“Meu coração, não sei por quê
Bate feliz, quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo” Braguinha e Pixinguinha
Ao primeiro olhar Orlando Silva apresenta mais semelhanças do que particularidades. Jovem, sofreu um acidente ao saltar de bonde e teve um pé amputado. As dores insuportáveis só eram curadas com morfina, vício que ao longo da vida substituiu pela cocaína, apontada como uma das responsáveis pela derrocada na carreira de sucessos. O período do auge comercial e de crítica durou relativamente pouco para os padrões da época, de 1936 a 1942. Foi quando registrou músicas até hoje famosas, como “Carinhoso” e “Rosa”, de Pixinguinha com Braguinha e Otávio de Souza, respectivamente, e “Nada além”, de Mário Lago com Custódio Mesquita. Entre outras gravações de impacto, mas que não resistiram ao tempo, destacam-se “Lábios que Beijei” e “Juramento falso”, da dupla J. Cascata e Leonel Azevedo, “Aos pés da cruz”, de Marino Pinto e José Gonçalves”, e “Dama do Cabaré”, de Noel Rosa, entre várias outras.
Orlando não foi dos primeiros e muito menos únicos cuja vida particular atribulada contrastou com uma imagem pública de extensivos louros. Conhecido como o “Cantor das Multidões”, por obra do locutor Oduvaldo Cozzi, atraía, como se deduz, uma enormidade de gente e olhares por onde passava. Fruto de sua impressionante voz e poder de interpretação que o colocava ao lado de Francisco Alves, responsável pelo seu aparecimento no rádio, Carlos Galhardo e Nelson Gonçalves como os quatro grandes no quesito “gogó de ouro” ou “nó de peito”. Era comum na época que os cantores recebessem epítetos, Francisco Alves era conhecido como o “Rei da Voz”, Carlos Galhardo o “Rei da Valsa”, e Nelson Gonçalves o “Eterno Boêmio”. O outro desta turma a apresentar voz de extensão potente era Cauby Peixoto, o “Professor”. Além do anterior a todos eles Vicente Celestino, “A Voz Orgulho do Brasil”. O que diferencia Orlando Silva de seus pares é a capacidade de unir força e suavidade na interpretação. Não por acaso influenciou João Gilberto e Nelson Gonçalves.
Essa característica pode ser conferida nas interpretações “doces” de seus maiores sucessos, que correspondem ao período de auge do cantor. “Rosa”, “Carinhoso” e, sobretudo, “Nada além”, onde acrescenta murmúrios chorosos ao final da letra. Orlando, que foi também conhecido como “Divino”, não se absteve de cantar diversos gêneros, e com incrível aclamação popular, comprovando o talento em mais de uma categoria. “A Jardineira”, de Benedito Lacerda e Humberto Porto, é obra de sua voz, marchinha que até hoje remete a uma doce infância. “Alegria”, samba de Assis Valente e Durval Maia, uma ode ao prazer, também ganhou os contornos suaves da voz de Orlando Silva. “Errei, erramos”, samba-canção de Ataulfo Alves recebe uma leitura menos carregada na voz do “Divino”. “Meu consolo é você”, de Nássara e Roberto Martins coloca à prova o suingue de Orlando.
Embora tenha passado como um meteoro na história da música popular Orlando Silva grafou sua voz com força e suavidade. Por isso o “Cantor das Multidões” terá sempre um público, mesmo que não tão numeroso, mas fiel e emocionado.
Raphael Vidigal
Fotos: Arquivo.
1 Comentário
ORLANDO SILVA, AINDA É O MAIOR E MELHOR CANTOR QUE O BRASIL JÁ TEVE!! NO SEU APOGEU, ERA O MELHOR CANTOR DO MUNDO! ATÉ HOJE, INSUPERÁVEL!!