10 músicas irresistíveis com Chico César, autor de ‘Deus Me Proteja’

*por Raphael Vidigal e Ana Clara Fonseca

“que somente ela é capaz
de acender-se estando fria,
de incendiar-se com nada,
de incendiar-se sozinha.” João Cabral de Melo Neto

A cantoria da advogada paraibana Juliette no Big Brother Brasil 21 levou o conterrâneo Chico César ao topo das paradas de sucesso. Tudo porque a participante da atração começou a cantar com frequência “Deus Me Proteja”, uma delicada cantiga de Chico César, lançada originalmente em 2008, no álbum “Francisco, Forró Y Frevo”, em gravação que contou com a participação mais do que especial do sanfoneiro Dominguinhos (1942-2013). Ao fim da faixa, o próprio Dominguinhos elogia com entusiasmo essa música composta por Chico César.

A presença na “casa mais vigiada do Brasil”, como costuma dizer o apresentador Tiago Leifert, revelou a todo o país a singeleza de versos e da melodia que passaram despercebidos do grande público em um primeiro momento: “Deus me proteja de mim/ E da maldade de gente boa/ Da bondade da pessoa ruim/ Deus me governe e guarde/ Ilumine e zele assim”. O compositor paraibano aproveitou toda a repercussão para fazer um agradecimento público a Juliette nas redes sociais. Na mesma toada, relembramos essas 10 músicas irresistíveis do autor.

“Mama África” (MPB, 1995) – Chico César
Chico César conta que estava em um táxi quando melodia e letra de “Mama África” apareceram em sua cabeça e, sem estar munido de lápis, caneta, ou um gravador, começou a repeti-las insistentemente na cabeça para não esquecer, deixando inclusive de dar atenção à irmã. Natural de Catolé do Rocha, interior da Paraíba, a inspiração apareceu quando, de mudança para São Paulo, observou, em um grande mercado, diversas mães que em meio ao trabalho também tinham que se preocupar em amamentar os filhos, cuidar deles e se atentar para com todas as necessidades da prole. Daí os versos que descrevem essa realidade. No fundo a música é uma homenagem não só à figura da mãe, mas, acima de tudo, um hino à coragem da mulher brasileira, que contra todos os preconceitos e percalços traça o seu caminho com determinação e coragem.

“Mand’ela” (MPB, 1996) – Chico César e Zeca Baleiro
De forma bem humorada e espirituosa a dupla de nordestinos Chico César e Zeca Baleiro, o primeiro paraibano e o segundo maranhense, criou em 1996 uma inusitada homenagem para o líder sul-africano Nelson Mandela. Lançada pelo mineiro Maurício Tizumba, em seu álbum de estreia “África Gerais”, no qual incluiu uma citação à cidade de Sabará, a canção usa e abusa do jogo de palavras para se referir à cultura negra, além de uma impagável brincadeira com o nome do arcebispo da Igreja Anglicana, Desmond Tutu, um dos principais aliados de Nelson Mandela na luta para a implantação da paz e contra o Apartheid, o regime de discriminação racial contra negros e a favor dos brancos na África do Sul. “Mand’ela” foi posteriormente gravada por Chico César, um dos seus autores, no álbum “Cuscuz Clã”, no mesmo ano de 1996. E repetiu o êxito.

“Felicidade” (balada, 2010) – Chico César e Marcelo Jeneci
Disco de estreia do cantor e compositor paulista Marcelo Jeneci, “Feito Pra Acabar”, de 2010, congrega parcerias do anfitrião com nomes de peso da música brasileira, como Arnaldo Antunes, Luiz Tatit e Zé Miguel Wisnik. No entanto, além da faixa-título, o destaque ficou por conta de “Felicidade”, música escrita com o paraibano Chico César, que condensa, em seus últimos versos, a “fofura” desse trabalho: “Chorar, sorrir também e dançar/ Dançar na chuva quando a chuva vem”. Para ajudar no êxito da empreitada, essa balada cheia de boas energias e mensagens positivas ganhou videoclipe que já acumula 21 milhões de cliques.

“Estado de Poesia” (MPB, 2013) – Chico César
O caminho que o paraibano Chico César fez para criar o novo foi revirar os olhos à origem. Seu hiato de oito anos sem disco de inéditas acabou interrompido em 2015, com o lançamento de “Estado de Poesia”, cujo título é, justamente, o da única canção que já havia sido registrada, em 2013, por Maria Bethânia, no álbum “Carta de Amor”. “Essa música marca o encontro de dois estados: o do meu interior, subjetivo, com o geopolítico, da minha Paraíba, do Estado feito sensação e, ao mesmo tempo, máquina institucional, opressora, contra a qual a poesia serve como arma para a gente lutar, no sentido de encarar a vida pelo seu viés”, elabora o músico. A música também recebeu uma gravação ao vivo.

“Caracajus” (MPB, 2015) – Chico César
“A fruta em seus lábios/ a alma saindo pela boca/ os lábios de sua fruta calma/derramando em calda/ a polpa”. Os versos emergem de “Caracajus”, uma das canções do recente trabalho e que César elege como sua predileta. Logo, a inspiração romântica é declarada. “O nascer desse disco vem do fato de eu ter me apaixonado e casado com a (atriz) Bárbara Santos, o que me deu uma agilidade poética e me fez redescobrir e aceitar que alguns gestos são fios desencapados, não precisam estar resolvidos. A resolução é a possibilidade de faísca e curto-circuito”, filosofa Chico César, ao conservar o amor numa poesia.

“Reis do Agronegócio” (rock, 2015) – Chico César e Carlos Rennó
O agronegócio é uma das maiores atividades que é atualmente responsável pela exploração e pelo desmatamento de terras no país, essas mesmas terras que foram invadidas e colonizadas na origem do Brasil. Chico César coloca com maestria uma letra de protesto contra os grandes lobos do agronegócio, ruralistas, fazendeiros, governadores, juízes, presidente. O direito à terra é direito básico dentro de nossa Constituição, mas, na prática cotidiana, a efetivação desses direitos está cada vez mais difícil, cercada de violência, corrupção, assassinatos, o que tem gerado muitas disputas Congresso Nacional.

“Demarcação Já!” (rock, 2017) – Chico César e Carlos Rennó
Ailton Krenak, historiador e filósofo indígena, não nega a nossa cegueira em relação às questões indígenas ao afirmar que estamos em guerra. A luta pela demarcação de terras se estende por toda a história de um país formado sob assassinatos e roubos. A demarcação é direito territorial do povo indígena, é preservação da cultura e dos saberes tradicionais, é proteção do meio ambiente e valorização de nossa origem. Cantada por mais de 25 artistas, essa música feita em parceria por Chico César e Carlos Rennó, é necessária para aprendermos e refletirmos sobre os direitos de todos os povos indígenas do país.

“Suporto Perder” (frevo-rock, 2019) – Flaira Ferro e Igor de Carvalho
Flaira Ferro segura um estilhaço de vidro que reflete a sua própria imagem, enquanto olha desafiadoramente para a frente. A imagem ilustra a capa de “Virada na Jiraya”, segundo disco da cantora pernambucana. A expressão que batiza o sucessor de “Cordões Umbilicais” (2015) se popularizou como sinônimo de raiva e indignação. Os dois sentimentos perpassam as 12 faixas do álbum, com doses frequentemente elevadas. “Suporto Perder”, parceria de Flaira com Igor de Carvalho, ganhou um videoclipe caprichado, com a participação de Chico César, e denuncia o machismo tóxico. A canção é uma espécie de frevo-rock.

“Venha Logo” (forró, 2020) – Anastácia e Zeca Baleiro
Ao completar 80 anos de idade em 2020, a cantora Anastácia ganhou um tributo produzido por Zeca Baleiro. Uma das cantoras nordestinas de maior prestígio no cenário local e nacional, Anastácia foi casada com Dominguinhos, com quem compôs pérolas como “Eu Só Quero Um Xodó” e “Tenho Sede”. O forró “Venha Logo” bebe na tradição do gênero, e, como de praxe, versa sobre saudade, esse sentimento tão brasileiro e ainda mais nordestino. Composta por Zeca Baleiro e Anastácia, contou com a participação especial de Chico César na faixa do disco que ainda trouxe as participações de Roberta Miranda, Amelinha, Lenine, outros.

Foto: Marcos Hermes/Divulgação.

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Raphael Vidigal

Formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, atua como jornalista, letrista e escritor

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