“Cresce destroço em minhas aparências.
Nesse destroço finco uma açucena.
(É um cágado que empurra estas distâncias?)
A chuva se engalana em arco-íris.
Não sei mais calcular a cor das horas.
As coisas me ampliaram para menos.” Manoel de Barros
Talvez os principais papéis interpretados pelo ator Umberto Magnani estejam fora do alcance do público em sua maioria, não apenas pelo teatro que, além de prescindir do registro se habituou a um nicho, mas, sobretudo, pelo cinema, e que ainda poderá ser revisto. Foi através da sétima arte que Magnani teve a oportunidade de desenvolver, munido de seu rosto expressivo, ao mesmo tempo bondoso e marcado, uma das principais qualidades do ofício, a de desmentir a aparência, e oferecer uma personagem contraditória em si. Com sua habitual verve sarcástica e pessimista o diretor Sérgio Bianchi dirigiu Umberto em “Cronicamente Inviável” na pele de um escritor com as mais escusas premissas. A sensibilidade com que o ator leva a história é chocante.
Como diria Godard “a beleza é o início do terror que podemos suportar”. Nessa linha tênue, o intérprete atuou em novelas e a despeito do ritmo e da superficialidade conseguiu dar a consistência possível e necessária aos trabalhos. Tanto que cativou mesmo sob a tutela dos textos mais ralos. Fundamentalmente apegado à cultura pode-se perceber a meticulosidade de suas escolhas. Pelo tempo de carreira, o número de minisséries e folhetins confirma a tese. Afora a paixão pelo teatro também se entregou de corpo e alma na carreira de produtor e diretor de várias associações culturais. Umberto foi um ator que soube vestir de humanidade suas personagens, artigo em falta em tempos de manequins, extensivo suor e lágrimas sem muita profundidade.
Raphael Vidigal
Fotos: Arquivo e Divulgação.