*por Raphael Vidigal Aroeira
“Eu vou tirar você desse lugar
Eu vou levar você pra ficar comigo
E não me interessa
O que os outros vão pensar” Odair José
Odair José não suporta hipocrisia. “O cara faz uma coisa, aceita aquela coisa, mas posta de moralista contra aquilo. Eu sou contra qualquer preconceito”, resume. O artista goiano, que completa 73 anos nesta segunda (16), foi um dos primeiros a tocar no tema da prostituição na música brasileira, e, certamente, o mais popular, sucedendo Noel Rosa (“A Dama do Cabaré”, 1936), Lupicínio Rodrigues (“Quem Há De Dizer”, 1948) e Wilson Batista (“Dolores Sierra”, 1956), e antecipando uma geração que trouxe João Bosco, Aldir Blanc, Chico Buarque e Zé Ramalho, que falou do michê masculino em “Garoto de Aluguel”.
Sucesso. Odair tinha 22 anos quando conheceu o primeiro grande sucesso. “O disco vendeu muito, as rádios tocaram demais e o público canta até hoje como se fosse uma música recente. Para mim, é um privilégio”, celebra. No primeiro trimestre de 1972, “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” dominava as paradas.
A exemplo de escritores clássicos como Alexandre Dumas Filho (“A Dama das Camélias”, 1848), José de Alencar (“Lucíola”, 1862), Friedrich Dürrenmatt (“A Visita da Velha Senhora”, 1956), Truman Capote (“Bonequinha de Luxo”, 1958) e Jorge Amado (“Tieta do Agreste”, 1977), Odair José cativava o público ao abordar as aventuras e desventuras de uma meretriz.
Preconceito. “Comecei meu trabalho profissional nas noites do Rio, tocando em bares, boates, cantando para as pessoas e convivendo nesse ambiente. E assisti muito a isso. O homem aparece pra se distrair, encontra as moças, e depois volta porque já não é mais uma distração, a coisa ficou séria”, explica o compositor deste clássico da música brasileira.
“De repente, eu fiz essa observação e coloquei numa música, porque também acho que seria, foi e é uma forma de desmontar esse preconceito escondido atrás de uma hipocrisia muito grande”, destaca. Odair fala de cadeira quando o assunto é ser vítima de preconceito. No auge do sucesso de “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”, ele foi convidado por Caetano Veloso para interpretar a canção no Festival Phono 73, no Anhembi, em São Paulo, em um dueto que se tornou histórico, e acabou vaiado pelo público.
“Sempre defendi a prostituta, a empregada, o homossexual, o cara que fuma maconha. A pior censura é a dos hipócritas. Eu gosto de falar de coisas atrevidas. Estamos num momento de muita intolerância e hipocrisia”, finaliza.