80 anos de Aretha Franklin: declaração de amor em forma de oração

*por Raphael Vidigal Aroeira

“Vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração, eu sigo.” Caio Fernando Abreu

Composta por Burt Bacharach e Hal David, “I Say a Little Prayer” foi lançada por Dionne Warwick, em 1967, e rapidamente escalou o topo das paradas de sucesso nos Estados Unidos, sempre um holofote aceso para o mundo. Ironicamente, essa canção cinquentenária é hoje muito mais associada a outro nome do que a qualquer um desses citados: Aretha Franklin, nascida há oitenta anos em Memphis, que morreu vítima de um câncer no pâncreas em agosto de 2018, depois de batalhar bravamente por quase uma década, sem abandonar os palcos, apresentando-se pela última vez em uma homenagem a Elton John.

“I Say a Little Prayer” é um caso raro justamente porque já era sucesso quando Aretha decidiu regravá-la, sem sequer dar tempo aos fãs para respirarem, logo no ano seguinte, em 1968, consagrando-a definitivamente. Cabe dizer que Burt Bacharach e Hal David já eram compositores tarimbados e Dionne Warwick não devia nada a nenhuma cantora, nem a Aretha Franklin. Acontece que a música alcançou uma simbiose com a intérprete poucas vezes vista na história da música, que, afinal, é cheia desses mistérios que escapam à análise fria. Filha de um pastor da Igreja Batista com uma cantora e pianista, Aretha agregou essas duas características à sua obra, sobressaindo-se na música gospel. No início da carreira, ela cantou soul e R&B, os dois ritmos fundadores.

Afinal de contas, “soul” quer dizer alma, enquanto o R&B, ou “ritmo e blues”, está na raiz da música negra que legou ao mundo contribuições inestimáveis como o jazz, que ainda hoje é considerado, por muitos especialistas, a mais importante manifestação sonora do século XX. Fato é que Aretha Franklin entregou a “I Say a Little Prayer” uma interpretação que realçou as nuances da letra e incendiou a sua já comovente parte melódica, baseada em compassos que se repetem como numa oração. Pois é disso que se trata a letra, uma declaração de amor em forma de prece. Unindo essas qualidades nas quais era craque, ou seja, falar de amor com ares fervorosos, Aretha Franklin transformou “I Say a Little Prayer” em um clássico imediato. Sucesso ela já era.

Matéria publicada originalmente no portal da Rádio Itatiaia, em 2022.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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