Conexão Brasil-Portugal: Conheça músicas que unem os dois países

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Dum português bendito, sem igual
Eu sigo o mesmo trilho:
Por cada pedra deste Portugal
Eu arriscava um filho!” Florbela Espanca

As conexões entre Brasil e Portugal datam desde o período da colonização, o que criou, a partir de então, laços culturais que se estendem até os dias de hoje. Com uma troca rica e diversificada, os dois países influenciaram um ao outro na formação de sua gênese cultural, em especial o Brasil, esse caldeirão de ritmos e manifestações. Uma das maiores estrelas da música popular brasileira, por exemplo, é portuguesa, a inesquecível Carmen Miranda. Por outro lado, o português Roberto Leal adotou o Brasil como a sua pátria musical.

“Disseram Que Eu Voltei Americanizada” (samba, 1940) – Luís Peixoto e Vicente Paiva
Em 1939, Carmen Miranda estreou na Broadway e iniciou uma carreira de sucesso nos Estados Unidos, participando de vários filmes. Quando retornou ao Brasil pela primeira vez, a cantora foi recebida no aeroporto por uma multidão de fãs, mas, ao se apresentar no Cassino da Urca, foi recebida friamente ao interpretar músicas em inglês.

A resposta veio em forma de samba, com “Disseram que eu Voltei Americanizada”, escrita especialmente para ela por Vicente Paiva e Luiz Peixoto. Na letra, Carmen, nascida em Marco de Canaveses, em Portugal, afirmava sua brasilidade, afinal de contas, ela morava no país desde os dez meses de idade. “Eu sou do camarão ensopadinho com chuchu!”, cantava.

“Barco Negro [Mãe Preta]” (fado, 1943) – Caco Velho, Piratini e David Mourão
Em 1959, o compositor Caco Velho passava temporada em Paris quando se assustou com uma notícia trazida pela filha Elisa. Um cantor britânico cantava a sua música “Mãe Preta” na televisão sem atribuir-lhe autoria. Caco Velho foi aos jornais cariocas e denunciou a nova apropriação europeia de sua cantiga, que acontecia pela terceira vez.

Lançada originalmente, em 1943, como um batuque pelo Conjunto Tocantins, “Mãe Preta”, parceria com Piratini, ganhou o mundo em forma de fado. A fadista portuguesa Maria da Conceição foi a primeira a gravá-la. Depois, a diva Amália Rodrigues, mas, como os versos foram censurados pela ditadura de Salazar, ganhou nova letra do português David Mourão e o nome de “Barco Negro”. Em 1975, Ney Matogrosso a regravou em seu LP de estreia na carreira-solo, “Água do Céu-Pássaro”. José Ramos Tinhorão escreveu que, ao cantar, Ney “chorava como uma rameira”.

“Trigueirinha” (fado, 1954) – António Vilar da Costa e Jorge Fernando
O apelido surgiu graças à voz suave e ao jeito sussurrado de falar. Isso aliado à languidez felina dos olhos que, não por acaso, apareciam juntos aos de um gato na capa do primeiro LP de Marisa Gata Mansa (1938-2003), quando seu nome artístico ainda era grafado com “z”: “A Suave Mariza”, de 1959. 

Foi o jornalista Djalma Sampaio quem criou a alcunha para a cantora carioca que, em 1953, gravou a primeira música de João Gilberto, “Você Esteve com Meu Bem”, à época, seu namorado. Duas décadas depois, em 1973, a artista inspirou o pai da moçambicana Mariza a batizar sua primeira filha. 

Eleita em 2003 pela BBC de Londres como a melhor cantora da Europa, a artista é fruto da união entre um português e uma moçambicana, e atualmente vive em Lisboa. Aos três anos, Mariza mudou-se para Portugal com a família e, em 1996, durante seis meses, ela cantou em um navio de cruzeiros que passava por toda a costa do Nordeste antes de atracar na Bahia, aos domingos.

“A Bahia tem muito da África, eu sentia-me dentro do continente onde nasci”, conta a intérprete, que, em 2019, lançou o aclamado álbum em que dá voz, entre outras, à clássica “Trigueirinha”, de António Vilar da Costa e Jorge Fernando, gravada pela primeira vez em disco no ano de 1954. Na faixa, Mariza recebe um time de peso, com inúmeras participações especiais.

“Amendoim Torradinho” (valsa, 1955) – Henrique Beltrão
Quando Carmen Miranda brincou com o duplo sentido na carnavalesca “Eu Dei”, de 1937, ela teve que se valer dos versos de Ary Barroso. O mesmo aconteceu com a cantora portuguesa Vera Lúcia, primeira intérprete da lânguida e sensual “Amendoim Torradinho”, obra de Henrique Beltrão lançada por ela em 1955, e que depois ganhou as vozes de Ney Matogrosso, Angela Maria, Alcione, Dóris Monteiro e Ivon Curi, entre outros.

O fato ainda era comum no ano em que Maria Bethânia gravou, “O Meu Amor”, de Chico Buarque, em 1978, até que uma nova geração de compositoras decidisse abordar o sexo com as próprias palavras, como Angela Ro Ro, Rita Lee, Vanessa da Mata, MC Carol e Karol Conká.

“Meu Vício É Você” (samba-canção, 1956) – Adelino Moreira
Nascido em Gondomar, município da cidade de Porto, em Portugal, Adelino mudou-se ainda criança, com a família, para o Brasil. E foi dentro de casa que ele recebeu os primeiros incentivos para seguir o ofício que o consagraria. “O pai do Adelino era um poeta parnasiano, e passou esse gosto para o filho, que também tinha uma veia musical. Você pode notar em algumas músicas que ele gostava de buscar referências históricas”, observa o radialista Acir Antão.

No entanto, foi a cidade do Rio de Janeiro e suas desventuras noturnas que melhor serviu de cenário para as criações do poeta, letrista e compositor, que lançou um único disco, em 1969, intitulado “Encontro com Adelino Moreira”, e sete compactos de 78 rotações entre 1944 e 1948, antes de conhecer Nelson Gonçalves. O músico morreu em 2002, aos 84 anos.

“O Nelson estava gravando vários tangos do Herivelto Martins com o David Nasser, então resolveram lançar com ele o ‘Mano a Mano’, do Carlos Gardel. Mas tinha que colocar outra música no lado B do disco de 78 rotações, e o Adelino ficava em cima do Nelson, que por insistência resolveu gravar o ‘Meu Vício É Você’. Essa gravação tem um improviso lindo do Jacob do Bandolim, e acabou que ela fez muito mais sucesso do que o lado A”, conta Acir Antão.

“Sabiá” (bossa-nova, 1968) – Chico Buarque e Tom Jobim
A primeira vez que ouviu Tom Jobim, Carminho “nem sabia de quem se tratava”. Ela “tinha 4 ou 5 anos e estava assistindo as novelas brasileiras que passavam em Portugal”, recorda. A música, porém, “marcou profundamente o meu coração”.

A canção era “Wave”, também conhecida como “Vou Te Contar” e, não por acaso, integra tanto o disco quanto o espetáculo que a portuguesa lançou em 2016 em homenagem ao Maestro Soberano. O show, que apresenta “essencialmente o repertório do CD”, combinava ainda alguns fados. Entre as canções, “Inútil Paisagem”, “Luiza” e “Sabiá”, que no álbum tem a participação de Fernanda Montenegro.

“Escolhi músicas que trazem versos cujos tempos verbais e modos de escrita se assemelham aos do português que falamos em Portugal; há diferenças de sotaque, e para mim não seria orgânico se fosse de outra maneira. Também procurei assimilar a diversidade de parceiros que teve o Tom”, diz Carminho.

“Nem às Paredes Confesso” (fado, 1969) – Artur Ribeiro, Ferrer Trindade e Maximiano de Souza
“O fado é triste porque é lúcido”. A constatação de Amália Rodrigues (1920-1999) demonstra o domínio que ela possuía sobre o gênero do qual se tornou a sua intérprete maior, sendo reconhecida como diva, rainha e voz do fado, dentre outras adjetivações hiperbólicas, à altura da cantora nascida em Lisboa, capital de Portugal.

Os pais, pobres, a deixaram para ser criada com os avós em Fundão, numa província conhecida como Beira Baixa, onde Amália tomou contatou com as cantigas do folclore português que consagraria para a posteridade, casos de “Alecrim”, “Quando Eu Era Pequenina”, “O Trevo”, “Rapariga Tola, Tola”, dentre outras, com uma afinação impecável, a serviço da extensão no cantar que se coadunava com a expressividade dos gestos.

Invariavelmente de xale preto, Amália garantia que nunca cantava igual, porque vivia sob constante mudança interna. “Uma Casa Portuguesa” simboliza essa devoção à pátria. As tertúlias promovidas em sua morada se tornam famosas e geram, inclusive, discos. Num deles, o poeta Vinicius de Moraes revela o que mudaria no povo português: o formalismo excessivo.

“Os portugueses precisam se desengravatar”, diz. Outra admiradora confessa de Amália no Brasil é a cantora baiana Maria Bethânia, que a equipara a Édith Piaf, Billie Holiday e Judy Garland no panteão das supremas. A gravação de Amália para o clássico “Nem Às Paredes Confesso”, de Artur Ribeiro, populariza a canção em solo tupiniquim, e rende regravações de Nelson Gonçalves, Angela Maria, Roberto Carlos e Agnaldo Rayol.

“Arrebita” (tradicional, 1971) – adaptação de Roberto Leal
António Joaquim Fernandes morreu em setembro de 2019, aos 67 anos, vítima de câncer de pele. Com estas informações, poucos o reconheceriam. Foi no Brasil, para onde se mudou aos 11 anos, que o cantor nascido em Macedo de Cavaleiros, em Portugal, adotou o nome artístico de Roberto Leal, alcançando um enorme sucesso ao popularizar os fados de seu país. Entre os grandes sucessos de Roberto Leal, está a tradicional cantiga folclórica “Arrebita”, que ele adaptou à sua própria maneira e apresentou inúmeras vezes no programa do apresentador Chacrinha e em várias outras atrações de auditório no Brasil.

“O Vira” (MPB, 1973) – Luhli e João Ricardo
Antes mesmo de iniciar parceria de enorme sucesso com a cantora, compositora e instrumentista Lucina, a carioca Luhli conheceu duas figuras que mudariam sua trajetória artística: o português João Ricardo e o pantaneiro, como o próprio nome artístico dizia, Ney Matogrosso.

Juntos eles foram parte de uma das bandas mais expressivas do Brasil, especialmente em tempos de ditadura militar, responsáveis por provocar e escandalizar o regime com vestes, maquiagens e movimentos corporais que lhes transformavam em figuras híbridas em cima do palco. Tais gestos, porém, não teriam o mesmo impacto se não estivessem acompanhados de frases tão ou mais emblemáticas. É o caso da música “O Vira”, que aludia a universo mágico e fantástico em 1973.

“Fado Tropical” (fado, 1973) – Chico Buarque e Ruy Guerra
“Fado Tropical”, como explica o título, une os problemas e as belezas do Brasil a Portugal, de quem foi colônia. Na época da composição, feita para a peça “Calabar: o Elogio da Traição”, Chico Buarque se utilizava da música para criticar a ditadura militar vigente no Brasil e exaltar a Revolução dos Cravos, que derrubou o regime de Salazar em Portugal.

Lançada por Chico, a música recebeu uma versão de Clara Nunes, em 1977, no LP “As Forças da Natureza”. Em 2017, “Fado Tropical” batizou a turnê que virou disco de Edson Cordeiro, onde ele interpreta o principal gênero da música portuguesa, na linhagem da diva Amália Rodrigues. Edson Cordeiro estreou nos palcos em 1988, na montagem brasileira para a ópera-rock “Hair”, dirigida por Antônio Abujamra.

“Meu Amor É Marinheiro” (fado, 1974) – Manuel Alegre e Alain Oulman
O poeta português Manuel Alegre estava preso pela ditadura de Salazar quando escreveu “A Trova do Amor Lusíada”, transformada em música por Alain Oulman e lançada como o fado “Meu Amor É Marinheiro”, por Amália Rodrigues, em 1974. Em 2017, o cantor brasileiro Edson Cordeiro lançou o disco “Fado” e revisitou a canção.

“Sempre cantei um fado ou outro desde criança. Mas sou um convidado dentro desse universo, não tenho a mesma familiaridade que os músicos portugueses que escolhi para me acompanhar no disco, por exemplo. Minha grande referência para esse trabalho foi a Amália Rodrigues (fadista portuguesa, 1920-1999), por isso selecionei um repertório clássico de fados que ela eternizou e que são de uma poesia grandiosa”, disse Edson Cordeiro, na ocasião.

“Tanto Mar” (samba-fado, 1975) – Chico Buarque
Admirada pelo ditador Salazar e utilizada como propaganda pelo regime, Amália Rodrigues é acusada de aderir à ditadura, o que a traz profunda amargura. Uma foto registrada em junho de 1975, em uma manifestação do Partido Socialista após a Revolução dos Cravos que restabeleceu a democracia no país, deixa claro o seu posicionamento.

Na ocasião, ela é vista em sua varanda e conclamada a descer para perto do povo, e não pensa duas vezes. Orgulhosamente, toma a rua com sua gente. Clandestinamente, durante os anos de tirania salazarista, Amália escondia e protegia refugiados políticos e fazia doações secretas para o Partido Comunista Português.

Em 1975, enquanto a ditadura militar ainda vigorava no Brasil, Chico Buarque compôs o samba-fado “Tanto Mar” para celebrar a Revolução dos Cravos em Portugal. Apresentada em Portugal, a letra foi censurada no Brasil e liberada apenas em 1978, com “Cálice” e “Apesar de Você”, ambas de teor político.

“O Circo Vem Aí” (toada, 1976) – Abílio Manoel
Abílio Manoel nasceu na capital Lisboa, em Portugal, mas cedo mudou-se para o Brasil. Em 1969, venceu o II Festival Universitário da TV Tupi, com “Pena Verde”, provavelmente o seu maior sucesso, que alcançou o topo das paradas de sucesso no ano seguinte. Antes, ele já havia concorrido em festivais com músicas como “Catavento” e “Quem Dera…”.

No ano de 1976, dentro do álbum “América Morena”, apresentou ao mundo a delicada toada “O Circo Vem Aí”, que capta a preparação de uma cidadezinha para a chegada da atração principal, que mobiliza todos os habitantes. É uma dessas raridades a serem descobertas.

“Canção de Engate” (balada, 1984) – António Variações
Havia uns discos de Amália Rodrigues (1920-1999), nascida há um século, na casa dos pais, incluindo coletâneas de fados. “Amália era uma força da natureza, voz e feeling incomparáveis. Seu talento é tão imenso que, até hoje, sua sombra paira sobre toda a música portuguesa”, exalta. Depois, durante um tempo, ao se mudar com a mãe para “a casa de três tias viúvas, bem portuguesinhas”, o contato se intensificou.

“Uma delas, a tia Verônica, era muito musical, ouvia de tudo, com direito a muita música portuguesa antiga”, relembra Zeca Baleiro, que lançou, em 2020, “Canções D’Além Mar”, em que dá voz a obras de compositores lusitanos da contemporaneidade, casos de Pedro Abrunhosa, José Afonso e Jorge Palma, dentre outros. Os registros congregam instrumentistas de Brasil, Portugal e da Orquestra de Cordas de São Petersburgo, na Rússia.

Nesse bojo está António Variações (1944-1984), ícone gay do pop português, de quem ele regravou “Canção de Engate”, cujos primeiros versos determinam: “Tu estás livre e eu estou livre/ E há uma noite para passar/ Porque não vamos unidos/ Porque não vamos ficar/ Na aventura dos sentidos”. Enquanto o refrão condensa: “Vem que o amor/ Não é o tempo/ Nem é o tempo/ Que o faz/ Vem que o amor/ É o momento/ Em que me dou/ E em que te dás”.

Variações morreu aos 39 anos, provavelmente vítima das complicações de uma AIDS jamais assumida. Baleiro afirma “não ter pensado nessa transgressão” ao cantar a música no contexto de um país que elegeu Jair Bolsonaro à presidência da República. “Mas qualquer grito libertário, ainda que involuntário, é importante nesse Brasil careta e intolerante de hoje”, garante.

“Vira-Vira” (rock, 1995) – Dinho e Júlio Rasec
Em 1995, a banda Mamonas Assassinas estourou em todo o Brasil, tornando-se um fenômeno de proporções poucas vezes vista na indústria fonográfica do país. No embalo do sucesso, a música “Vira-Vira”, um rock humorístico de Dinho e Júlio Rasec, alcançou o segundo lugar entre as mais tocadas do país.

Inspirada em uma piada do humorista Costinha, também faz uma espécie de paródia da cantiga “Arrebita”, hit do português Roberto Leal, radicado no Brasil. A canção também chegou a Portugal e passou a ser utilizada para ilustrar, acidamente, escândalos de corrupção praticados no país lusitano. “Vira-Vira” foi responsável pelo primeiro clipe da história da banda Mamonas Assassinas.

“Queria Morar Num Boteco” (samba, 2020) – Roger Resende
Literalmente mascarada, Joyce Cândido, 37, aparece sambando em uma sequência de imagens do videoclipe “Queria Morar Num Boteco”, onde ela alterna looks variados. O adereço que se tornou peça obrigatória durante a pandemia do novo coronavírus, é uma das peças presentes que, como as demais, não dispensa o charme e entra no ritmo do gênero mais popular do Brasil.

Ao invés de impedir, a doença transformou a canção em um hino ainda mais atual. “Com a chegada da pandemia, ela passou a fazer mais sentido! Nossa vontade de ir para a rua, sentar num boteco e ver os amigos só cresce a cada dia”, exclama Joyce. “O fato é que eu moro num apartamento/ Mas queria mesmo é morar num boteco”, diz o refrão da música de Roger Resende, mineirinho bom de Juiz de Fora que não nega a adoração local pela cultura boêmia. O samba já havia sido escolhido como single antes da Covid-19 chegar o Brasil.

Com os obstáculos impostos pela enfermidade, a trupe decidiu adaptar a ideia do clipe e gravar remotamente, com a participação de amigos que enviaram vídeos de suas próprias casas, incluindo o português António Zambujo, que canta em dueto com a anfitriã. “O que mais ouvimos são as pessoas dizerem que o refrão dessa música diz tudo o que estão pensando no momento”, garante Joyce.

“Corre o Munda” (MPB, 2020) – Adriana Calcanhotto
“Ninguém na Rua” abre os trabalhos de “Só”, disco de nove canções composto por Adriana Calcanhotto no tempo recorde de onze dias, durante a quarentena imposta aos brasileiros por conta da pandemia do novo coronavírus. Dedicado a Moraes Moreira (1947-2020), o lançamento chegou à praça menos de um ano após o elogiado “Margem” (2019), outro fator inédito. Ao longo de sua carreira, iniciada no mercado fonográfico em 1990 com o irreverente “Enguiço”, a intérprete jamais lançou discos autorais com uma distância tão curta entre um e outro.

“Corre o Munda”, que traz a explicação de que os romanos chamavam o rio que banha Coimbra de munda, reflete a nostalgia de Adriana da cidade portuguesa em que ela escolheu morar, e para a qual a pandemia a impediu de regressar. Com uma poesia mais elaborada, a espontaneidade desse sentimento parece contribuir para a beleza da música, cujo fulgor fica nítido frente a um cenário de mormaço.

“Você-Você” (fado, 2021) – Caetano Veloso
Caetano Veloso voltou ao disco após quase uma década longe de um trabalho de inéditas. O tom adotado foi iminentemente político, o que não assustou ninguém que conhece a trajetória do bardo tropicalista, sempre embrenhado nas questões da formação sociocultural do Brasil. Intitulado “Meu Coco”, o álbum trouxe uma lavra de inéditas que homenageou parceiros de longa data como Gil, Milton Nascimento e Gal, além de prestar reverência a talentos da nova geração como Marília Mendonça, Gloria Groove e Pretinho da Serrinha. No fado “Você-Você”, Caetano une os seus laços aos da portuguesa Carminho.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2022.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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