*por Raphael Vidigal Aroeira
“Fingir praticar a literatura de expressão pessoal: vir a ser campeão nacional de piadas e trocadilhos.” Wally Salomão
Conhecido, sobretudo, por seu humor escrachado e politicamente incorreto, o paulistano Ary Toledo nasceu na cidade interiorana de Martinópolis, em 1937, e morreu neste sábado (12), aos 87 anos, na capital paulista, vítima de uma pneumonia. Ary começou a carreira artística aos 22 anos, como ator no Teatro de Arena, antes de enveredar pelo humor que o consagraria. O casamento com a comédia, com especial predileção pelas anedotas, o transformou em um fenômeno de massa ainda durante a ditadura popular, quando chegou a ser perseguido e censurado pelo regime. Na música, que nada mais era do que uma plataforma para suas piadas, teve Chico de Assis como seu principal parceiro, mas também chegou a compor uma canção séria com outro Chico do humor, o Anysio criador da “Escolinha do Professor Raimundo”. Os trocadilhos e as piadas de caráter obsceno foram a grande marca de seu trabalho, que perdurou mais de cinco décadas com inigualável sucesso na área.
“Tiradentes” (canção, 1965) – Ary Toledo e Chico de Assis
Escrito por Paulo Pontes, Ferreira Gullar, Armando Costa e Oduvaldo Viana Filho, e contando com a direção de Augusto Boal, “Opinião” tornou-se um dos espetáculos mais bem sucedidos do teatro brasileiro, e consagrou definitivamente o sambista e poeta do seu povo Zé Kéti, que interpretava mais uma vez o malandro dos morros cariocas, e atuava ainda ao lado de Nara Leão no papel da mocinha da zona sul e João do Vale, representado a força do nordeste. No espetáculo, também constava a canção “Tiradentes”, parceria do humorista Ary Toledo com Chico de Assis. Na voz de Nara, a música narra a trajetória heroica do alferes revolucionário e ainda a degradação de seu traidor.
“A Família” (canção, 1968) – Chico Anysio e Ary Toledo
A árvore genealógica da música popular brasileira é tão profícua quanto diversa. A imigração italiana dá o tom da divertida e cômica cançoneta interpretada pelo inveterado Ivon Curi, com todos os seus dotes de intérprete. O samba marca presença e pede passagem com a dupla baiana formada por Tom e Dito, que abre alas para a exaltação atípica de Tim Maia e sua família televisiva. Já Jair Rodrigues, lançou, em 1968, “A Família”, uma canção que conversava com as questões sociais da época, de Chico Anysio e Ary Toledo. Ironicamente, os dois consagrados humoristas se reúnem nesta canção séria.