou por que tinham feito isso”, conta. A parceria de Brant com Bituca, lançada no álbum “Minas”, de 1975, foi também a primeira a ser cantada por Leopoldina, quando ela tinha 4 anos, coincidentemente a mesma idade de seu primogênito ao escutar os versos que ela interpretou no concerto “Quem Perguntou Por Mim”.

“Saudade dos Aviões da Panair” (clube da esquina, 1975) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Morto em 2015, aos 68 anos, após complicações decorrentes de uma cirurgia de transplante de fígado, Fernando é o homenageado de “Vendedor de Sonhos”, álbum com produção de seu sobrinho e músico Robertinho Brant, que começou a ser arquitetado quando o compositor ainda era vivo. Foi o próprio Fernando, aliás, quem sugeriu que Joyce Moreno cantasse “Saudade dos Aviões da Panair”, uma das 20 faixas do disco. Além de exaltar a melodia “em compasso quebrado, em 5/4, que você não sente a estranheza, depois vira 3/4 e tudo continua parecendo fácil, intuitivo”, de Milton Nascimento, Joyce chama a atenção para a letra de Fernando, que, segundo ela, “faz da Panair (companhia aérea extinta em 1965 pela ditadura militar) um símbolo de um tempo e de um país que se perderam”, lamenta Joyce.

“Caxangá” (clube da esquina, 1977) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Tutti Maravilha não esconde de ninguém que considera Elis Regina a maior cantora da história da música brasileira, tanto que, no “Bazar Maravilha”, programa que ele comanda há décadas na rádio Inconfidência, dedica um quadro especial a Elis, anunciada apenas como “Ela”. Sendo assim, não é tarefa simples para o locutor eleger a sua gravação predileta da cantora com quem travou amizade e chegou a trabalhar como produtor de shows em Belo Horizonte. Mas Tutti não foge da raia, e aponta para “Caxangá”, parceria de Milton Nascimento e Fernando Brant, lançada pela cantora em 1977, com direito a dueto entre Elis e o próprio Milton, o outro cantor favorito do radialista.

“Credo” (clube da esquina, 1978) – Milton Nascimento e Fernando Brant
A primeira canção do álbum “Clube da Esquina 2” é, na opinião da cantora Bárbara Barcellos, uma das que melhor descreve o momento do país. “Tenha fé no nosso povo que ele acorda/ Tenha fé no nosso povo que ele assusta/ (…) Caminhemos pela noite com a esperança/ Caminhemos pela noite com a juventude”, dizem os versos escritos por Fernando Brant (1946-2015) para “Credo”, parceria com Milton Nascimento. “É uma música de protesto em meio a um contexto político e social e que tem sido cada vez mais atual”, avalia Bárbara. Essa perenidade do discurso que transparece em outras canções, como “San Vicente” e “Nuvem Cigana”, é uma das principais contribuições dos letristas do Clube da Esquina, de acordo com o músico Pablo Castro que acompanhou Lô Borges na turnê do “Disco do Tênis”.

“O Que Foi Feito Devera” (clube da esquina, 1978) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Mônica Salmaso percebeu esse mesmo teor político em “O que Foi Feito Devera”, que ela gravou pela primeira vez no disco “Vendedor de Sonhos”, de 2020. “Eu fiquei assustada ao sentir o quanto essa música se tornou atual de novo. Não podemos perder de vista que ela fala sobre desesperança e que precisamos lutar, com todas as nossas forças, contra isso”, aponta Mônica. A canção recebeu a voz de Elis Regina (1945-1982) em 1978, no histórico LP “Clube da Esquina 2”. Mônica guarda na memória o registro “muito forte” de Elis para versos do calibre de “o que foi feito, amigo, de tudo que a gente sonhou/ o que foi feito da vida, o que foi feito do amor”. Apesar disso, Mônica não considera que tenha sido um desafio cantá-la depois de Elis. “Não tenho isso, acho que não devemos brigar com a referência. Adorei cantar ouvindo dentro de mim a Elis, faz até um carinho na gente”, confidencia.

“Maria, Maria” (clube da esquina, 1978) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Foi em 2018 que, finalmente, a música “Maria, Maria” ganhou um videoclipe à altura de seu sucesso. Clássico incontestável da obra de Milton Nascimento e símbolo do Clube da Esquina, a produção audiovisual trouxe Camila Pitanga, Zezé Motta e Sophie Charlotte no elenco, entre outras atrizes. Lançada em 1978 no não menos histórico LP “Clube da Esquina 2”, a música nasceu a pedido de um balé do Grupo Corpo, com roteiro de Fernando Brant (1946-2015). Por conta disso, a história sobre várias mulheres negras que trabalharam na casa de Brant, no tempo em que ele morou em Diamantina, inspirou a letra do poeta mineiro. Elis Regina gravou a música no ano de 1980.

“O Medo de Amar É O Medo de Ser Livre” (clube da esquina, 1978) – Beto Guedes e Fernando Brant
Todo compositor da década de 1970 tinha uma ambição em comum: ser gravado por Elis Regina. A cantora, considerada pela maioria de especialistas como a maior brasileira no ofício de todos os tempos, ficou também conhecida por garimpar novos talentos, e o seu faro a levou direto ao Clube da Esquina de Milton Nascimento, Lô Borges, Toninho Horta e congêneres. Em 1980, Elis regravou “O Medo de Amar É O Medo de Ser Feliz”, parceria de Beto Guedes e Fernando Brant, lançada originalmente em 1978, no disco “Amor de Índio”. Décadas depois, foi a vez de Milton Nascimento colocar sua voz sagrada a serviço da canção, para o álbum “Vendedor de Sonhos”, homenagem a Brant.

“Canção da América” (clube da esquina, 1980) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Tão célebre quanto o “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”, de Tolstoi, ficou o “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito”, “todo artista tem de ir aonde o povo está”, “sou do mundo, sou Minas Gerais”, e outras máximas propagadas por Fernando Brant, autor, em parcerias com Milton Nascimento, de músicas como “Travessia”, “Canção da América”, “Nos Bailes da Vida”, “Bola de meia, bola de gude”, “Aqui é o país do futebol”, e uma infinidade de outras que não perdem a qualidade pela quantidade. “Canção da América” nasceu originalmente em inglês, e ganhou versão em português depois, sendo lançada em 1980, pelas vozes de Milton e do grupo Boca Livre.

“Nos Bailes da Vida” (clube da esquina, 1981) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Se o compositor tende a ficar à sombra de seu intérprete, Fernando Brant teve, para iluminar suas palavras, a voz e a melodia de Milton Nascimento e a entrega incomparável da maior cantora do Brasil, Elis Regina, além de inspirados encontros afetivos e musicais com Lô Borges e Geraldo Vianna. A associação entre música e sentimento, afeto e literatura, aliás, é uma constante em sua obra. A luta pelos direitos autorais e a atividade de cronista corroboram com a imagem do sujeito simples preocupado com seu tempo e os seus companheiros. Uma das frases máximas que Brant ajudou a consolidar foi “todo artista tem de ir aonde o povo está”, de “Nos Bailes da Vida”, parceria com Milton de 1981, gravada por Joanna, Fafá de Belém e até Mercedes Sosa.

“Amor Amigo” (clube da esquina, 1981) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Foi só após a morte de Elis que Milton começou a declarar publicamente em entrevistas o amor que nutria pela intérprete. Esse sentimento reprimido foi poetizado na música “Amor Amigo”, parceria de Milton e Fernando, lançada no álbum “Caçador de Mim”, em 1981, um ano antes da partida prematura de Elis, aos 36 anos. “Essa música fala sobre o amor real, entre homem e mulher, que o Milton sentia pela Elis, mas que, devido à timidez dele e pelo fato de serem amigos, ele nunca teve coragem de revelar. O Milton é apaixonado pela Elis de tal forma que não compõe pensando na própria voz, mas na voz da Elis”, observa a belo-horizontina Paula Santoro. Na visão da cantora, a letra de Fernando Brant se vale da metáfora do mar para retratar “os mistérios do feminino e da mulher que ele (Milton) nunca teve”. Por fim, ela acrescenta que “são comoventes” os versos “mas o que eu vou dizer/ você nunca ouviu de mim/ pois minha solidão/ foi não falar, mostrar vivendo”.

“Coração Civil” (clube da esquina, 1981) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Composta por Milton Nascimento e Fernando Brant, “Coração Civil” foi lançada em 1981 por Bituca, e ganhou regravações de Tadeu Franco e Ney Matogrosso. No bis do espetáculo “Bloco na Rua”, que Ney montou em 2019, ela ressurge ainda mais contundente. “Sem polícia, nem a milícia, nem feitiço, cadê poder?/ Viva a preguiça, viva a malícia que só a gente é que sabe ter/ Assim dizendo a minha utopia, eu vou levando a vida”, afirmam os versos. “A letra é o que sempre me move. O critério foi escolher músicas que eu gostasse de cantar, mesmo que já tivessem sido gravadas. Acho que o que as une é o fato de a maioria pertencer aos anos 1970, mas não precisava ter esse apelo, o elo sou eu”, sustenta Ney. “Canto muito o passado, mas não o reproduzo. Nas versões que faço, procuro trazer uma amostragem pop, às vezes rock”, avalia.

“Menestrel das Alagoas” (clube da esquina, 1983) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Em março de 1983, Fafá de Belém ganhou de presente uma música dos amigos Milton Nascimento e Fernando Brant, batizada de “Menestrel das Alagoas”. Imediatamente ela se perguntou por que havia sido escolhida para homenagear Djavan. Logo o engano se desfez e ela recebeu no estúdio o verdadeiro homenageado, o senador Teotônio Vilela, um dos símbolos pela redemocratização do Brasil, que lutava contra um câncer e faleceria antes de a canção ser entoada por Fafá nos comícios pelas Diretas Já. Na ocasião, a cantora também abriu uma caixa com uma pomba-branca que voou, levando a mensagem de esperança, por sugestão do cartunista Henfil. “Menestrel das Alagoas”, assim, se tornou emblema de um momento histórico para todo Brasil.

“Fruta Boa” (clube da esquina, 1983) – Milton Nascimento e Fernando Brant
“Fruta Boa”, parceria de Fernando Brant com Milton Nascimento, foi lançada por Nana Caymmi em 1983, no disco que a cantora dividiu com o pianista César Camargo Mariano, batizado de “Voz e Suor”. “Só pela beleza essas músicas já valem, elas são emocionantes acima de tudo. E isso tem a ver com a música mineira que decorre do século XVIII em Vila Rica e chega ao século XX com a mistura desses contrastes de uma cidade planejada em relação a ladeiras, picos e construções coloniais. As letras do Fernando Brant ajudaram a formatar a musicalidade do Clube da Esquina, que, no disco de 1972, sintetiza esses movimentos. Digo que é o primeiro álbum de world music do mundo”, avalia Rodrigo Toffolo, maestro da Orquestra Ouro Preto.

“Gente Que Vem de Lisboa” (clube da esquina, 1984) – Tavinho Moura e Fernando Brant
Entre trilhas sonoras, títulos da discografia-solo e outros em parceria, o músico Tavinho Moura contabiliza 18 álbuns na carreira, sem contar as participações. Mineiro de Juiz de Fora, ele recolheu, em 1976, a música de domínio público “Calix Bento”, oriunda da folia de reis, que ele adaptou para ser lançada naquele ano por Milton Nascimento, com enorme repercussão. Outra gravação de sucesso para a mesma música foi a da dupla caipira Pena Branca & Xavantinho. A canção desperta o histórico barroco e colonial das Minas Gerais. Também gravada pela dupla, “Gente Que Vem de Lisboa” foi composta com Fernando Brant, e lançada por Tadeu Franco, em 1984, no álbum “Cativante”.

“Canções e Momentos” (clube da esquina, 1986) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Quando começou a produzir “Revivências”, álbum em que, pela primeira vez, canta exclusivamente músicas da lavra alheia, o mineiro Sérgio Pererê decidiu agregar “Canções e Momentos”. Clássico da música brasileira composto por Milton Nascimento e Fernando Brant, ganhou a voz de Maria Bethânia em 1986, no disco “Dezembros”, e reflete sobre o próprio ofício de cantar. “Há canções e há momentos/ Que eu não sei como explicar/ Em que a voz é um instrumento/ Que eu não posso controlar/ Ela vai ao infinito/ Ela amarra a todos nós/ E é um só sentimento/ Na plateia e na voz”, diz a sensível letra de Brant.

“Chico Rei” (clube da esquina, 1986) – Wagner Tiso e Fernando Brant
Wagner Tiso tentou falar, ensaiou um discurso, mas não teve jeito: começou a chorar. Ele estava no encerramento da turnê “Clube da Esquina”, de Milton Nascimento, no Mineirão, diante de quase 15 mil espectadores. “Sou ‘manteiga-derretida’”. Conhecido por melodias sofisticadas para parcerias com Milton Nascimento, Fernando Brant e Ferreira Gullar, além de adaptações sobre temas do maestro Heitor Villa-Lobos, ele afirma que nunca se importou com o sucesso. Nascido em Três Pontas, no Sul de Minas, Tiso se tornou vizinho de Milton ainda criança. “Quando o Bituca tinha dois anos, o levaram pra morar em frente à minha casa”, recorda. A história da dupla estava só começando. Em 1959, Milton fundou o conjunto Luar de Prata e convidou Tiso para tocar acordeom. Foi Milton quem gravou, em 1986, “Chico Rei”, parceria do pianista com Fernando Brant, feita para a trilha sonora do filme homônimo.

“Bola de Meia, Bola de Gude” (Clube da Esquina, 1988) – Fernando Brant e Milton Nascimento
Dois dos principais nomes do “Clube da Esquina”, e parceiros de toda vida, Fernando Brant e Milton Nascimento compuseram juntos, em 1988, “Bola de meia, bola de gude”. Fernando, o autor dos versos, como sempre, Milton o responsável por dar voz e pela melodia. A música entrou para a trilha da novela “Coração de Estudante”, também música de Milton Nascimento, em parceria com Wagner Tiso; no ano de 2002 e na gravação do grupo 14 Bis, e referendou, ainda mais, o sucesso já consagrado. Os versos chamam a atenção para que jamais se esqueça do valor da infância, a importância de manter a chama da criança acesa no coração, as esperanças e os sonhos. “Há um menino, há um moleque/ Morando sempre no meu coração/ Toda vez que o adulto balança/ Ele vem pra me dar a mão…”.

“O Olhar Que Ama” (MPB, 1995) – Flávio Henrique, Fernando Brant e Robertinho Brant
Nascido em Belo Horizonte no dia 20 de julho de 1968, o cantor, compositor, instrumentista, arranjador e produtor cultural Flávio Henrique compôs com Paulo César Pinheiro e Luiz Tatit e viu suas canções ecoarem por meio das vozes de Milton Nascimento, Ed Motta, Fernanda Takai e Zeca Baleiro. Lançado pela gravadora “Velas”, o disco de estreia de Flávio Henrique, “Primeiras Estórias”, de 1995, trouxe a participação especial da cantora Titane em uma parceria do músico com o flautista Dado Prates, intitulada “O Que É O Baião”. A canção que dá nome ao álbum é outra criação da dupla. O disco ainda revelou composições feitas com Fernando Brant, Robertinho Brant, Sérgio Santos e Murilo Antunes. Com a família Brant, criou “O Olhar Que Ama”.

“O Beijo” (balada, 2016) – Fernando Brant e Geraldo Vianna
Em 2015, Geraldo Vianna colocou na praça o disco em que Mariana Brant interpreta parcerias dele com o tio da cantora, Fernando Brant (1946-2015). “Segundo Fernando, compor era um prazer naqueles tempos, fruto do encontro e da amizade; um ajudava o outro no polimento das composições”, observa Vianna. Em 2016, ele lançou “O Beijo: Um Poema Musical”, que trazia “O Beijo”, outra parceria com Fernando Brant interpretada por Mariana. “O beijo é um gesto, uma atitude que atravessa a história da humanidade e representa momentos importantes em nossa vida, nos conduzindo a várias experiências e sentimentos. Desde o carinho, o respeito e a sensualidade, até o beijo histórico que induz à traição”, resume Geraldo Vianna.

“Lição de Amor” (balada, 2017) – Fernando Brant e Dalto
Evinha é uma cantora singular dentro da música brasileira, embora muita gente possa confundir sua origem. Talvez isso ocorra pela ternura da voz. Mas a intérprete que reside em Paris desde a década de 70 apareceu para o país no início dos anos 1960, como integrante do Trio Esperança, ao lado dos irmãos Mário e Regina. A época – que também surgiu o Trio Ternura, com Jussara, Robson e Jurema – era profícua no estilo. “Uma Voz, Um Piano” é apenas o sétimo álbum da carreira-solo de Evinha. Pontual como os demais, preza também pela sofisticação e o minimalismo contidos no formato que ela estreia em disco ao lado do marido, o pianista francês Gerard Gambus – motivo pelo qual ela trocou o Rio de Janeiro por Paris. No repertório, comparece “Lição de Amor”, última letra escrita por Fernando Brant, com a melodia do músico Dalto.

“A Música e o Circo” (MPB, 2018) – Tavinho Moura, Fernando Brant e Beto Lopes
Nascido em Juiz de Fora, o mineiro Tavinho Moura integrou o Clube da Esquina com Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, Toninho Horta, Wagner Tiso e outros bambas da turma. Programando a continuação do álbum “Conspiração dos Poetas”, feito com Fernando Brant, ele começou a receber letras inéditas do parceiro, mas a partida precoce, em 2015, interrompeu o processo e deixou os planos em suspenso. Tavinho decidiu voltar aos escritos em 2017 e, no ano seguinte, colocou na praça “O Anjo na Varanda”, cuja delicada capa trazia desenhada uma lona de circo, referência à faixa “A Música e o Circo”, composição que ganhou o acréscimo de Beto Lopes. Na letra de Brant, ele compara a atividade musical de instrumentos aos corpos dos artistas circenses. A gravação trouxe as participações de Mariana Brant, sobrinha de Fernando, e Nelson Ângelo, outro participante do Clube da Esquina. É para acalentar a alma.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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