“… palavras agrupam-se de súbito como para uma
procissão ou dança sem pedir-me ordem ou conselho.” Marie Noël
Coloque um preço
Quanto vale esta palavra?
Na soma da matemática
Ou na subtração dos átomos
Quanto vale esta palavra?
O pescoço é de girafa
Nada rápida como uma alga
Quanto vale esta palavra?
Qual o peso, a largura, o tamanho?
Um prédio de Niemeyer ou a cordilheira dos Andes?
Quanto vale,
Vala,
Relva.
Toda arte,
Coma,
Destra.
Na esquerda da política
Ou na conjugação dos verbos
Esta palavra não presta.
Escolhi cada palavra escrever
Minha aspiração ser poeta
Mas pressa vida não se dá jeito
A não ser pela desconstrução anatômica.
Um encantamento fugidio
E cáustico
No campo magnético
Do intocável
Convencimento
Convenci-me de que sou poeta
Quando comecei a solver rimas pobres
E adotei meu ar
Arrogante-esnobe
o som é para todos
o sentido
apenas a fresta
Ensino médio
A poesia precisa ser simplificada.
Precisa de tônica, vodca,
E de palmada.
A poesia precisa ser compreendida.
Precisa de fônica, cinta,
E de pomada.
A poesia precisa servir para o mercado de trabalho.
Precisa de lentes de aumento, salário,
E de palmilha.
A poesia precisa entender o poeta
Esse sujeito abscesso, falido,
De palmas dadas
Caminham os dois
(não há acordo)
em desatino,
e desalento.
Poemas de Raphael Vidigal.
Ilustrações, feitas especialmente para essa coluna, por Cristiano Bistene.