“A deusa da minha rua
Tem os olhos onde a lua
Costuma se embriagar
Nos seus olhos eu suponho
Que o sol, num dourado sonho
Vai claridade buscar” Jorge Faraj & Newton Teixeira
É da condição dos nossos compositores tornarem-se menos conhecidos que suas obras e mesmo os intérpretes delas. Também permanece na penumbra o motivo pelo qual Newton Teixeira supostamente fugia da polícia quando se encontrou com Sílvio Caldas numa noite de seresta. O bairro era a Vila Isabel, no Rio de Janeiro, reduto da boemia carioca que não podia deixar de contar com Noel Rosa, seu poeta, e outros bambas menos notórios, mas que foram fundamentais na consolidação do gênero mais arraigado à miscigenada raiz musical brasileira, o samba. Newton começou pelo estilo, mas se consagrou, sobretudo, pela marchinha “Mal me quer”, em parceria com Cristóvão de Alencar, gravada por Orlando Silva, e a valsa “Deusa da minha rua”, com Jorge Faraj, o maior sucesso de toda sua carreira, lançada pelo Caboclinho Querido.
Newton se arriscou a soltar a voz, mas uma cirurgia na garganta, em 1943, lhe obrigou a abandonar o ofício. O que não engessou a trajetória, pois era também hábil violonista, acompanhando os grandes cantores da época de ouro do rádio nacional, além dos já citados, o rei de todos, Francisco Alves. Os dois irmãos de Newton e seu pai igualmente enveredaram pelo caminho da música, como é possível constatar numa foto histórica, embora sem o mesmo relevo do mais ilustre Teixeira. Neuwvaldo tocava flauta, Valzinho o cavaquinho e o pai, Edgard Carlos, outro violão. Para além da influência que exerceu no período em que esteve em atividade, como um digno representante da música praticada no Brasil, em especial, nas décadas de 1930 e 1940, Newton foi regravado, a posteriori, por Zé Kéti, ainda em 1969, mas também Zélia Duncan, Cauby Peixoto, Nelson Gonçalves, Tito Madi, Roberto Carlos, António Zambujo e outros. Sua música deve ser mantida e apreciada, com o esmero dos raros.
Raphael Vidigal
Fotos: Arquivo e Divulgação.