Simone foi a primeira cantora brasileira a dedicar um álbum ao Natal

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Diga lá, meu coração,
Da alegria de rever essa menina
E abraçá-la e beijá-la…
Diga lá, meu coração, conte as estórias das pessoas
Nas estradas dessa vida” Gonzaguinha

Baiana, natural de Salvador, nascida no dia 25 de dezembro, data em que se comemora o Natal, e jogadora de basquete profissional, inclusive convocada para a disputa de Mundial da categoria pela Seleção Brasileira, Simone trazia inúmeros adjetivos para se tornar conhecida. Porém, a cantora de nome único, sem a necessidade de sobrenome ou alcunha, uma raridade no meio, tornou-se consagrada justamente através da música.

Como se não bastasse essa voz, ao mesmo tempo suave e marcante, agregou como característica indissociável de suas gravações a interpretação única, positiva, temperada pela galhardia e o desbravamento inerentes à própria personalidade. Pois música, como arte, é isto: viver intensamente o que se produz, mais até do que de seu resultado. A voz de Simone pontuou, como poucas, vários de nossos momentos históricos.

“Ela Disse-me Assim” (samba-canção, 1959) – Lupicínio Rodrigues
“Ela Disse-me Assim” apresenta uma situação pouco usual na canção popular brasileira. Lançada em 1959, na voz poderosa de Jamelão, a música tem como mote um pedido suplicante da amante para o homem com quem ela está traindo o marido. “Ela disse-me assim/ Tenha pena de mim/ Vá embora/ Vais me prejudicar/ Ele pode chegar/ Está na hora”. As más línguas contam que toda a situação abordada foi vivida pelo próprio Lupicínio Rodrigues que, como de costume, se inspirava em sua vida para compor. O quiproquó se complica porque, a despeito da intuição da mulher, o marido os pega no flagra. A música ganhou regravações de Simone, Adriana Calcanhotto, Noite Ilustrada, e outros.

“Fica Comigo Esta Noite” (bolero, 1961) – Adelino Moreira e Nelson Gonçalves
Angela Maria, Núbia Lafayette, Maria Bethânia, Angela Ro Ro, Tetê Espíndola e até o grupo punk Camisa de Vênus gravaram suas canções, mas é impossível dissociar o nome de Adelino Moreira da voz de Nelson Gonçalves. Tanto que o cantor gaúcho ganhou o epíteto de “O Boêmio”, após o estrondoso sucesso de “A Volta do Boêmio”, música de Adelino lançada por Nelson em 1957. Além de intérprete principal de Adelino Moreira, Nelson Gonçalves é seu parceiro em mais de vinte composições.

A mais conhecida certamente é “Fica Comigo Esta Noite”, que virou tema de musical e título de filme erótico. Em 1980, Angela Ro Ro sublinhou a sensualidade da canção ao reforçar os tons de bolero contidos em seu ritmo. Outros artistas deram a sua versão para a história, como Agnaldo Timóteo, Simone, Núbia Lafayette e Fábio Jr.

“Outubro” (clube da esquina, 1967) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Leitor de Guimarães Rosa, fã de Fernando Pessoa e García Lorca, o letrista Fernando Brant traçou caminho singular na música brasileira. Cursou Direito, como o pai, provavelmente para garantir uma segurança financeira, mas teve sucesso como “amador” do jornalismo e das canções. Ele mesmo se recusara no primeiro momento a colocar letra em música de Milton, mas, uma vez convencido, não parou mais. Aplaudido indiretamente, pacato e discreto como bom mineiro de Caldas, teve a tal música, “Travessia”, defendida no Festival Internacional da Canção de 1967, e tirou o segundo lugar. No mesmo ano, eles compuseram “Outubro”, regravada por Vanusa, Simone, Alaíde Costa e outros.

“Bárbara” (MPB, 1972) – Chico Buarque e Ruy Guerra
Em 1972, Chico Buarque compôs a primeira música que se tem registro que fala do amor homossexual entre duas mulheres. “Bárbara” foi composta por ele e por Ruy Guerra para a peça de teatro “Calabar: O Elogio da Traição”, censurada à época da ditadura. A música trata o tema de forma lírica e intensa, sem julgamentos ou preconceitos.

Foi regravada por Angela Ro Ro (homossexual assumida), Maria Bethânia, Gal Costa, Simone e outras. Crescente em seu drama romântico, letra e melodia se unem em uma combustão repetida pelo discurso poético: “O meu destino é caminhar assim desesperada e nua, sabendo que no fim da noite serei tua, deixa eu te proteger do mal, dos medos e da chuva, acumulando de prazeres teu leito de viúva…”.

“Geraldinos e Arquibaldos” (samba, 1975) – Gonzaguinha
No ano de 1975, Gonzaguinha se esquiva das garras da censura imposta no Brasil em razão da ditadura militar, com um samba irônico e divertido, cuja sinuosidade da letra é acompanhada de perto pelo ritmo. “Geraldinos e Arquibaldos” traz ainda uma homenagem às pessoas humildes que frequentam os estádios nos lugares mais simples, a “geral” e a arquibancada, além de lançar mão de expressões típicas do esporte mais popular do país, como “cama de gato”, e outros ditos populares, como “angu que tem caroço”.

Lançada num dos primeiros álbuns de Gonzaguinha, “Plano de Voo”, já mostrava o poder de crítica e a acidez construtiva dos versos de Gonzaguinha, além da inventividade formal. Foi regravada, com sucesso, por uma de suas grandes admiradoras, a cantora Simone. “No campo do adversário/É bom jogar com muita calma/Procurando pela brecha/Pra poder ganhar…”.

“Jura Secreta” (balada, 1977) – Sueli Costa e Abel Silva
Compositora de “Dentro de Mim Mora um Anjo”, parceria com o poeta mineiro Cacaso gravada por Fafá de Belém em 1978, no álbum “Banho de Cheiro”, Sueli Costa nasceu no dia 25 de julho de 1943, no Rio de Janeiro, e foi criada em Juiz de Fora, interior de Minas. Entre seus sucessos estão músicas como “Jura Secreta”, “Coração Ateu” e “20 Anos Blue”, gravadas por nomes como Simone, Maria Bethânia e Elis Regina, algumas das maiores cantoras do país. “Jura Secreta” é a linda parceria com Abel Silva, o seu mais frequente parceiro.

“Meu Ego” (blues, 1977) – Erasmo Carlos e Roberto Carlos
No final de 1977, Nara Leão e Erasmo Carlos apresentaram no programa “Fantástico”, da TV Globo, a música “Meu Ego”, mais uma parceria do Tremendão com Roberto Carlos. A música havia sido lançada, naquele mesmo ano, no LP “Os Meus Amigos São Um Barato”, confirmando o pioneirismo de Nara, que dava a partida nos álbuns de duetos na música brasileira.

Além de receber Erasmo na referida faixa, ela ainda abria alas para Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Jobim, Chico Buarque, Edu Lobo, Dominguinhos, João Donato e outros ícones da MPB. No ano seguinte, em 1978, a música seria incluída no disco “Pelas Esquinas de Ipanema”, de Erasmo. Mais tarde, ela foi regravada por Simone e Zélia Duncan.

“Coração Leviano” (samba, 1978) – Paulinho da Viola
Nomeado “Ministro do Samba” por Batatinha em música com tal título, Paulinho da Viola aprendeu em casa os ensinamentos do ritmo. Filho de Benedito Faria, integrante do conjunto “Época de Ouro”, que era conduzido por ninguém menos do que Jacob do Bandolim, o filho mais velho do chorão célebre uniu as influências do chorinho ao samba para criar uma maneira única e inconfundível de cantar e compor, assimiladas à sua própria personalidade. Por mais que cante desenganos, desamores, fracassos, Paulinho mantém certa calma na voz que é capaz de tranquilizar os corações mais aflitos. “Coração leviano”, um samba lançado no ano de 1978, reclama com a elegância típica do autor da deslealdade e ingratidão de quem “fere quem tudo perdeu”. Simone a regravou.

“Cigarra” (MPB, 1978) – Milton Nascimento e Ronaldo Bastos
O disco “Cigarra”, lançado por Simone em 1978, trouxe um verdadeiro desfile de hits, a começar pela música-título, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. “Medo de Amar Nº 2”, de Sueli Costa e Tite de Lemos, “Diga Lá, Coração”, de Gonzaguinha, “As Curvas da Estrada de Santos”, de Roberto e Erasmo Carlos, e “Ela Disse-me Assim”, de Lupicínio Rodrigues, completavam o repertório de sucessos. Em meio a essas canções, “Então Vale a Pena”, de Gilberto Gil, traduzia liricamente a percepção da morte. E era assertiva na conclusão: “Se a morte faz parte da vida/ E se vale a pena viver/ Então morrer vale a pena”, diz.

“Diga Lá, Coração” (balada, 1978) – Gonzaguinha
Contestador por natureza, em 1975, Gonzaguinha havia dispensado seus empresários para fundar depois seu próprio selo, Moleque, que também seria o nome de seu álbum de 1977. Nesse ano, “Explode Coração” tornou-se um dos maiores marcos de toda a carreira de Maria Bethânia. Intitulada inicialmente como “Não Dá Mais Pra Segurar”, a música é um desabafo lento, progressivo, um exercício de confissão e entrega em que o compositor se despe de seus medos e aceita todos os desejos.

Em “Explode Coração”, Gonzaguinha se descortina para que a vida entre sem pedir licença. Um ano depois, em 1978, outra canção de temática parecida e com a mesma palavra pungente no título. “Diga Lá, Coração” recebeu a interpretação sensível de Simone e do próprio Gonzaguinha. “Diga lá, meu coração/ Da alegria de rever essa menina/ E abraça-la/ E beijá-la…”, canta.

“O Amanhã” (samba-enredo, 1979) – João Sérgio e Didi
Muda o ritmo, muda o gênero, o autor, o intérprete, e até o ano muda. De velho, passa a ser novo, mas a mensagem é sempre a mesma. Adoniran Barbosa em parceria com o maestro Hervé Cordovil conclama para que o desesperado João não perca a esperança, “que amanhã tu levanta um barracão muito melhor…”, Chico Buarque declara logo nos versos inicias que “amanhã vai ser outro dia”, e Gonzaguinha reafirma que “começaria tudo outra vez, se preciso fosse…”.

Já Caetano Veloso vaticina, numa das homenagens ao sociólogo e ativista Betinho: “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”. Guilherme Arantes, em sua belíssima balada aposta: “amanhã, será um lindo dia, da mais louca alegria que se possa imaginar…”. É uma mensagem parecida com a do samba-enredo “O Amanhã”, levado à passarela pela União da Ilha em 1979, e gravado em disco pela cantora Simone no ano de 1983. Um samba de João Sérgio e Didi.

“Tô Voltando” (samba, 1979) – Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro
“Tô Voltando”, um samba de 1979 de Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro celebra a volta pra casa do narrador que já se delicia com a lembrança dos quitutes tipicamente nacionais com os quais pretende se deliciar em breve, além, é claro, do conforto, carinho e aconchego do lar nos braços de sua amada. Interpretada por Simone, no contexto da época foi usada para festejar não apenas o encontro de um casal, mas o retorno de vários anistiados brasileiros que haviam sido exilados em outros países pelo regime ditatorial.

O ritmo pra cima, festeiro, alegre, contrastava com a situação cinza na qual o país havia emergido, mas era também uma resposta, uma maneira de resistir e provar aos mesquinhos e poderosos da exploração que não se pode tirar da pessoa aquilo que lhe é mais imprescindível, e não se conquista através de determinações, mas de um sentimento honesto e verdadeiro. Como uma cerveja gelada, uma flor perfumada e um amor inquebrantável.

“Sob Medida” (MPB, 1979) – Chico Buarque
Em 1979, Chico Buarque compôs a música “Sob Medida” para a trilha do filme “República dos Assassinos”, de Miguel Faria Jr., protagonizado por Tarcísio Meira e que trazia no elenco nomes como Sandra Breá, Anselmo Vasconcelos, Tonico Pereira, Ítalo Rossi e José Lewgoy. A música foi lançada na voz de Fafá de Belém e integrou o quarto disco da intérprete, “Estrela Radiante”, considerado, até hoje, um dos melhores da carreira de Fafá. No repertório também comparecem músicas de Gonzaguinha, Ivan Lins e Dominguinhos. “Sob Medida” é uma das muitas canções em que Chico Buarque revela a capacidade de se apropriar do eu-lírico feminino. Regravada por Simone e Maria Bethânia, a música versa sobre amor com altas doses de sensualidade.

“Atrevida” (balada, 1980) – Ivan Lins e Vitor Martins
Ivan Lins e o parceiro Vitor Martins passavam o mês de dezembro em Teresópolis, na região serrana do Rio, e, há dias, tentavam compor uma canção sem sucesso. Diante da situação, Dona Carmelita, a empregada, sugeriu que eles fossem a uma benzedeira da região conhecida como Madalena. Lá, eles receberam alguns passes, e, no dia seguinte, a inspiração para “Bilhete” subitamente apareceu. A música foi lançada por Ivan Lins em 1980 que acredita que Vitor, autor da letra, estava tomado por uma entidade feminina. No mesmo ano, Simone lançou da dupla a bonita balada “Atrevida”…

“Sangrando” (balada, 1980) – Gonzaguinha
No início da década de 80, Gonzaguinha passou a morar em Belo Horizonte com sua segunda esposa, Lelete. Desse casamento nasceu a sua caçulinha, Mariana, irmã de Daniel, Fernanda e Amora, filha do relacionamento do cantor com a Frenética Sandra Pêra. Nessa época, ele vivia sua melhor fase e já desfrutava dos sucessos de “Ponto de Interrogação”, “Grito de Alerta” e “Sangrando”.

A balada imortalizada por Simone revelava um desenho autobiográfico e pungente do compositor que não se dizia cantor, mas intérprete de suas emoções. Na letra de “Sangrando”, o intérprete se rendia por inteiro. Começava soltando a voz com um delicado pedido, para depois consentir que a música se apoderasse dele e exprimisse a vida em sua plenitude.

“Meu Namorado” (MPB, 1983) – Chico Buarque e Edu Lobo
Em 1982, Chico Buarque e Edu Lobo receberam a incumbência de criar a trilha sonora para o balé “O Grande Circo Místico”, que Naum Alves de Souza criou em cima do poema homônimo do alagoano Jorge de Lima. O espetáculo deu vazão a um álbum lançado em 1983, com a nata da MPB: Milton Nascimento, Gal Costa, Gilberto Gil, Simone, Tim Maia e outros. Ficou a cargo de Simone dar voz à sofisticada “Meu Namorado”. A música possibilitou ao público uma nova oportunidade de conhecer a obra poética de Jorge de Lima, um ser único.

“Iolanda” (canção, 1984) – Pablo Milanés em versão de Chico Buarque
A tentação de estabelecer relações diretas entre o entorno e a obra só não pode cair na esparrela de perder de vista o primordial. Se o próprio Chico Buarque calhou de encontrar anacronismo em algumas de suas composições – e agora revê este ponto de vista quando as traz novamente à baila, certamente influenciado pelo cotidiano –, a observação mais atenta percebe nelas um sentido, acima de tudo, humano. A versão feita por Chico para a balada “Iolanda”, de Pablo Milanés, abriu espaço para o lado romântico e a gama de personagens que sua lírica foi capaz de criar nessas décadas. A versão lançada pela cantora Simone, em 1984, se transformou em sucesso atemporal.

“Codinome Beija-Flor” (balada, 1985) – Cazuza, Ezequiel Neves e Reinaldo Arias
Ao lado de Cazuza, considerado o “Rei do baixo Leblon”, Luiz Melodia era visto com frequência na badalada noite do Rio de Janeiro. A capacidade como cantor rendeu um elogio inédito de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza (1958-1990), que considerou o registro de Melodia para “Codinome Beija-Flor” melhor do que a do próprio rebento. “Ele se apropriava das canções”, garante Toninho Vaz, autor da biografia “Meu Nome É Ébano: A Vida e a Obra de Luiz Melodia”, lançada em 2020.

Cazuza compôs os versos de “Codinome Beija-Flor” deitado em uma cama de hospital, numa das internações para tratar a Aids que o levou aos 32 anos, enquanto observava beija-flores na janela. Depois, a letra recebeu acréscimos do amigo Ezequiel Neves e de Reinaldo Arias, até ser incluída em “Exagerado”. No especial “Uma Prova de Amor”, Cazuza e Simone a interpretaram em dueto.

“Será” (rock, 1985) – Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá
Um dos hinos da geração roqueira dos anos 80, “Será” foi lançada pelo grupo Legião Urbana em 1985, no primeiro disco da trupe e, como tudo que dizia respeito ao líder e vocalista Renato Russo, acabou envolvida em uma aura messiânica. Os versos questionadores “Será só imaginação?/ Será que nada vai acontecer?/ Será que é tudo isso em vão?/ Será que vamos conseguir vencer?”, ajudaram a definir o sentimento de toda uma juventude. Percebendo esse poder de identificação, a cantora Simone se aventurou a regravar a canção em 1991, no álbum “Raio de Luz”. Além dela, o grupo de pagode Raça Negra e a dupla sertaneja Bruno & Marrone também compreenderam a atemporalidade da faixa.

“Então É Natal” (canção, 1995) – versão de Cláudio Rabello
Ironicamente, ao contrário do que apregoa o espírito natalino, foi uma espécie de vingança que motivou o maior sucesso comercial do gênero no Brasil. “Para um disco gravado a toque de caixa, num prazo de 20 dias, o resultado é muito interessante. A Simone tinha saído da Sony e queria dar um troco na gravadora. Deu certo, ela vendeu mais de um milhão de cópias do disco”, conta Rodrigo Faour, jornalista e produtor musical. Nascida no dia 25 de dezembro, a cantora aproveitou a coincidência da data para nomear o trabalho. Ainda hoje, a versão em português de Cláudio Rabello para “Happy Christmas”, de John Lennon, é uma das mais pedidas e comentadas em festas natalinas no Brasil…

“Mulheres” (samba, 1995) – Toninho Geraes
Todo mundo já cantou Toninho Geraes, mesmo que não ligue o nome à pessoa. Ou, nesse caso, à musica. São dele os versos propagados Brasil afora por outro bamba de respeito. É possível que muita gente cometa o equívoco de cantar “já tive mulheres, de todas as cores/ de várias idades, de muitos amores/ com umas até, certo tempo fiquei/ com outras apenas/ um pouco me dei”, e diga, na sequência, “aquela música do Martinho da Vila”. Mas não, letra e melodia desse grande sucesso foram compostas por ele, o Toninho das Geraes, que nasceu em Belo Horizonte e aos 17 anos migrou para o Rio de Janeiro em busca de um lugar ao sol. A música foi gravada por Simone em 96.

“Verdade” (samba de roda, 1996) – Nelson Rufino e Carlinhos Santana
O historiador Luiz Antônio Simas, coautor do “Dicionário da História Social do Samba” (com Nei Lopes), elege “Deixa Clarear”, de 1996, entre os discos mais marcantes da trajetória de Zeca Pagodinho. “LP marcado pelo estrondoso sucesso de ‘Verdade’, samba de roda de Nelson Rufino e Carlinhos Santana. Mantendo o time que está ganhando, Zeca regrava um clássico da Velha Guarda da Portela: ‘Vivo Isolado do Mundo’, de Alcides Malandro Histórico. ‘Não Sou Mais Disso’, ‘Conflito’, ‘Dona Encrenca’ e ‘Jiló com Pimenta’ estão também nesse LP seminal da carreira do artista”, analisa Simas. Desde então, “Verdade” passou a ser peça obrigatória no repertório de sucessos de Zeca Pagodinho. “Descobri que te amo demais/ Descobri em você minha paz/ Descobri sem querer a vida/ Verdade”. A música foi regravada por Simone.

“Lenha” (balada, 1997) – Zeca Baleiro
No interior do Maranhão, em Arari, Zeca Baleiro ouvia discos de Martinho da Vila, Luiz Gonzaga e Mercedes Sosa. Antes mesmo de ser conhecido ele já tinha um ídolo: Fagner. O encontro dos músicos aconteceu quando o cearense foi levado pelo poeta Sergio Natureza a um show de Baleiro. “O que mais me instigou foi o fato de sermos de gerações diferentes”, afirma Baleiro.

Juntos, os dois compuseram quase 20 canções, gravaram disco e DVD. “Até o conceito de geração está confuso. No passado, isso era uma afirmação de identidade estética e ideológica. Hoje, a ideologia é o mercado e a ideia de sucesso se antepôs a tudo”, lamenta Baleiro. Um dos maiores sucessos autorais de Baleiro, a balada “Lenha”, lançada em 1997, recebeu regravação de Simone no ano 2000.

“Seda Pura” (balada, 2001) – Cazuza e Frejat
Cazuza é um dos mais prolíficos compositores brasileiros, principalmente no que tange a parcerias, não só a tempo de vida. Morto aos 32 anos, pelos efeitos da AIDS, o poeta exagerado praticou em vida a arte do encontro, e encarnou o ideal brasileiro da mistura, da mestiçagem, do liquidificador em segredos compartilhados com o público. Gregário e explosivo, lírico e desbocado, ele teve a letra de “Seda Pura” musicada pelo eterno parceiro e lançada na voz da amiga Simone no ano de 2001, revivendo a sua singeleza.

“Definição da Moça” (MPB, 2009) – Adriana Calcanhotto e Ferreira Gullar
Adriana Calcanhotto e Ferreira Gullar iniciaram a parceria com as canções infantis para o espetáculo “Adriana Partimpim: o Show”, quando compuseram “Dono do Pedaço”, “Gato Pensa?”, “O Gato e a Pulga” e “O Ron-Ron do Gatinho”. Na continuação do projeto, Adriana deu voz a “O Trenzinho do Caipira”, histórica parceria de Gullar com Villa-Lobos. Já em 2008, no disco “Maré”, ela concedeu sua versão para “Onde Andarás”, o bolero lançado por Caetano Veloso em 1968. Até que, em 2009, eles compuseram “Definição da Moça”, de conotação erótica, lançada pela cantora Simone no álbum “Na Veia”. Simone voltou à canção no disco “Em Boa Companhia”, que também rendeu um registro audiovisual, em 2010. “Como defini-la/ Quando está desnuda…”.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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