10 músicas brasileiras conhecidas por apelidos

“Porque a maneira de reduzir o isolado que somos dentro de nós mesmos, rodeados de distâncias e lembranças, é botando enchimento nas palavras. É botando apelidos, contando lorotas. É, enfim, através das vadias palavras, ir alargando os nossos limites.” Manoel de Barros

Músicas brasileiras apelido

Quando o compositor erra, o público acerta e vem ao seu socorro. É isso o que provam os diversos apelidos que pululam na música brasileira. Uma rápida pesquisa será suficiente para que a surpresa dê lugar ao orgulho. Afinal de contas, é graças ao empenho da plateia que uma determinada canção, literalmente, troca de nome. Pois mais importante do que o cartório é o coro das vozes juntas. E nem precisa de assinatura. Já disse Jorge Amado: “anônimas por serem voz do povo”.

“A Sorrir” (samba, 1964) – Cartola e Elton Medeiros
Dona Zica cozinhava, enquanto Cartola tocava seu violão. Nascia, no início da década de 1960, o Zicartola, frequentado por bambas do morro e pela intelectualidade carioca que esboçava os primeiros passos da bossa nova. Localizada na rua da Carioca, a casa despertou o interesse de Nara Leão, que além de bossa nova gravou em seu disco de estréia três sambas, um deles intitulado “O Sol Nascerá” , mais conhecido como “A Sorrir”, devido aos primeiros versos da canção de Cartola e Elton Medeiros. Incluída no Show Opinião, a música recebeu regravações de Isaurinha Garcia, Elis Regina, Jair Rodrigues, e outros.

“Caminhando e Cantando” (rasqueado, 1968) – Geraldo Vandré
Uma das canções brasileiras mais representativas de todos os tempos, “Pra não dizer que não falei das flores” já nasceu controversa. O hino contra a repressão composto por Geraldo Vandré, no auge da ditadura militar no Brasil, em 1968, insuflou os espectadores presentes ao Maracanãzinho no III Festival Internacional da Canção e despertou a ira dos militares. O público aplaudiu com volúpia e intensidade e exigiu que a música vencesse o concurso. No entanto, o júri resolveu premiar “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque. Outra polêmica jamais resolvida é sobre o seu enorme título, substituído pelo público por seus primeiros versos.

“Honey Baby” (tropicalista, 1972) – Wally Salomão e Jards Macalé
“Vapor Barato” sofre de muitos enganos. Além de várias pessoas confundirem o título com o refrão da canção, nos inesquecíveis agudos de Gal Costa (“Oh minha, honey baby/baby…”), muitos também desconhecem sua verdadeira autoria. Não é demais imaginar que grande parte do público tenha mais acesso a regravações de outros intérpretes, como o registro feito pelo grupo O Rappa. Mas essa preciosidade da música brasileira foi composta durante o período da ditadura militar por dois rebeldes irrecuperáveis: Jards Macalé e Wally Salomão. O título original, concebido por seus autores, é uma menção ao uso da maconha.

“Se Gritar Pega Ladrão” (samba, 1980) – Ary do Cavaco e Bebeto di São João
Quando um povo se identifica com uma música se torna dono dela de tal forma que tem garantia para alterar seu nome. Esse é o caso de “Reunião de bacana”, assim intitulada por seus autores Ary do Cavaco e Bebeto di São João, mas consagrada pelo povo por seu refrão “Se gritar pega ladrão”, que acabou entrando entre parênteses como subtítulo da canção. Composta em 1980 foi lançada pelo grupo “Exporta Samba” no “Festival MPB” daquele ano. Gravada também pelos “Originais do Samba”, grupo do comediante Mussum, esse samba animado e sincopado manda um recado direto para uma certa classe de políticos brasileiros.

“Bem-Te-Vi” (MPB, 1982) – Paulinho Pedra Azul
O disco de estreia do mineiro Paulinho Pedra Azul, nascido na cidade interiorana que lhe serviu como sobrenome artístico, chamou a atenção por muitas razões: o lirismo das letras e as harmoniosas melodias. Mas nada ficou tão forte na memória do público quanto uma certa canção intitulada “Jardim da Fantasia”, e que era, inclusive, também o nome do disco. Certo é que a música, até hoje, é conhecida por seus primeiros versos, que chamam por um passarinho famoso aqui nessas terras: “Bem-te-vi, bem-te-vi/ Andar por um jardim em flor/ Chamando os bichos de amor/ Tua boca pingava mal”. O próprio Pedra Azul assentiu com a mudança.

“Chama o Síndico” (samba-rock, 1990) – Jorge Benjor
Em 1989, Jorge Ben alterou o seu nome artístico para Jorge Benjor. Algumas especulações como a numerologia e a carreira internacional do artista, que não queria ser confundido com o músico norte-americano George Benson, foram levantadas. A verdade é que no ano seguinte ele lançou uma música que seria estouro nas pistas de dança. “W/Brasil” fazia uma brincadeira com uma famosa agência de publicidade brasileira, e aproveitava a deixa para prestigiar o amigo Tim Maia, conhecido como “Síndico” da canção no Brasil. Pois foi pela alcunha do parceiro que a música passou a ser chamada, literalmente, de “Chama o Síndico”.

“Ando Devagar” (sertaneja, 1991) – Almir Sater e Renato Teixeira
Muito mais próximo da natureza, o homem do campo está infinitamente melhor integrado ao seu meio do que o sujeito urbano, que vive em meio à fumaças e foguetes. Talvez por isso seja ele o principal bastião e aquele onde é possível encontrar, ainda, traços de serenidade, paz e de um ritmo que não atropela o tempo, mas se estende com ele. “Tocando em frente” é um clássico da canção sertaneja, composta pelos não menos clássicos do estilo Almir Sater e Renato Teixeira, e nos traz o gosto e o aroma das “massas e das maçãs”. Lançada em 1991, é conhecida como “Ando Devagar”, pelos primeiros versos desta saga.

“Avisa Lá Que Eu Vou” (axé, 1993) – Roque Carvalho
Uma das primeiras companhias de axé do Brasil a alcançar sucesso em escala nacional, a Banda Cheiro de Amor lançou, em 1993, o seu primeiro disco ao vivo, que trazia uma infinidade de hits. Entre eles, claro, constava um dos maiores êxitos da trajetória do grupo. Intitulado por seu autor Roque Carvalho como “Nossa Gente”, a música não conseguiu resistir ao clamor popular, que rapidamente alterou sua alcunha, em razão da força de seu refrão: “Avisa lá/ Avisa lá/ Avisa lá ô ô/ Avisa lá que eu vou”. A música foi regravada por Ivete Sangalo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Olodum e segue animando carnavais e entusiasmando muitos foliões.

“Poeira” (axé, 2003) – Lourenço
Foi pela voz de Ivete Sangalo que no ano de 2003 a canção “Sorte Grande” tomou as rádios, as ruas e as televisões de todo o país. Criada por Lourenço é, certamente, até hoje o maior sucesso popular de seu autor. E, embora tenha enfileirado muitos outros êxitos no mercado fonográfico, permanece como um dos pontos altos dos shows da intérprete baiana. Nem é preciso dizer que embora toda a canção esteja afeita ao entusiasmo, é em seu refrão que se concentra o ponto alto, o que em um filme se chamaria de ápice. Apenas uma palavra define toda a sensação de êxtase e alegria ali mencionada: “Poeira”. Batismo refeito.

“Tchê tcherere tchê tchê” (pop, 2011) – Gusttavo Lima
Nascido em Presidente Olegário, no interior de Minas Gerais, o músico Gusttavo Lima alcançou sucesso em escala mundial depois de lançar, em 2011, a canção pop “Balada Boa”. Quando se tornou hit em países da Europa a música já era conhecida por seu refrão onomatopeico, até pela questão do idioma, que se tornou definitiva em relação ao próprio batismo. “Tchê tcherere tchê tchê” é, ainda hoje, o som que as pessoas emitem quando querem aludir a esta canção. Com uma auto-referência feita pelo autor em sua letra, a música chegou a ser usada na rádio para comemorar os gols de uma agremiação esportiva em Belo Horizonte.

Apelidos de músicas brasileiras

Raphael Vidigal

Fotos: Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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