*por Raphael Vidigal Aroeira
“Estás vendo esta árvore? Está seca e, no entanto, a um simples roçar do vento, ela se balança como as outras. Parece-me que será assim que, quando estiver morto, participarei da vida, de uma maneira ou de outra.” Tchekhov
José Ramiro Sobrinho, conhecido como Pena Branca, nasceu em Igarapava, no interior de São Paulo, no dia 4 de setembro de 1939, e morreu no dia 8 de fevereiro de 2010, aos 70 anos. Em 1961, ele formou com seu irmão mais velho, Ranulfo Ramiro da Silva, o Xavantinho, mineiro de Uberlândia, a histórica dupla caipira conhecida como Pena Branca & Xavantinho. A dupla só se desfez em 1999, após quase 40 anos de trajetória, com a morte de Xavantinho. Dupla caipira de sucesso, eles gravaram “O Cio da Terra”, de Chico Buarque e Milton Nascimento, com a participação de Milton. Criados na roça, eles se mantiveram fiéis às raízes até o final. Entre seus maiores sucessos, destacam-se músicas como “Cuitelinho”, que recebeu diversas regravações, “Flor do Cafezal”, “Rancho Triste”, “Vida no Campo”, “Poeira”, etc.
“Luar do Sertão” (toada, 1914) – Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco
Catulo da Paixão Cearense nasceu na capital do Maranhão, e aos dez anos foi para o interior do Ceará. Interior que amaria muito mais do que qualquer capital. Catulo era apaixonado pelas coisas singelas, simples e ingênuas e delas fez a obra-prima de suas canções. Eternizada na memória afetiva do povo brasileiro, “Luar do Sertão” foi composta por ele em 1914, e gerou divergências com relação à autoria da música. Enquanto Catulo afirmava que a havia composto sozinho, inspirado por uma música folclórica, outros como Heitor Villa-Lobos e Almirante diziam que a melodia era de João Pernambuco, violonista semianalfabeto. O que não se discute é a lembrança imediata de cada brasileiro quando se começa a tocar o refrão que remete ao balanço de uma rede. Elomar, Pena Branca, Renato Teixeira, Teca Calazans e Xangai, regravaram esse clássico da canção popular brasileira em “Cantoria Brasileira”.
“De Papo pro Ar” (cateretê, 1931) – Joubert de Carvalho e Olegário Mariano
Com Olegário Mariano, Joubert de Carvalho fomentou uma das parcerias mais profícuas em termos de repertório e qualidade da história musical brasileira. Inicialmente o casamento começou como aquele famoso caso em que apenas um dos parceiros sabe que está namorando. Joubert musicou dois poemas de Olegário, ‘Cai, cai balão’ e ‘Tutu Marambá’, que os apreciou, e a partir daí nasceram várias canções. Uma que tem levada das mais gostosas é o cateretê “De papo por ar”, de 1931, e que exalta a mansidão e preguiça típicas de Macunaíma, vista de perto em andanças dos dois comparsas. Lançada por Gastão Formenti foi regravada por célebres nomes como Paulo Tapajós, Ney Matogrosso, Renato Teixeira, Sérgio Reis, Inezita Barroso, Maria Bethânia, Pena Branca & Xavantinho, e outros.
“Calix Bento” (folia de reis, 1976) – Tavinho Moura
Entre trilhas sonoras, títulos da discografia-solo e outros em parceria, o músico Tavinho Moura contabiliza 18 álbuns na carreira, sem contar as participações. Mineiro de Juiz de Fora, ele recolheu, em 1976, a música de domínio público “Calix Bento”, oriunda da folia de reis, que ele adaptou para ser lançada naquele ano por Milton Nascimento, com enorme repercussão. Outra gravação de sucesso para a mesma música foi a da dupla caipira Pena Branca & Xavantinho. A canção desperta o histórico barroco e colonial das Minas Gerais.
“O Cio da Terra” (MPB, 1977) – Chico Buarque e Milton Nascimento
“O Cio da Terra” é uma canção de Chico Buarque e Milton Nascimento, em que se acentuam as características do “Clube da Esquina”, fortemente marcada pelo barroquismo da música mineira e atenta às transformações harmônicas vindas do exterior, em especial os “Beatles”. Lançada em 1977 para integrar o compacto “Primeiro de Maio”, que celebrava o dia do trabalhador e fazia coro ao movimento sindical do ABC paulista liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, futuro presidente do Brasil, a música consegue ir além da abordagem ao ofício agrário, por mais que inspirada no canto das mulheres camponesas que colhiam algodão e eram observadas por Milton. O que “O Cio da Terra” conta é o eterno ciclo de renascimento e transformação, do trigo em pão, da cana em mel, e da terra em chão, como na vida do homem, feita de perdas e ganhos. A música foi regravada por Mercedes Sosa, Pena Branca & Xavantinho, e outros.
“Hino da Folia de Reis” (folia de reis, 1987) – Pena Branca & Xavantinho
Nascidos em Uberlândia, no interior de Minas Gerais, e Igarapava, no interior de São Paulo, os irmãos José Ramiro e Ranulfo formaram, em 1962, a dupla caipira Pena Branca & Xavantinho, que teve entre seus sucessos músicas como “Calix Bento” (de Tavinho Moura) e “O Cio da Terra” (de Milton Nascimento e Chico Buarque). Ao longo da trajetória eles gravaram várias músicas para o Dia de Reis, entre elas o “Hino da Folia de Reis”. Pena Branca & Xavantinho foram fiéis às raízes caipiras e ao conhecimento colhido na roça.
Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2021.