*por Raphael Vidigal
“Você vale ouro, todo o meu tesouro,
Tão formosa da cabeça aos pés,
Vou lhe amando, lhe adorando,
Digo mais uma vez,
Agradeço a Deus por que lhe fez…” Jorge Aragão, Almir Guineto & Luiz Carlos
Beth Carvalho é, definitivamente, a voz dos sambas animados. Ou, ao menos, a que mais se identifica com o gênero assimilado como pagode, o que originalmente referia-se às rodas de samba e ao encontro de vários músicos em clima descontraído, com muitas bebidas e tira-gostos. Contribuiu para tanto a ligação da intérprete com o morro do Cacique de Ramos, donde foi pescar pérolas de Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Beto Sem Braço, Xande de Pilares e outros, em história mais do que conhecida e repisada pelo clamor nacional. É certo que esse pagode tomou o lugar destinado, em tempos idos, às marchinhas, com suas canções rítmicas, entusiasmadas, de letras simples a versar sobre os costumes, daí entende-se a força de seu apelo popular. Beth Carvalho representa, nos dias atuais, o que representaram Marlene e Emilinha. Voz das camadas populares a se estender democraticamente com sua música.
Até ser consagrada como madrinha do samba de terreiro, porém, Beth provou e comprovou sua versatilidade, não apenas esbanjando o talento de instrumentista ao empunhar o cavaco, mas, sobretudo, por aquilo que diferencia intérpretes de cantoras. Beth conhece os meandros das canções, o que lhe permite escolher repertório que a deixe à vontade no controle técnico para que a emoção, principal motor artístico, alcance todo o potencial devido. Por isso ela canta Cartola, por isso ela canta – dizem alguns, como ninguém – Nelson Cavaquinho, e também canta “Andança”, do trio Edmundo Souto, Danilo Caymmi e Paulinho Tapajós, música que lhe valeu o primeiro flerte com a aclamação popular, e tantos outros compositores que, embora engendrados no samba pelo domínio desta dicção, e que Beth imprime, soam preponderantemente como canções que nos falam e, acima de tudo, contagiam.
Fotos: Divulgação e Arquivo.