*por Raphael Vidigal Aroeira
“Longe de casa
Há mais de uma semana
Milhas e milhas distante
Do meu amor…” Evandro Mesquita & Ricardo Barreto
Uma batucada “feroz e emocionante” embalava os versos que levaram a Portela a ser campeã no Carnaval de 1980, na contramão da Vieira Souto, vindo pela Praça da Paz até o Arpoador, onde seria inaugurado o circo, enquanto o sol se punha no horizonte cálido do Rio de Janeiro.
“A brisa me levou/ Para um reino encantado/ Onde eu me fiz menino-rei/ E era o circo/ O meu palácio dourado/ Como é doce ser criança outra vez/ E me atirar nos braços da alegria/ Quero me perder na minha imaginação/ E brincar na ilusão”, cantava a trupe, que, naquele entusiasmo mágico, transformava as alas da escola de samba nos grupos de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone (de Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães) e Manhas e Manias (de Débora Bloch e Andréa Beltrão) e no coletivo de dança Coringa (de Deborah Colker e Graciela Figueroa).
Sonho. “A gente chegou lá e o nosso sonho estava de pé, o circo montado, e começava ali uma revolução cultural na beira da praia”, sintetiza Evandro Mesquita. As lembranças são da inauguração do Circo Voador, na praia do Arpoador, em 1982, quando a Blitz se apresentou pela primeira vez no local.
Quarenta anos depois, o evento se tornou um marco do pontapé inicial de toda uma geração, que explodiria nas rádios a partir do compacto “Você Não Soube Me Amar”, da Blitz capitaneada por Evandro Mesquita, e que contava, por exemplo, com Fernanda Abreu nos vocais e Lobão na bateria.
Estouro. Carioca da gema, Evandro Mesquita nasceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de fevereiro de 1952. Começou a carreira artística como ator do grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone, influência que levou para seu trabalho na Blitz, grupo que fundou em 1982, lançando, no mesmo ano, o primeiro disco, que estourou nas rádios de todo o Brasil com o sucesso “Você Não Soube Me Amar”. E, na carreira-solo, Evandro também trabalhou no cinema e na televisão, caindo nos braços do público como o carismático e atrapalhado personagem Paulão da Regulagem em “A Grande Família”.
“A principal contribuição da Blitz foi ter arrombado as portas das gravadoras, rádios e TVs, para esse tipo de música de linguagem jovem, mais direta, e a gente ter vendido muitos compactos, cerca de um milhão e quinhentos, numa época de crise, fez com que as gravadoras abrissem as portas e a gente pudesse falar para a nossa geração e mostrar o que estávamos fazendo”, detalha o cantor.
Um ano depois do enorme sucesso de seu disco de estreia, a Blitz seguiu na estrada e entrou em estúdio para gravar “Radioatividade”. O grande destaque do álbum ficou com a balada “A Dois Passos do Paraíso”, de Evandro Mesquita e Ricardo Barreto. Com uma letra inocente, simples, embebida em leveza, a canção refletia sobre as expectativas de um casal apaixonado, incluindo, espertamente, uma brincadeira com os programas de rádio amorosos, em que as pessoas dedicavam músicas na esperança de serem agraciadas com a flecha do cupido. Esse recurso evidenciava, novamente, a veia cômica e a influência do teatro sobre a Blitz e especialmente sobre o vocalista do conjunto.
Novidades. Para celebrar essa fase áurea, a Blitz se apresenta nesta sexta (11) em Belo Horizonte, a bordo de um repertório de sucessos de dar inveja. Afinal de contas, são 40 anos de estrada, mas a trupe não olha só para o passado. Evandro promete ao menos quatro lançamentos para esse ano, incluindo “um resgate dos hits, um lado B de Blitz, com músicas que não tiveram tanta exposição, um de inéditas e um de ‘Blitz no dos outros’, interpretando Roberto Carlos, Gilberto Gil, Belchior, Paulo Diniz, Zé Kéti”, enumera.
Da beira da praia para a beirada da fogueira, Evandro prepara outro lançamento inédito pra breve. Trata-se de “Ser Tão Imenso”, gravada com a atual formação da Blitz, uma parceria com Coral, artista do interior da Bahia, para quem o entrevistado é só elogios. “Ele tem uma poesia muito instigante e uma postura cênica impressionante, é um baita artista”, exalta, antes de admitir que não tem acompanhado tão de perto a nova cena da música brasileira. “Sei que tem muita coisa boa pintando por aí”, arremata.
Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2022.