Relembre sucessos de Chocolate, humorista gravado por Elis e Caetano

*por Raphael Vidigal Aroeira

“A bem da verdade, o humor é uma grande tristeza que consegue perceber as coisas engraçadas.” Wislawa Szymborska

Dorival Silva, que ficou conhecido do público brasileiro como Chocolate, nasceu no Rio de Janeiro no dia 20 de dezembro de 1923, e morreu na mesma cidade no dia 27 de junho de 1989, aos 65 anos, após sofrer um infarto. Humorista e compositor de melodias, ele alcançou fama em programas com Chico Anysio e “A Praça da Alegria”, apresentado por Manuel de Nóbrega, onde era o único autorizado a escrever seu próprio texto que, muitas vezes escapando do humor, levava a plateia às lágrimas. Na música, também se notabilizou pelo estilo triste do samba-canção, com sucessos como “Canção de Amor”, lançado por Elizeth Cardoso, e “É Tão Gostoso, Seu Moço”, parceria com Mário Lago que ecoou na voz grave e metálica da cantora Nora Ney. Posteriormente, teve as suas músicas regravadas por Caetano e Elis Regina.

“Canção de Amor” (samba-canção, 1950) – Chocolate e Elano de Paula
O que talvez passe despercebido para a maioria das pessoas é que o Brasil inventou até mesmo um compositor de nome Chocolate, ou melhor, apelido, que teve entre seus parceiros de palco e composição o humorista Chico Anysio. Dorival Silva, o Chocolate, que também era ator e comediante, com participação na “Praça da Alegria”, comandada por Manoel de Nóbrega, escreveu músicas lançadas por Angela Maria, Nora Ney, Cauby Peixoto, Elis Regina, Elizeth Cardoso, e muitos outros. Foi com Elano de Paula, irmão de Chico Anysio, que ele compôs, em 1950, “Canção de Amor”, samba-canção lançado com enorme sucesso por Elizeth Cardoso e para sempre associado à cantora que era Divina.

“É Tão Gostoso, Seu Moço” (samba-canção, 1953) – Chocolate e Mário Lago
Não à toa chamam Mário Lago de poeta. Além da função literária, ele desempenhava os serviços de ator, compositor, radialista e teatrólogo. Tudo com poesia. Sem mencionar que, por desvios dessa vida que a gente não imagina, formou-se em advocacia, embora procurasse, algumas vezes, esconder o diploma adquirido. Fonte de suas escritas eram as mulheres, Auroras e Amélias. E também o fracasso, condição existencial do homem. Em 1953, compôs com o comediante e melodista de fino-trato Chocolate, o samba-canção “É Tão Gostoso, Seu Moço”, belamente gravado por Nora Ney. A música obteve regravações das cantoras Áurea Martins e Tânia Maria, depois.

“Vida de Bailarina” (samba-canção, 1954) – Américo Seixas e Chocolate
Atuando no programa “A Praça da Alegria”, o músico Chocolate ficou mais conhecido como comediante. Apesar disso, ele criou canções que fizeram muito sucesso, como “Canção de Amor”, parceria com Elano de Paula lançada por Elizeth Cardoso, e “Vida de Bailarina”, feita com Américo Seixas para Angela Maria, que se tornou um enorme sucesso no ano de 1954. Fã confessa de Angela Maria, a gauchinha Elis Regina regravaria a música dezoitos anos depois, em 1972, no famoso álbum em que ela aparece na capa sentada em uma cadeira. Ao repetir o êxito, a música também se tornou marcante com Elis.

“Triste Melodia” (samba-canção, 1955) – Chocolate e Di Veras
Cauby Peixoto veste as músicas que canta com a grandeza de sua voz. De pérolas, brilhantes e cristais. Tal qual um estilista da canção, ele recheia de jazz e suingue próprio os ritmos mais brasileiros. Cauby desenha palavras adornando o límpido de sua voz, que ele apresenta no palco sob uma cortina exuberante. A cortina é sua figura, sua presença tão sobressaída quanto o motivo dos gritos da plateia: a voz de um cantor da geração de ouro do rádio brasileiro que segue abrasadora em tempos indistintos. Em 1955, o Professor lançou “Triste Melodia”, samba-canção de Chocolate com o empresário Di Veras, que, no início da carreira, forjou uma imagem galante de Cauby Peixoto.

“Hino ao Músico” (marcha, 1957) – Chico Anysio, Chocolate e Nanci Wanderley
Devidamente consagrado como um exemplo a ser imitado no campo da arte, Chico Anysio foi singular, único, inimitável na imitação de louros, lorotas, velhos, jovens, profetas e carolas, irreverências cultivadas no celeiro, capinadas no pasto do boi, mamadas nas tetas da vaca de um amontoado de políticos salafrários, candidatos corruptos, galãs canastrões, armado até os dentes com a verdade e a vontade de provocar riso com a reflexão, ou vice versa ao contrário.

Criou a canção ‘A família’, cantada por Jair Rodrigues em festival, ‘Guarda chuva de pobre’ em que saltava como grilo mais um de seus bordões (“guarda chuva de pobre é cachaça”), cantou músicas de Mário Lago e Bruno Marnet, ambíguas entre si, ‘Não sou de nada’ e ‘Eu sou durão’, foi cantado por Elis Regina, Emilinha Borba, Alcione, Dalva de Oliveira e a amiga Dolores Duran.

E encheu de felicidade muitos lares brasileiros em tardes amenas e aparentemente sem graça, até a sua chegada. Não por acaso, compôs com Chocolate e Nanci Wanderley o ‘Hino ao Músico’, no qual referendava, com a autoridade de que dispunha: “Música é alegria!”.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.

Compartilhe

Facebook
Twitter
WhatsApp
LinkedIn
Email

Comentários pelo Facebook

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Recebas as notícias da Esquina Musical direto no e-mail.

Preencha seu e-mail:

Publicidade

Quem sou eu


Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

Categorias

Já Curtiu ?

Siga no Instagram

Amor de morte entre duas vidas

Publicidade

[xyz-ips snippet="facecometarios"]