Cantora Carmen Barbosa teve morte trágica um dia antes do aniversário

*por Raphael Vidigal Aroeira

“(Espera, por isso,
que a jovem manhã
te venha revelar
as flores da véspera).” João Cabral de Melo Neto

Carmen Barbosa nasceu no Rio de Janeiro, no dia 4 de setembro de 1912, e morreu no dia 3 de setembro de 1942, um dia antes de completar 30 anos, numa trágica coincidência de datas. Carmen tinha uma saúde frágil em razão da diabetes, o que a levou a amputar uma das pernas pouco antes de falecer.

A partida precoce de Carmen deixou o Brasil sem uma de suas cantoras mais promissoras. Influenciada pela xará, a estrela internacional Carmen Miranda, ela começou atuando como corista de gravações da Victor, até ter a primeira chance de maneira inusitada, quando a cantora Madelou Assis faltou às gravações e ela foi convocada para substituí-la, em 1934.

Carmen não desperdiçou a oportunidade. Incentivada por Benedito Lacerda, que aparece tocando flauta em praticamente todas as suas 27 gravações, lançadas entre 1935 e 1940, Carmen Barbosa obteve sucesso com músicas como “Palmeira Triste”, samba-canção de Herivelto Martins, e “No Picadeiro da Vida”, de Herivelto e Benedito Lacerda. Ela também escreveu uma versão para “Love Me Tender”, hit de Elvis Presley, rebatizado de “Love me Sempre”. Em 1936, gravou “Por Você Fiz O Que Pude”, samba de Pixinguinha e Cícero Almeida. Ao longo da curta trajetória, também deu voz a marchinhas e boleros.

Descrita como uma pessoa retraída, que não gostava de publicidade, Carmen Barbosa concedeu uma rara entrevista à revista Carioca, em 1938, em que relembrou os passos iniciais da carreira. “Sempre tive ótimo ouvido e aprendia, com facilidade, os sambas lançados em primeira mão. Passei uma porção de tempo nessa vida. Não me davam nenhuma oportunidade. Aborreci-me lá na (gravadora) Victor. Vim para a rua. Vivi a vida amarga dos operários sem trabalho do rádio. De estúdio em estúdio, cantando em audições experimentais, para diretores apressados e distraídos. Vida de cachorro, sabe?”, descreveu.

Na mesma edição da revista, a mãe de Carmen depõe. “Em casa tem sete irmãs. Entretanto, os vizinhos nunca reclamaram. Ela é a única que canta”.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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