*por Raphael Vidigal Aroeira
“Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir…” Chico Buarque
Um infarto fulminante levou embora a vida da cantora Telma Costa, em 1989. Na época, a revista Veja publicou: “Telma foi encontrada morta na terça-feira, dia 7 de novembro, 1989, aos 35 anos, num dos quartos do hotel Arpoador Inn, no Rio de Janeiro. Segundo o laudo médico, a cantora foi fulminada por um ataque cardíaco. Esta versão, no entanto, é contestada pela polícia, que suspeita que a morte de Telma Costa foi causada por uma ingestão excessiva de drogas”. Telma estava a dez dias de completar 36 anos.
Irmã da compositora Sueli Costa (dos sucessos “Jura Secreta”, “Vida de Artista”, “Dentro de Mim Mora Um Anjo”, e outras parcerias com Abel Silva), Telma nasceu em Juiz de Fora, interior de Minas, em uma família musical. A mãe era professora de piano e canto coral no Conservatório da cidade, e incentivava a atividade aos filhos, tanto que todos percorreram essa trilha.
História. O ápice da trajetória musical de Telma aconteceu ao gravar “Eu Te Amo”, parceria de Chico Buarque e Tom Jobim que teria sido plagiada pela cantora britânica Adele. O burburinho das redes sociais durou pouco. A assessoria de Chico tratou de dar um ponto final à história ao negar a acusação de plágio.
Foi em dueto com Chico Buarque que Telma registrou a versão mais conhecida da música feita de encomenda para o filme homônimo, protagonizado por Paulo César Pereio e Sônia Braga na década de 1980, com direção de Arnaldo Jabor, e que se consagrou como o maior êxito do cineasta.
Beleza. Com a habitual habilidade poética de Chico, a letra conduz o ouvinte aos meandros da relação a dois, em suas desavenças e reencontros, que tem no corpo o espaço em que se infiltra e explode, e combinou imagens de pura sensualidade a lamentos típicos da dor de cotovelo. “Se na bagunça do teu coração (…) /Teus seios inda estão nas minhas mãos…”. A faixa consta em “Vida”, LP lançado por Chico em 1980. Posteriormente, em 1984, Chico e Telma foram acompanhados pelo piano de Tom Jobim, nas gravações do programa “Bar Academia” em homenagem ao Maestro Soberano.
Encontros. Telma conheceu Chico Buarque aos 15 anos, em um show no Clube de Juiz de Fora, quando cantaram juntos “Sem Fantasia”, outra canção romântica e sensual de Chico. Era o primeiro dueto. Em 1983, Telma lançou seu único disco-solo, com “Fruta Boa” (de Milton Nascimento e Fernando Brant), e “Certeza da Beleza”, música de Caetano Veloso que contou com a presença do baiano nos vocais, entre canções de João Bosco, Ronaldo Bastos e Toninho Horta. A produção e os arranjos ficaram a cargo de César Camargo Mariano e Dori Caymmi. Um time de peso.
Legado. Ela foi casada com o cineasta Walter Lima Jr., com quem teve Branca. Para o filme “Inocência”, do marido, interpretou “Azulão”, modinha de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira. A outra filha, Fernanda Cunha, também se tornou cantora e gravou, em 2007, ao lado do violonista Zé Carlos, álbum só com as parcerias de Chico Buarque e Tom Jobim. Incluindo “Eu Te Amo”.
Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.