Vinicius de Moraes foi cantado de Elis Regina a Caetano Veloso e Maysa

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Não morre o homem
Sua morte em paz
Se não amou
E não sofreu
Pelos demais” Vinicius de Moraes

Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes, mais conhecido como Vinicius de Moraes, nasceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de outubro de 1913, e morreu no dia 9 de julho de 1980, aos 66 anos, vítima de um infarto, após uma vida de muitos amores e doses de uísque. Casado nove vezes, Vinicius de Moraes foi um dos maiores poetas do Brasil, e soube transformar esse romantismo em música, ao lado de parceiros como Tom Jobim, Toquinho e Chico Buarque.

Entre os maiores sucessos da obra musical de Vinicius estão “Soneto de Fidelidade”, “Samba da Bênção”, “Onde Anda Você?”, “Eu Sei Que Vou Te Amar”, “Garota de Ipanema”, “Eu Não Existo Sem Você”, e muitos outros, entre eles as canções infantis da “Arca de Noé”. Em 1971, Vinicius compôs sozinho o samba “Tomara”, que ele interpretou com a cantora Marília Medalha e o acompanhamento do violão de seu grande amigo e parceiro Toquinho.

“Adeus” (samba, 1932) – Noel Rosa e Ismael Silva
No dia 8 de setembro de 1931, Nilton Bastos, amigo de muitas e boas de Ismael Silva e Noel Rosa, além de parceiro de ambos em sambas célebres, faleceu vítima de tuberculose, aos 32 anos. A doença também vitimaria Noel, em 1937, quando ele tinha apenas 26 anos. A tristeza pela partida precoce de Nilton levou Ismael e Noel a comporem o samba “Adeus”, lançado em 1932 pela dupla formada por Castro Barbosa e Jonjoca. Em 1975, Vinicius de Moraes e Toquinho registraram outra versão sensível da canção. “Adeus, adeus, adeus/ Palavra que faz chorar/ Adeus, adeus, adeus/ Não há quem possa suportar/ Adeus é tão triste/ Que não se resiste…”, cantam os saudosos.

“Dor de Uma Saudade” (foxtrote, 1933) – Vinicius de Moraes e José Medina
Nem todo herói morre de overdose. E nem foi Cazuza o único a deixar a vida aos 32 anos. João Petra de Barros, um carioca da capital, de timbre parecido ao do grandiloquente Francisco Alves, foi apelidado por César Ladeira como “a voz de 18 quilates”. Ícone do rádio de seu tempo, as décadas de 1930 e 1940, o hoje esquecido cantor completaria seu centenário em 2014. Pouco festejado João Petra foi sinônimo de farra e sucesso na época em que atuou. Parceiro de boemia de Noel Rosa teve o privilégio de gravar Mário Lago, Ary Barroso, Ismael Silva, Orestes Barbosa, Custódio Mesquita, Peterpan, um iniciante Vinicius de Moraes, na música “Dor de Uma Saudade”, no já longínquo, 1933.

“Se Todos Fossem Iguais a Você” (samba-canção, 1957) – Vinicius de Moraes e Tom Jobim
Foi a peça “Orfeu da Conceição”, escrita em 1954, que aproximou Vinicius da canção popular. “Ele uniu a escola de samba com o mito grego, e daí surgiu uma série de composições ao estilo da bossa nova”, afiança o músico, ensaísta e professor de literatura José Miguel Wisnik, que aproveita o ensejo para problematizar as motivações do poeta. “Não acho que ele buscava apenas popularidade, porque a experiência da poesia cantada é diferente daquela escrita em livro: vejo esse ponto como o mais revelador dessa decisão”, afirma Wisnik. “O Vinicius abriu um caminho e, se você observar, em certo momento ele até para de publicar livros, que passam a ser mais coletâneas. No final da vida dele, a música fica mais importante”, corrobora Paulo Werneck, editor da revista literária “Quatro Cinco Um”. “Se Todos Fossem Iguais a Você”, primeira parceria de Vinicius e Tom, integrou “Orfeu da Conceição” e foi gravada por Maysa.

“Chega de Saudade” (bossa nova, 1958) – Vinicius de Moraes e Tom Jobim
Os sentimentos universais de abandono e desilusão encontrariam uma intérprete de voz calorosa, capaz de conciliar os arroubos de suas antecessoras Angela Maria (1929-2018) e Dalva de Oliveira (1917-1972) às interpretações mais delineadas que ditariam a canção nacional a partir do aparecimento de João Gilberto (1931-2019) e sua bossa nova. Por sinal, meio de gaita, Elizeth Cardoso acabaria tida como espécie de precursora “torta” do estilo, ao cantar Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980) no álbum “Canção do Amor Demais” (1958), com direito à emblemática “Chega de Saudade” abrindo os trabalhos. Para completar, havia o violão de João Gilberto em duas faixas. Mas Elizeth era uma cantora à moda antiga, como entregava o título do LP.

“Medo de Amar” (samba-canção, 1958) – Vinicius de Moraes
Ponte entre a tradição e a modernidade, Elizeth Cardoso privilegiava letras que calavam fundo em seu peito: “Nunca mais vou fazer/ O que o meu coração pedir/ Nunca mais vou ouvir/ O que o meu coração mandar”, de Antônio Maria (1921-1964) e Ismael Neto (1925-1956). “Ocultei/ Um sentimento de morte/ Temendo a sorte/ Do grande amor que te dei”, de Ary Barroso. “Risque meu nome do seu caderno/ Pois não suporto o inferno/ Do nosso amor fracassado”, do mesmo compositor. “Outra vez, sem você/ Outra vez, sem amor/ Outra vez, vou sofrer, vou chorar/ Até você voltar”, de Tom Jobim. “Vire essa folha do livro e se esqueça de mim/ Finja que o amor acabou e se esqueça de mim”, de Vinicius de Moraes. “Medo de Amar”, um samba-canção só de Vinicius, ganhou a versão arrebatadora de Nana Caymmi, e foi regravada por Ney Matogrosso.

“Por Toda a Minha Vida” (canção, 1958) – Vinicius de Moraes e Tom Jobim
Durante uma cena de bar, emerge num filme sobre máfia protagonizado por Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci, um chorinho com influência de baião, batizado de “Delicado”. Composta, em 1951, por Waldir Azevedo, a música compõe a trilha sonora de “O Irlandês” (2019), filme dirigido por Martin Scorsese. Na versão, a canção recebeu um arranjo para orquestra e reafirmou a tradição musical brasileira de estar presente em produções internacionais. No filme “Fale com Ela”, dirigido por Pedro Almodóvar em 2002, o Brasil aparece mais de uma vez. Caetano Veloso dá voz a “Cucurrucucú Paloma”, do mexicano Tomás Méndez, e Elis Regina interpreta a camerística “Por Toda a Minha Vida”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, em uma cena de tourada. A canção, lançada no ano 1958, também é conhecida como “Exaltação ao Amor”.

“Eu Sei Que Vou Te Amar” (samba-canção, 1959) – Tom Jobim e Vinicius de Moraes
Considerada ainda hoje, com justiça, uma das mais românticas canções do repertório nacional, “Eu Sei Que Vou Te Amar” costuma embalar pombinhos apaixonados de todas as gerações. Composta pela dupla Vinicius de Moraes e Tom Jobim, a música foi lançada pela cantora lírica Lenita Bruno, em 1959. No mesmo ano, recebeu outras regravações, sendo a mais destacada delas a da intérprete paulista Elza Laranjeira. Os versos de Vinicius ganharam a adesão de uma declamação feita por ele próprio do “Soneto de Fidelidade”, mais conhecido pelo afamado verso “que seja infinito enquanto dure”, numa gravação feita por Maria Creuza em 1972, com o acompanhamento do violão de Toquinho. “Eu sei que vou te amar/ Por toda a minha vida, eu vou te amar/ Em cada despedida…”.

“A Felicidade” (samba, 1959) – Vinicius de Moraes e Tom Jobim
A convite de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Agostinho gravou – com João Gilberto ao violão –, “Manhã de Carnaval”, de Antônio Maria e Luiz Bonfá, para a trilha de “Orfeu Negro”, dirigido pelo francês Marcel Camus, que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1960. O êxito da participação em “Orfeu Negro”, que também levou Cannes e o Globo de Ouro, catapultou o cantor Agostinho dos Santos ainda mais ao alto. Na trilha, outro estouro na voz de Agostinho fora “A Felicidade”, clássico de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, dupla da qual já havia gravado “Eu Sei Que Vou Te Amar”, em 1959. Tudo convergiu para que, em 1962, ele fosse convocado para a histórica apresentação no Carnegie Hall, em Nova York.

“Brigas Nunca Mais” (samba, 1959) – Vinicius de Moraes e Tom Jobim
Tiete, o rapaz não titubeou ao avistar o poeta: o chamou de mestre, pediu um autógrafo e guardou a preciosidade num envelope pardo. Poucas horas depois, assim que chegou aos estúdios da gravadora Odeon, no Rio de Janeiro, largou com displicência a assinatura de Carlos Drummond de Andrade em um canto qualquer e nunca mais a avistou nem se preocupou com isso. O rapaz era João Gilberto (1931-2019), Papa da Bossa Nova, que, em 1959, gravou o samba “Brigas Nunca Mais”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Um sucesso!

“Pela Luz dos Olhos Teus” (bossa nova, 1960) – Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes era mesmo um homem surpreendente, que encontrou na bossa nova, na garota de Ipanema e na praia de Itapoã as paisagens perfeitas para sua poesia. Vinicius de Moraes chamava a cidade de São Paulo de “túmulo do samba”. E Vinicius dizia que “mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão”. Porque Vinicius de Moraes era contra a solidão, e a sua casa sempre aberta era uma prova disso. Seu coração sempre disposto era outra prova disso. Sua poesia sempre inspirada e apaixonada é a maior e mais duradoura prova de todas. Rodeado por muitos amigos e muitos amores, Vinicius mantinha aquela expressão de menino procurando algo, sempre atrás de alguma coisa. Talvez tenha achado, talvez a tenha perdido, mas ele estava sempre procurando, como, por exemplo, em “Pela Luz dos Olhos Teus”, samba de 1960 eternizado na voz de Miúcha.

“O Grande Amor” (bossa nova, 1960) – Tom Jobim e Vinicius de Moraes
Após oito anos de carreira ininterrupta e em ascensão, Mário Reis decidiu interromper os trabalhos, em 1936, e se recolheu. Realizou shows esporádicos até que, em 1960, gravou o seu primeiro LP. Na ocasião, recebeu um presente de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, a dupla de compositores mais famosa da época, em pleno balanço da bossa nova. “O Grande Amor” foi lançada em “Mário Reis Canta Suas Criações em Hi-Fi”, com arranjo do maestro Lindolpho Gaya, e recebeu uma regravação em 1964, no disco que João Gilberto e Stan Getz gravaram nos Estados Unidos, tornando-se um símbolo da bossa nova.

“Rancho das Namoradas” (marcha-rancho, 1962) – Ary Barroso e Vinicius de Moraes
Muitas lendas e folclores se perpetuaram sobre sua figura mítica, um dos símbolos de um Brasil musical que ele defendia com unhas, dentes e microfones. Fosse narrando os jogos do Flamengo ou acompanhando Carmen Miranda ao piano, Ary Barroso sempre esteve ao lado das bandeiras mais populares do seu país. Luiz Peixoto, Noel Rosa e Vinicius de Moraes foram alguns dos que tiveram o privilégio de compor com Ary Barroso. Acostumado a criar letra e música, ele abria raras exceções para parcerias. Numa dessas, compôs com Vinicius de Moraes o “Rancho das Namoradas”, marcha-rancho lançada, em 1962, pela extraordinária cantora Angela Maria. E foi um sucesso.

“Garota de Ipanema” (samba-bossa, 1963) – Tom Jobim e Vinicius de Moraes
“Garota de Ipanema” é, ainda hoje, a música brasileira mais executada em todos os tempos dentro e fora do país. Uma típica peça de bossa nova, composta por dois dos maiores nomes da cena, o poeta Vinicius de Moraes e o maestro Tom Jobim, em 1963, a música segue o “doce balanço” da garota em versos e melodias, num ritmo parecido ao do mar, distante e sereno em sua força, seu poder de síntese e ebulição. Assim, as imagens do corpo feminino ganham na natureza, e através dela, seu ideal de perfeição. “Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema, o seu balançado é mais que um poema, é a coisa mais linda que eu já vi passar”. Foi regravada, entre outros, por Frank Sinatra.

“Lamento” (choro, 1963) – Pixinguinha e Vinicius de Moraes
“Se você tem 15 volumes para falar de toda a música popular brasileira, fique certo de que é pouco. Mas se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido; escreva depressa: Pixinguinha.” Essas foram as palavras eternizadas pelo musicólogo Ary Vasconcelos. Vinicius de Moraes concordava, e declamou emocionado: “A bênção Pixinguinha, tu que choraste na flauta todas as minhas mágoas de amor”. A admiração pelo instrumentista fez com que o “Poetinha” pusesse versos milimétricos na refinada composição, de 1928, de Pixinguinha: “Lamento”. A bênção definitiva de Vinicius ocorreu em 1963, quando os dois trabalharam juntos na trilha sonora do filme “Sol Sobre a Lama” de Alex Viany. Elizeth Cardoso interpretou com Jacob do Bandolim e o conjunto Época de Ouro as “coisinhas simples” de Pixinguinha, como ele próprio dizia.

“Marcha da Quarta-feira de Cinzas” (marcha-rancho, 1963) – Vinicius de Moraes e Carlos Lyra
O ato mais duro da ditadura, o AI-5, que fechou o Congresso e institucionalizou a censura e a tortura, ainda não havia sido promulgado pelo marechal Costa e Silva que, na ocasião, era Ministro da Guerra do ditador Castello Branco. Partiu de Costa e Silva e intenção de enquadrar Nara na Lei de Segurança Nacional para prender a cantora. A ameaça despertou uma mobilização da classe artística. Carlos Drummond de Andrade, consagrado como um dos maiores poetas brasileiros, escreveu em sua coluna o poema “Apelo”, que ficou mais conhecido pelo verso final: “não deixe, nem de brinquedo/ que prendam Nara Leão”. Em 1964, Nara gravou a “Marcha da Quarta-feira de Cinzas”, parceria de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra lançada um ano antes por Jorge Goulart, que captava bem o espírito daqueles tempos sombrios que se estendiam sobre o país.

“Consolação” (samba, 1964) – Vinicius de Moraes e Baden Powell
A estreia no mercado fonográfico de uma das maiores violonistas que o Brasil já conheceu se deu com o LP “Apresentando Rosinha de Valença”, pelo selo da inesquecível Elenco e suas históricas capas produzidas pelo designer César Villela, reconhecíveis ao primeiro olhar. No repertório, temas de domínio público, como “Atirei o Pau no Gato”, clássicos da música brasileira, caso de “Com Que Roupa”, de Noel Rosa, e “Consolação”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, representando a emergente bossa nova. O ano, 1964, quando a ditadura militar se instalava no Brasil para permanecer durante vinte anos.

“O Morro Não Tem Vez” (samba, 1964) – Tom Jobim e Vinicius de Moraes
“O Morro Não Tem Vez”, samba de andamento diferenciado, foi lançado no álbum “O Samba Como Ele É”, mas só alcançou reconhecimento quando Jair Rodrigues o cantou em dueto com Elis Regina no LP “Dois Na Bossa”, de 1965, acompanhados pelo Jongo Trio num pot-pourri que reunia ainda “Feio Não É Bonito” (de Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri), “Samba do Carioca” (de Lyra e Vinicius de Moraes), “Este Mundo É Meu” (de Sérgio Ricardo e Ruy Guerra), “A Felicidade” (de Tom Jobim e Vinicius) e muitas outras canções de sucesso. Composta pela dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes, a composição chegava ao Brasil junto com o nefasto regime militar, que perduraria vinte anos, até 1985.

“Arrastão” (canção, 1965) – Vinicius de Moraes e Edu Lobo
Elis Regina mexia tanto os braços para o alto na interpretação de “Arrastão” que ganhou de Vinicius de Moraes, autor da letra, o apelido de “Hélice Regina”. A melodia era de Edu Lobo, que propunha um encontro entre a sofisticação harmônica da bossa nova e as asperezas da música nordestina, influenciado pelo trabalho de Carlos Lyra no Centro Popular de Cultura da UNE (União Nacional dos Estudantes). A música arrebatou o primeiro lugar no 1º Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, e projetou os nomes de Elis Regina e Edu Lobo. Vinicius de Moraes, à época, já era um artista consagrado.

“Primavera” (canção, 1965) – Vinicius de Moraes e Carlos Lyra
“Oi, gente, eu sou aquela menina ‘bicona’ do disco ‘O Som da Pilantragem’… vocês se lembram? Pois é, agora que todo mundo ‘tá na minha’… uma amostrinha do ‘Pila n.º 2’… uma faixa ‘da pesada’: ‘Tem Dó’…”. É a própria Regininha quem se apresenta, com essas palavras descoladas, na capa do compacto simples “Apresentando Regininha”, lançado pela Polydor em 1968. “Claro que a ‘Turma da Pila’ tá toda aí, bem como o nosso ‘chefe’ supremo, Nonato Buzar, amém! Ah, outra coisa: o meu LP já vem por aí. O título?… ‘Me Ajuda Que a Voz Não Dá’… Tá? ‘Bye’!…”, continua ela no encarte. O título é uma referência bem-humorada a uma frase que Regininha soltou durante a gravação de “Primavera”, a bonita música de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes.

“Minha Namorada” (canção, 1965) – Vinicius de Moraes e Carlos Lyra
Considerada por Elis Regina “a maior cantada da música brasileira”, a composição de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra faz jus ao entendimento da cantora, que assistiu ao registro feito por Jair Rodrigues durante o programa “O Fino da Bossa”, apresentado pela dupla na rede Record nos anos 1960. “Se você quer ser minha namorada/ah, que linda namorada/você poderia ser/ (…) e também de não perder esse jeitinho/de falar devagarinho/essas histórias de você”. A música foi gravada por Maria Creuza e Maria Bethânia.

“Tempo Feliz” (samba, 1965) – Vinicius de Moraes e Baden Powell
Vinicius de Moraes e Baden Powell compuseram “Tempo Feliz” especialmente para Ciro Monteiro, como avisava o encarte do compacto editado pela Elenco em 1965, selo de Aloysio de Oliveira. Conhecido nas rodas de samba como Formigão, o cantor foi resgatado pela dupla em um período em que já não gozava de tanto prestígio. A letra, aliás, expressava essa nostalgia: “Feliz o tempo que passou, passou/ Tempo tão cheio de recordações/ Tantas canções ele deixou, deixou/ Trazendo paz a tantos corações”. Ao final, a esperança se assanhava sem constrangimentos: “E quando um dia esse tempo voltar/ Eu nem quero pensar/ No que vai ser/ Até o sol raiar…”. A música foi um grande sucesso.

“Canto de Ossanha” (afro-samba, 1966) – Baden Powell e Vinicius de Moraes
Foi o poetinha Vinicius de Moraes, em consonância com o compositor Carlos Lyra, que sugeriu a Cyva, Cynara, Cybele e Cylene que formassem um conjunto vocal com o nome de “Quarteto em Cy”. A essa altura elas já haviam descoberto o prazer da música cantando no projeto sociocultural da Bahia “Hora da Criança”, e de passagem pelo Rio de Janeiro, Cyva conheceu Vinicius. Pouco tempo depois, também em 1966, gravariam, na companhia de Baden Powell e Vinicius, e em solo, um dos afro-sambas mais conhecidos e repetidos da dupla, o “Canto de Ossanha” que estimula filosofia e paixão.

“Odeon” (tango-brasileiro, 1968) – Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes
O menino Ernesto Nazareth teve com a mãe as primeiras lições de piano, instrumento que conferia luxo e glamour para quem o possuísse no Rio de Janeiro do século XIX. Após a morte prematura da primeira professora, Ernesto intensificou os estudos com profissionais da área e fez das teclas suas ferramentas de trabalho. Apresentando-se na sala de espera do tradicional cinema Odeon a partir de 1910, dedicou a ele o que ficou conhecido como um de seus mais famosos “tangos brasileiros”, uma mistura de suas influências populares como o choro e o maxixe, com o cancioneiro erudito. Letrada inicialmente por Ubaldo para Dircinha Batista cantar, a música recebeu nova poesia em 1968, de Vinicius de Moraes, com a interpretação de Nara Leão.

“Gente Humilde” (samba-canção, 1970) – Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque
A gravação de “Gente Humilde” aconteceu informalmente, quase por acaso, como presente a um amigo querido de Garoto, o professor mineiro Valter Souto. Num acetato simples, eternizou-se o momento de inspiração que recaiu divino, com a espontaneidade que acalora os corações de artistas. A cena observada passaria incólume, não tivessem aquelas mãos o poder de restringir às cordas a leveza de um sentimento inalcançado. Afinal o poeta vê a árvore e se encanta por ela, e nos encanta com sua poesia. A mesma árvore que vemos todos os dias. Com auxílio de Vinicius e Moraes e Chico Buarque, a canção abraçou em 1970 versos que Garoto não disse, mas zumbiu.

“Samba de Gesse” (bossa nova, 1971) – Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes (1913-1980) foi casado nove vezes. A sétima esposa foi a atriz baiana Gessy Gesse. Apresentados por Maria Bethânia, os dois selaram o matrimônio de maneira pouca ortodoxa. Numa praia de Salvador, Vinicius vestiu-se de bata branca e uma coroa de margaridas. Os dois foram morar na capital baiana, e o relacionamento durou sete anos. Enquanto a chama do amor ainda não havia se apagado, o Poetinha compôs, para a sua musa, “Samba de Gesse”, um singelo samba ao estilo da bossa nova, em que declarava uma paixão que, apesar de nova, ele suspeitava vir de outras eras: “Até parece que eu conhecia sempre você/ Que me aparece quando eu não via jeito de ser/ (…) Quando amanhece e eu ao meu lado vejo você/ Eu digo em prece que a vida é linda como você”. Fato curioso e raro na trajetória do compositor, Vinicius criou melodia e letra sozinho, sem parceiros.

“Tomara” (bossa nova, 1971) – Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes foi casado nove vezes. A sétima esposa foi a atriz baiana Gessy Gesse. Apresentados por Maria Bethânia, os dois selaram o matrimônio de maneira pouca ortodoxa. Numa praia de Salvador, Vinicius vestiu-se de bata branca e uma coroa de margaridas. Os dois foram morar na capital baiana, e o relacionamento durou sete anos. Enquanto a chama do amor ainda não havia se apagado, o Poetinha compôs, para a sua musa, “Tomara”, um singelo samba ao estilo da bossa nova, em que utilizou um de seus versos mais famosos: “Que é melhor se sofrer junto/ Que viver feliz sozinho”. Fato curioso e raro na trajetória do compositor, Vinicius criou melodia e letra sozinho, sem parceiros. A música foi gravada em parceria com Marília Medalha e Toquinho.

“Samba da Rosa” (samba, 1971) – Vinicius de Moraes e Toquinho
Se as fronteiras entre música e literatura estão mais fluidas hoje na vida cultural do Brasil, o crédito deve ser dado a Vinicius de Moraes (1913-1980). Quando começou a compor com Tom Jobim (1927-1994), na década de 60, o então diplomata já era praticamente um veterano dos sonetos e das baladas. Somente nos anos 30, ele publicou quatro livros, sendo o primeiro “O Caminho para a Distância”, de 1933. De apelido Poetinha, o carioca é certamente o maior exemplo de sucesso nessa seara. Autor de versos solenes para livros de poesias e peças teatrais, Vinicius entrou de cabeça no universo da canção popular e foi um dos grandes artífices da bossa nova, com letras coloquiais e, ao mesmo tempo, sofisticadas. “Samba da Rosa”, de 1971, é um belo exemplo.

“Tarde em Itapoã” (samba, 1971) – Vinicius de Moraes e Toquinho
Na beira do mar, Badi Assad sente a “brisa a acariciar o seu corpo” e sequer precisa sair de casa. A compositora paulista conta que é “transportada” para esse ambiente toda vez que escuta “Tarde em Itapoã”, um dos clássicos do conterrâneo Toquinho em parceria com Vinicius de Moraes. Mas a intimidade de Badi com a obra de Toquinho data de um tempo anterior. “Como muitos brasileiros, o conheci através de ‘Aquarela’. Na época, eu tinha começado a tocar violão e achei incrível um cantor tocar violão daquele jeito enquanto cantava. Eu estava com 14 ou 15 anos mais ou menos, e com certeza ele plantou esta semente de possibilidades em meu jovem coração”, diz a cantora.

“A Tonga da Mironga do Kabuletê” (samba, 1971) – Vinicius de Moraes e Toquinho
Monsueto foi convidado, em 1971, por Vinicius de Moraes e Toquinho, autores da música, para uma esdrúxula participação em “A Tonga da Mironga do Kabuletê”: emitir sons ininteligíveis. Sabendo ser um convite de poeta para poeta, é claro que Monsueto aceitou. Hábil inventor de expressões carregadas de influência africana, mas, sobretudo, de humor e ironia, ele estava em casa quando se intrometia nos versos de “A Tonga da Mironga do Kabuletê”, como o haviam pedido. E é para lá, nesse lugar estranho e desconhecido, que Vinicius de Moraes e Toquinho pretendiam mandar com inteligência aqueles que atentavam contra tal princípio neste momento triste da política brasileira, abafada sobre o regime ditatorial que permaneceu de 1964 até 1985. Monsueto, ao contrário, era um homem livre, e legou, com alegria, este princípio e este ritmo.

“Samba de Orly” (samba, 1971) – Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Toquinho
Toquinho conta como nasceu o “Samba de Orly”, parceria com Vinicius de Moraes e Chico Buarque, lançada em 1971. “Foi em 1969, depois de seis meses na Itália que passei ao lado de Chico. Eu tinha deixado com ele um tema a ser desenvolvido. No dia da despedida, no aeroporto de Fiumicino, ele largou comigo dois versos: “Vê como é que anda aquela vida à toa/ Se puder me manda uma notícia boa”. Nascia assim essa canção que foi completada posteriormente no Brasil, com a participação de Vinicius de Moraes. Ela se chama “Samba de Orly” porque era geralmente em Orly, na França, que pousavam os aviões transportando os exilados brasileiros perseguidos pela ditadura daquela época”. E a música foi regravada pela cantora Bebel Gilberto.

“Valsa Para Uma Menininha” (valsa, 1971) – Toquinho e Vinicius de Moraes
Em 1970, Vinicius de Moraes lançou um livro de poemas baseados na história bíblica da Arca de Noé, destinado ao público infantil. Uma década depois, os poemas ganharam melodias de Toquinho, Tom Jobim, Paulo Soledade e outros amigos de Vinicius, que já era pai quando, em 1971, compôs “Valsa Para Uma Menininha”. A música é uma parceria com Toquinho, e tem toda a pinta de ter sido feita de pai pra filha. Delicada, singela, a música fala sobre a magia da infância, e pede à criança que ela conserve no coração esse período.

“Valsinha” (valsa, 1971) – Vinicius de Moraes e Chico Buarque
“O fato dele querer me conhecer foi um choque!”. Amelinha refere-se a Vinicius de Moraes (1913-1980), à época, consagrado como poeta e letrista de canção popular. Ainda casada com o primeiro marido, Maxim, a residência da intérprete transformou-se em “uma sucursal dos cearenses”. Vinicius fez chegar, através de Fagner, o desejo de se encontrar com a anfitriã. Com o Poetinha e Toquinho, ela excursionou, em 1975, para o Uruguai, passou por Punta del Este e se viu cantando no famoso cassino San Rafael. “Em Fortaleza, cantava com uma amiga as músicas do Vinicius com o Quarteto em Cy, e, de repente, estava ali com ele, parecia um sonho”, diz. Amelinha gravou “Valsinha”, de 1971, lindíssima parceria de Vinicius e Chico Buarque, em 1980.

“O Mais Que Perfeito” (valsa, 1973) – Vinicius de Moraes e Jards Macalé
Numa madrugada no baixo Leblon, Jards Macalé reconheceu, graças ao inseparável copo de uísque na mão, quem era o homem que se aproximava. Àquela altura, Vinicius de Moraes já tinha bebido umas boas doses do “melhor amigo do homem, o cachorro engarrafado”, como ele apelidara a bebida. Macalé, ainda que preferisse a cerveja, se encontrou com o Poetinha em outro ponto: a música. Foi assim que os dois compuseram “O Mais que Perfeito”, gravada por Clara Nunes em 1973. A história, embora saborosa, é uma fantasia. O poema de Vinicius que ganhou melodia de Macalé já existia desde 1962 e fora publicado no livro “Para Viver um Grande Amor”, escrito quando o autor era adido consular no Uruguai. Ao ler o poema, Macalé decidiu que se tornaria parceiro do poeta. E conseguiu. “Vinicius adorava essa nossa música. Eu sempre fui seu admirador, e nos tornamos bons amigos”, conta Macalé.

“Rosa de Hiroshima” (canção, 1973) – Gerson Conrad e Vinicius de Moraes
“Quando conheci o poema ‘Rosa de Hiroshima’, de Vinicius de Moraes, estávamos pesquisando poetas e nomes da nossa literatura para compor o repertório do grupo. O poema de Vinicius estava perdido, segundo o próprio, em meio a uma antologia”, rememora Gerson Conrad, autor da melodia de uma das canções de maior sucesso dos Secos & Molhados. Um dos critérios utilizados por ele para musicar o poema é que “o tema era de cunho universal”. Os versos “pensem nas crianças/ mudas telepáticas/ pensem nas meninas/ cegas inexatas/ pensem nas mulheres/ rotas alteradas/ pensem nas feridas/ como rosas cálidas”, saíram da página branca para ganhar o canto emocionado das multidões. “Certo dia, antes do lançamento do nosso primeiro LP, tive a oportunidade de conhecer o Vinicius nos bastidores da TV Bandeirantes, e ali apresentei ao poeta minha música para o seu poema. Ele se emocionou e disse que tinha certeza que seu poema se eternizaria”, conta.

“O Filho Que Eu Quero Ter” (acalanto, 1974) – Toquinho e Vinicius de Moraes
Em mais um LP dividido com o eterno parceiro Vinicius de Moraes, Toquinho dedicou uma canção ao filho Pedro, batizada de “O Filho Que Eu Quero Ter”, em 1975. Construída em forma de acalanto, as famosas cantigas de ninar para fazerem as crianças dormirem, essa canção singela percorre uma bonita linha do tempo, em que o filho que nasce logo se tornará também um pai. A canção foi lançada em primeira-mão por Chico Buarque um ano antes, em 1974, no disco “Sinal Fechado”, onde cantava músicas de outros por conta da censura.

“Onde Anda Você” (bolero, 1976) – Vinicius de Moraes e Hermano Silva
Maria Creuza dos olhos fundos, brasileira, baiana, filha da poesia, querida do Poetinha. Romântica, abusada, nunca reprimida pela força do cantar que ultrapassa barreiras ideológicas, territoriais e de gênero. Maria Creuza na Esplanada, sonora. Maria Creuza, cantora. Não extingue admiração, há encantamento. Vinicius de Moraes e Hermano Silva procuravam em 1976 a moça que os deixara louco de tanto prazer. Até que eles encontraram em Maria Creuza a cantora exata para interpretar os versos, com a dose certa de leveza e emotividade, do bolero “Onde Anda Você”, lançado pela cantora em 1976.

“Valsa do Bordel” (valsa, 1979) – Vinicius de Moraes e Toquinho
Em 1962, mesmo sem ter nada a ver com a Bossa Nova, Carmen Costa participa do emblemático concerto no Carnegie Hall, em Nova York, que reuniu Tom Jobim, João Gilberto, Roberto Menescal e Carlinhos Lyra, e toca cabaça. No mesmo ano, reafirma a ligação com a festa mais popular do Brasil ao gravar a “Marcha do Cordão do Bola Preta”, de Vicente Paiva: “Quem não chora, não mama/ Segura meu bem a chupeta/ Lugar quente é na cama/ Ou então no Bola Preta”. É, talvez, o último momento de ápice de Carmen. Nas décadas seguintes, ela presta tributo em disco a Paulo Vanzolini, realiza duetos com Agnaldo Timóteo e dedica, em 1980, um álbum inteiro a canções que têm como temática a prostituição, como “Dama do Cabaré”, de Noel Rosa, “Garoto de Aluguel”, de Zé Ramalho, e “Valsa do Bordel”, de Toquinho e Vinicius de Moraes, lançada, em 1979, pela cantora Maria Creuza.

“São Francisco” (infantil, 1980) – Vinicius de Moraes e Paulo Soledade
Em 1970, Vinicius de Moraes lançou um livro infantil baseado na trajetória bíblica da Arca de Noé. O livro conta a história dos animais que embarcaram na viagem chuvosa de 40 dias e 40 noites através de poemas bem humorados e singelos. Com o talento para manusear as palavras que ele tinha, a obra se transformou em especial da Rede Globo, exibido no dia das crianças do ano de 1980. As poesias foram musicadas por Toquinho, Tom Jobim, Paulo Soledade e outros amigos de Vinicius. E cantadas por Chico Buarque, Milton Nascimento, Elis Regina, Alceu Valença, Ney Matogrosso e outros talentos da arte do canto. Devido ao sucesso do espetáculo, apresentado no ano da morte de Vinicius, um ano depois surgiu a continuação: Arca de Noé 2, com poemas tão encantadores quanto os primeiros.

“A Foca” (infantil, 1980) – Toquinho e Vinicius de Moraes
Em 1980, os poemas de Vinicius de Moraes que abordavam a história bíblica da “Arca de Noé” ganharam a primeira versão em disco, com melodias de Toquinho. Vários artistas participaram desse trabalho – que teve a arte da capa feita por Elifas Andreato –, como Elis Regina, Milton Nascimento, Chico Buarque, Ney Matogrosso, Marina Lima e o conjunto As Frenéticas. Ficou a cargo de Alceu Valença a divertida “A Foca”, que brinca sobre o fato de o animal ter habilidades circenses. Alceu encarna o apresentador do circo e conclama a criançada a conhecer um pouco mais sobre esse curioso e irrequieto ser do mundo aquático.

“O Porquinho” (infantil, 1980) – Vinicius de Moraes e Toquinho
No ano de 1970, Vinicius de Moraes lançou livro infantil baseado na trajetória bíblica da Arca de Noé. A obra se transformou em especial da rede Globo, exibido no Dia das Crianças do ano de 1980. Devido ao sucesso do espetáculo, apresentado no ano da morte de Vinicius, um ano depois surgiu a continuação: “Arca de Noé 2”. E foi nessa segunda versão que o ator e compositor Grande Otelo apareceu em cena cantando “O Porquinho”, poema musicado por Toquinho com arranjos de Radamés Gnatalli.

*Bônus
“Poema de Natal” (Antologia Poética, 1977) – Vinicius de Moraes

Sentado no meio de sua sala, com um copo de uísque na mão, cabelos longos, lisos e grisalhos, lá estava ele, rodeado por amigos que adoravam rir de suas piadas, cantar seus poemas, ouvir suas histórias de amor e tocar as músicas que eram feitas com suas letras. Amigos que sabiam que sem ele aquela comunhão não seria possível. Vinicius de Moraes chamava a todos por diminutivos, como prova de seu imenso carinho. O “poetinha”, como ficou conhecido por conta dessa carinhosa mania, era um reconhecido galanteador, um poeta indiscutível, um letrista que fazia do simples a obra de sua arte, um homem apaixonado que exaltou o amor a vida inteira. Exaltou as mulheres e as belezas brasileiras. Quem poderia dizer que aquele diplomata demitido pelo governo militar se tornaria um dos maiores poetas do nosso país? “Poema de Natal” é a comprovação definitiva, recitado pelo autor sob o acompanhamento do violão de Toquinho, amigo de longa data. O mais que se diga será enfeite ante a vastidão das palavras de Vinicius.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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