*por Raphael Vidigal Aroeira
“Quem não conhece Severina Xique-xique
Que botou uma butique para a vida melhorar?” Genival Lacerda e João Gonçalves
Genival Lacerda nasceu em Campina Grande, na Paraíba, no dia 5 de abril de 1931, e morreu em Recife, no dia 7 de janeiro de 2021, aos 89 anos, vítima da COVID-19. Ele começou a carreira em sua cidade natal, interpretando cocos e rojões, e, na década de 1950, rumou para Pernambuco, onde gravou os primeiros discos.
Incentivado por Jackson do Pandeiro, seu concunhado, rumou para o Rio de Janeiro, e foi lá que estourou com seu primeiro sucesso de dimensões nacionais: “Severina Xique-Xique”, parceria com João Gonçalves. Esse forró, de 1975, perpetuou o nome de Genival Lacerda na música popular brasileira, com seu estilo único e irreverente, cheio de malícias.
“Severina Xique-Xique” (forró, 1975) – Genival Lacerda e João Gonçalves
Genival Lacerda é um dos ícones da música de duplo sentido no Brasil. Natural de Campina Grande, na Paraíba, criou um estilo caricatural, pautado nas vestes espalhafatosas e na famosa dança ‘sensual’ em que põe a mão na barriga, influenciando nomes da região que também fizeram sucesso no Brasil, como Reginaldo Rossi e principalmente o cantor Falcão.
Em 1975, esse gênero musical que sempre esteve ligado às camadas mais populares, viu nascer o forró “Severina Xique-Xique”, de Genival e João Gonçalves. Com uma letra mais óbvia do que na época das marchinhas, mas ainda ambígua, não se precisa de muito para imaginar o que é a butique da protagonista… “E ele tá de olho/ É na butique dela…”. A música foi regravada pelo grupo mineiro Pato Fu.
“De Quem É Esse Jegue?” (forró, 1975) – Célio Roberto e Bráulio de Castro
No mesmo LP em que apresentou ao Brasil o megassucesso “Severina Xique-Xique”, intitulado “Aqui Tem Catimberê”, uma expressão nordestina que seria a correspondente ao famoso “borogodó”, Genival Lacerda também alcançou as rádios com outra canção de destaque, desta vez composta por Célio Roberto e Bráulio de Castro.
Apostando novamente no ritmo do forró e no duplo sentido de fácil assimilação, “De Quem É Esse Jegue?” tinha o nome de “Rock do Jegue”, mas acabou rebatizada pelo público, como em tantos casos da MPB. A música se tornou um dos maiores hits da carreira de Genival, e, em 2021, ganhou uma paródia do grupo Os Marcheiros, com participação especial de Marcos Frederico, para ironizar o presidente Jair Bolsonaro. Mais um escárnio!
“Radinho de Pilha” (forró, 1979) – Graça Góis e Namd
“Radinho de Pilha” recebeu as mais diversas abordagens e regravações, dentre elas, a do grupo de punk baiano Camisa de Vênus. Mas foi a versão de Genival Lacerda, lançada em 1979, no LP “Não Despreze Seu Coroa”, que a lançou ao estrelato. Esse forró, de Graça Góis e Namd, investe mais uma vez no duplo sentido, cheio de malícia, a especialidade de Genival. Já na gravadora Copacabana, o cantor experimentava o ápice da sua carreira fonográfica, com participações regulares em programas televisivos, principalmente os de Chacrinha.
Aliás, Marcelo Nova, líder do grupo Camisa de Vênus, compôs, com Raul Seixas, a música “Rock’n’roll”, lançada no disco “A Panela do Diabo” e que cita, em determinado trecho, a figura de Genival: Pois há muito percebi que/ Genival Lacerda tem a ver com Elvis e com Jerry Lee”, canta a dupla. Já em 2010, Genival cantou com Ivete Sangalo a música “O Chevette da Menina”, cuja protagonista também se chama Ivete.
Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2022.