Relembre os maiores sucessos de Cazuza, o poeta exagerado do rock

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Queria um dia no mundo
Poder te mostrar o meu
Talento pra loucura
Procurar longe no peito” Cazuza

Agenor de Miranda Araújo Neto começou a ser chamado de Cazuza quando ainda estava na barriga de sua mãe, Lucinha Araújo, por influência do pai, João Araújo, executivo da gravadora Som Livre e pernambucano, onde o nome significava moleque travesso, bagunceiro. Graças ao trabalho do pai, Cazuza nasceu em berço esplêndido da música brasileira e conheceu, em sua casa, artistas como Elis Regina, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Nos anos 1980, entrou para o grupo Barão Vermelho e estourou com sucessos como “Maior Abandonado”, “Beth Balanço” e “Pro Dia Nascer Feliz”. Na carreira-solo, seguiu essa trilha com “Exagerado”, “Ideologia”, “Brasil”, entre outras. Cazuza foi o primeiro artista do país a se assumir soropositivo e morreu aos 32 anos, em 1990.

“Todo Amor Que Houver Nesta Vida” (rock, 1982) – Cazuza e Roberto Frejat
Em “Todo Amor Que Houver Nesta Vida”, lançada pelo grupo Barão Vermelho em seu disco de estreia, no ano de 1982, Cazuza delimita bem os espaços de conflito entre o corpo e a mente. Na ânsia de possuir o parceiro em toda a sua plenitude, agilmente faz uma ressalva. “E se eu achar a tua fonte escondida/ Te alcanço em cheio o mel e a ferida/ E o corpo inteiro feito um furacão/ Boca, nuca, mão, e a tua mente não”. E completa a metáfora com mais uma imagem poderosa que liga o corpo aos prazeres da carne. “Ser teu pão, ser tua comida”. Lançada como um rock, foi regravada por Caetano Veloso em clima menos hostil e mais sereno, incorporado na gravação solo de Cazuza no ano de 1988.

“Pro Dia Nascer Feliz” (rock, 1983) – Cazuza e Frejat
Depois da música “Pro Dia Nascer Feliz” ser lançada por Ney Matogrosso, o Barão Vermelho experimenta, pela primeira vez, o sucesso. Mas começa a se acostumar com ele a partir de “Beth Balanço”, música criada para filme dirigido por Lael Rodrigues e protagonizado por Débora Bloch, em que os integrantes da banda fazem uma participação. No lado B do compacto estava, escondida, “Amor, Amor”, balada de Cazuza, Frejat e George Israel também interpretada no longa-metragem. O discreto acolhimento deve-se, certamente, ao estouro da canção-título. Apesar de Lucinha Araújo, a mãe de Cazuza, preferir “Amor, Amor”. Seja como for, “Pro Dia Nascer Feliz” segue como um sucesso atemporal.

“Beth Balanço” (rock, 1984) – Cazuza e Roberto Frejat
Feita sob uma encomenda para o filme homônimo dirigido por Lael Rodrigues em 1984, “Beth Balanço” confirmou a ascensão do Barão Vermelho na cena do rock nacional naquele período, no esteio de outros sucessos presentes no terceiro álbum da banda, o último com a presença de Cazuza nos vocais, como “Maior Abandonado” e “Por Que a Gente É Assim?”. Interpretada no filme pela protagonista Débora Bloch, a música conta a trajetória da estudante mineira que vai ao Rio de Janeiro em busca do estrelato. Os versos sempre precisos e afiados de Cazuza transformaram a canção em clássico. “Quem tem um sonho não dança, Beth Balanço, meu amor, me avise quando for embora”, afirmava. A música foi regravada por Lulu Santos, que trabalhou com Cazuza na Som Livre.

“Maior Abandonado” (rock, 1984) – Cazuza e Frejat
Em “Maior Abandonado”, parceria com Frejat, Cazuza lança mão de uma frase lapidar, que se tornou um de seus versos mais conhecidos: “mentiras sinceras me interessam”. Baita hit que catapultou de vez a figura do vocalista do Barão Vermelho que, a partir daquele momento, passou a avistar com cada vez mais proximidade a carreira-solo. Mas a verdade é que a saída de Cazuza não foi nada amigável, com direito a brigas, agressões e chiliques públicos. A reconciliação veio só mais tarde, quando ele voltou a compor com Roberto Frejat e seus antigos companheiros de banda, como Dé Palmeira e Guto Goffi.

“Por Que a Gente É Assim?” (rock, 1984) – Cazuza, Frejat e Ezequiel Neves
Ele aparece nas palavras do poeta Paulo Leminski e também numa canção de Cazuza. Seja analisado de maneira rigorosa numa espécie de ensaio ou elogio, e, ainda mais, expresso em palavras que conclamam aos jorros à marginalidade, Allen Ginsberg não perde uma característica, a de servir como ferramenta de impudor e provocação.

Foi esta, pois, a verdadeira vocação de sua obra, cujos maquinados versos adquiriam velocidade que possibilitavam ao leitor a experiência da coisa viva, sendo feita e nascida naquele instante, diante dos próprios olhos, quando na verdade emergia de um requintado processo de gestação, em que as demandas do universo estético e carnal convergiam juntas num movimento vertiginoso e de entrega total, pura, fatídica. Esse espírito aparece na música “Por Que a Gente É Assim?”, lançada pelo Barão Vermelho em 1984. A canção enfrentou resistência dos companheiros de banda de Cazuza para ser gravada, por conta de versos que, supostamente, remetiam à homossexualidade do cantor, como “você tem a vida inteira pra me devorar…”.

“Exagerado” (rock, 1985) – Cazuza, Leoni e Ezequiel Neves
“Tem esse paradoxo do que é força e do que é fraqueza. A que ponto a gente é levado a pensar que está sendo forte, porque vive num mundo cada vez mais individualista, egoísta, em que o amor ‘Exagerado’ que o Cazuza cantava e que o próprio Roberto Carlos coloca em ‘Sua Estupidez’ é visto como démodé. As pessoas têm vergonha de assumir que estão sofrendo, que sentem falta”. As palavras são da cantora alagoana Flora que, em 2020, lançou seu disco de estreia: “A Emocionante Fraqueza dos Fortes”. Título do primeiro LP da carreira solo de Cazuza, a música “Exagerado” tornou-se praticamente um emblema da personalidade do artista, que nunca escondeu a postura entregue e derramada tanto no palco quanto na vida. Parceria com Leoni e o fiel escudeiro Ezequiel Neves, ganhou regravações de Arnaldo Antunes, Paulo Ricardo, Herbert Vianna.

“Mal Nenhum” (rock, 1985) – Cazuza e Lobão
Similaridades de comportamento e gostos em comum uniam Lobão e Cazuza. Em 1985, ambos expulsos de seus respectivos grupos, Barão Vermelho e Os Ronaldos, encontraram-se no Baixo Leblon e, por sugestão de Cazuza, iniciaram parceria musical. A música “Mal Nenhum”, lançada por Cazuza em seu primeiro disco solo, “Exagerado”, de 1985, foi apresentada pelo cantor pela primeira vez durante o “Rock In Rio” daquele ano, ainda na companhia do grupo “Barão Vermelho”.

Antes de cantá-la Cazuza faz uma defesa, a seus modos, de Lobão. O autor da letra afirma que o texto diz respeito a “uma fase em que nem eu me aguentava. Andava meio agressivo e o Lobão estava parecido comigo”. Já Lobão, responsável pela melodia diz que “apesar de parecer simples, foi bastante trabalhada”. O que emerge deste conjunto é uma música visceral, lírica, recado de uma geração para seus afetos e opressores. Regravada, entre outros, por Lobão, Cássia Eller e Arnaldo Antunes.

“Codinome Beija-Flor” (balada, 1985) – Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias
Ao lado de Cazuza, considerado o “Rei do baixo Leblon”, Luiz Melodia era visto com frequência na badalada noite do Rio de Janeiro. A capacidade como cantor rendeu um elogio inédito de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza (1958-1990), que considerou o registro de Melodia para “Codinome Beija-Flor” melhor do que a do próprio rebento. “Ele se apropriava das canções”, garante Toninho Vaz, autor da biografia “Meu Nome É Ébano: A Vida e a Obra de Luiz Melodia”, lançada em 2020.

Cazuza compôs os versos de “Codinome Beija-Flor” deitado em uma cama de hospital, numa das internações para tratar a Aids que o levou aos 32 anos, enquanto observava beija-flores na janela. Depois, a letra recebeu acréscimos do amigo Ezequiel Neves e de Reinaldo Arias, até ser incluída em “Exagerado”. No especial “Uma Prova de Amor”, Cazuza e Simone a interpretaram em dueto.

“O Nosso Amor a Gente Inventa” (balada, 1987) – Cazuza, Rogério Meanda e João Rebouças
Conhecida também pelo subtítulo de “Estória Romântica”, a balada “O Nosso Amor a Gente Inventa”, uma parceria de Cazuza com Rogério Meanda e João Rebouças, foi o grande hit do segundo disco da carreira-solo do poeta exagerado, “Só Se For a Dois”, lançado em 1987. Na ocasião, Cazuza já convivia com febres e mal-estar que depois seriam diagnosticados como AIDS. Segundo George Israel, outro parceiro constante, Cazuza tinha por hábito transformar a vida de amigos em músicas, e é o que teria acontecido com esta canção em particular, diante do relato sobre um casal que vivia se desentendendo. E o resultado foi uma balada de forte apelo popular do cantor.

“Vida Louca Vida” (rock, 1987) – Bernardo Vilhena e Lobão
“Vida Louca Vida” é uma música de Lobão e Bernardo Vilhena. O primeiro é responsável pela melodia, o segundo, pela letra. Lançada por Lobão em 1987, no álbum “Vida Bandida”, um estouro de vendas e prestígio que continha, entre outros, clássicos do calibre de “Rádio Blá” e a canção título, a música em questão logo se destacou pelos frementes versos e os acordes e notas que a acompanhavam e lhe davam peso.

Não por acaso chamou, e muito, a atenção de Cazuza, que, ao se identificar com a letra transmitiu esse sentimento a milhares de brasileiros quando a regravou um ano depois, em 1988, no emblemático disco ao vivo “O Tempo Não Para”, oriundo do show dirigido por Ney Matogrosso, que também gravaria a música anos depois, em 2013, no álbum “Atento aos Sinais”. Tudo isso apenas prova o poder de permanência da canção por sua qualidade, e mais ainda, a admiração recíproca de Lobão e Cazuza, pois um solicitou a sua regravação e o outro consentiu ao amigo.

“Faz Parte do Meu Show” (bossa nova, 1988) – Cazuza e Renato Ladeira
A formação musical de Cazuza tinha muito da música brasileira da Época de Ouro do Rádio, fonte de onde bebeu para maturar versos de dor de cotovelo adaptados ao espírito contestador que ele aprendeu com Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison e outros roqueiros norte-americanos. Do rol de ídolos nacionais, constava Dolores Duran, Maysa e Angela Maria, para quem compôs, em 1987, a rumba “Tapas na Cara”, bem ao estilo da intérprete. Em 1988, Cazuza resolveu adentrar o universo da bossa nova, com “Faz Parte do Meu Show”, parceria com Renato Ladeira. A música seria revisitada por Cauby Peixoto, em uma gravação impagável em que ele aproveitava a deixa para relembrar os próprios sucessos que, afinal de contas, faziam parte de seu show.

“Ideologia” (rock, 1988) – Cazuza e Roberto Frejat
Às vésperas de entrar em estúdio para gravar o seu terceiro disco solo, Cazuza foi internado em Boston, nos Estados Unidos, onde deu prosseguimento ao tratamento contra a Aids com a qual ele havia sido diagnosticado em 1987. É desse período a letra de “Ideologia”, que batiza o mais importante álbum da carreira do eterno exagerado. Com melodia de Roberto Frejat, a composição é “sobre o que eu acreditava quando tinha 16, 17 anos, e como estou hoje. Eu achava que tinha mudado o mundo e que, dali para a frente, as coisas avançariam mais ainda. Não sabia que iria acontecer esse freio. É como se agora a gente tivesse que pagar a conta da festa”, nas palavras de Cazuza. A música foi regravada por Marina Lima, Paulo Ricardo, Sandra de Sá, entre vários outros.

“Brasil” (samba-rock, 1988) – Cazuza, Nilo Romero e George Israel
A partir de uma composição feita sob uma encomenda, Cazuza criou um dos hinos da música brasileira, e não apenas de sua geração. “Brasil” foi um pedido do cineasta Lael Rodrigues para a trilha sonora do filme “Rádio Pirata”, e surgiu exuberante na voz de Gal Costa na abertura da novela global “Vale Tudo”, em 1988. Cazuza e Gal a interpretaram em um dueto descontraído no especial da Rede Globo dedicado ao compositor.

A música é pródiga em imagens impactantes e encontra Cazuza na plenitude de sua criatividade. “Brasil é um deboche sem autocompaixão, em que eu peço à pátria que me conte todas as suas sacanagens, que eu não vou espalhar para ninguém. Os problemas do Brasil parecem os mesmos desde o descobrimento: renda concentrada, a maioria da população sem acesso a nada. O problema todo do Brasil é a classe dominante, mais nada”, disse Cazuza. Cássia Eller a regravou.

“Blues da Piedade” (blues, 1988) – Cazuza e Roberto Frejat
A letra impiedosa e implacável de “Blues da Piedade” oferece uma espécie de paradoxo com o título dessa canção, lançada em 1988 no álbum “Ideologia”, e cantada por Cazuza em dueto com Sandra de Sá em show. Em outras palavras, Cazuza pede piedade a todos aqueles que são dignos de dó: “Agora eu vou cantar pros miseráveis/ Que vagam pelo mundo derrotados/ Pra essas sementes mal plantadas/ Que já nascem com cara de abortadas/ (…) Pra quem não sabe amar/ Fica esperando alguém que caiba no seu sonho/ Como varizes que vão aumentando/ Como insetos em volta da lâmpada”. Com metáforas poderosas, Cazuza enfia uma estaca no peito dos hipócritas e medíocres. Como era comum na parceria dos dois, Frejat criou a melodia depois de receber a letra de Cazuza.

“Preciso Dizer Que Te Amo” (balada, 1988) – Cazuza, Dé Palmeira e Bebel Gilberto
Interpretada por Cazuza no especial “Uma Prova de Amor”, exibido pela Rede Globo em 1989, a música teve o seu primeiro registro revelado no ano de 2004, quando o produtor Ezequiel Neves recuperou a fita cassete original. Lançada na coletânea “Preciso Dizer Que Te Amo”, a versão apresenta as vozes de Bebel Gilberto e Cazuza sob o acompanhamento do violão de Dé Palmeira.

“E até o tempo passa arrastado/ Só pra eu ficar do teu lado”, sublinham os versos prenhes de paixão. Inicialmente, o refrão dizia: “É que eu preciso dizer que te amo/ Desentalar esse osso da minha garganta”, mas Dé Palmeira o achou muito “punk”, e Cazuza substituiu a expressão por “te ganhar ou perder sem engano”. A canção recebeu inúmeras regravações, com diferentes arranjos, mas mantendo o poder de identificação entre os românticos e apaixonados. Marina Lima, Leo Jaime, Bebel Gilberto e Cássia Eller foram alguns dos que deram voz a essa balada.

“Um Trem Para as Estrelas” (MPB, 1988) – Cazuza e Gilberto Gil
Cazuza idolatrava Gilberto Gil desde antes de adentrar oficialmente o mundo da música. Na verdade, esse universo sempre esteve presente em sua vida. Filho de João Araújo, fundador e presidente da gravadora Som Livre, Cazuza se habituou a receber em sua casa nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Nara Leão e toda a trupe dos Novos Baianos, como Moraes Moreira, Baby do Brasil e Pepeu Gomes. No disco “Ideologia”, Cazuza atingiu o auge da maturidade artística, e a parceria com Gilberto Gil dá uma das provas. “Um Trem Para as Estrelas” reflete sobre a realidade social do Brasil, ao mesmo tempo em que guarda espaço para as meditações de foro íntimo de Cazuza, um poeta peculiar.

“O Tempo Não Para” (rock, 1988) – Cazuza e Arnaldo Brandão
Todas as músicas do espetáculo de lançamento do álbum “Ideologia” já estavam definidas quando Cazuza apresentou a Ney Matogrosso uma novidade. O antigo vocalista do grupo Secos e Molhados era o responsável pela direção, iluminação e cenografia do show. Amigos de longa data, Cazuza e Ney haviam sido namorados em meados da década de 1970. Ao se deparar com a letra arrebatadora de “O Tempo Não Para”, Ney não teve dúvidas de que a música daria nome à turnê. Parceria com Arnaldo Brandão, “O Tempo Não Para” mescla a batalha pela vida de Cazuza com as agonias de um país em constante crise. “A música é sobre essa velharia que está aí e vai passar. Vão ficar as ideias de uma nova geração”, afirmou Cazuza. Ney, Simone e Elza Soares a regravaram.

“Burguesia” (rock, 1989) – Cazuza, Ezequiel Neves e George Israel
Urgência era a palavra de ordem na vida de Cazuza em 1989, já bastante fragilizado pela Aids. A música que deu título a seu derradeiro trabalho, um álbum duplo com 20 canções, foi definida pelo parceiro George Israel como “um verdadeiro tratado”. Já o outro compositor, Ezequiel Neves, produtor e companheiro inseparável de Cazuza, a definiu com seu humor ferino: “Quando Cazuza estava gravando ‘Burguesia’, eu falei: ‘Essa coisa está muito chata, você fala umas coisas que parece Titãs’. Faltava alguma coisa na letra e, de repente, eu tive essa tirada do ‘Enquanto houver burguesia/ Não vai haver poesia’, na qual depois os críticos caíram de pau”. Ácida, a letra traz momentos de autocrítica que são, no mínimo, inusitados e divertidos: “Pobre de mim que vim do seio da burguesia/ Sou rico, mas não sou mesquinho/ Eu também cheiro mal”.

“Malandragem” (rock, 1994) – Cazuza e Roberto Frejat
A música “Malandragem” foi finalizada por Roberto Frejat e Cazuza em 1989, composta especialmente para Angela Ro Ro, um desejo íntimo do poeta exagerado, fã da cantora. Angela, porém, declinou do convite, ao não se identificar com os versos “quem sabe eu ainda sou uma garotinha”, nas portas de completar 40 anos e em meio à crise de envelhecimento.

Em 1994, quatro anos após a morte de Cazuza, esse rock veio à luz na voz marcante de Cássia Eller, outra discípula do próprio autor e da cantora Ro Ro. A melodia de Frejat emoldura versos de rebeldia e transgressão, que refletem, nada mais, do que um grito de liberdade e desprendimento tão comuns à infância, e como a manutenção desta ingenuidade pode estar ligada a estas qualidades. “Eu só peço a Deus, um pouco de malandragem, pois sou criança, e não conheço a verdade…”. É, por fim, uma ode à irresponsabilidade e à delícia da brincadeira.

“Poema” (balada, 1998) – Cazuza e Frejat
Escritos por Cazuza aos 17 anos para sua avó paterna, os versos de “Poema” só ganharam a melodia de Frejat em 1998. No ano seguinte, Ney Matogrosso a lançaria em “Olhos de Farol”. Foi essa a primeira canção que o potiguar Zé Maria mostrou para seu futuro padrinho musical. Só em seguida, Ney conheceu as canções feitas pelo pescador. Batizado Matogrosso, o selo coloca na praça o álbum “Pescador”, que começou a nascer em Baía Formosa, litoral do Rio Grande do Norte. “Quando ouvi ‘Poema’ pela primeira vez, chorei de emoção, por isso foi a música que quis mostrar para o Ney, tinha várias outras em mente”, conta Zé Maria, que lançou o seu primeiro disco em 2017, pelo selo Matogrosso.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2022.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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